Pedro do Coutto
Numa entrevista ao repórter Murilo Salviano, Fantástico de domingo, o ministro Henrique Mandetta acentuou que o país não sabe se escuta o ministro ou o presidente da República. Isso porque, enquanto o titular da Saúde recomenda o isolamento social, Jair Bolsonaro faz o contrário, vai ao encontro de populares que se aglomeram em torno dele cumprimentando-o. Esta é a primeira contradição. Mas existe a segunda.
Enquanto o ministro considera que nos meses de maio e junho a covid-19 vai atingir seu ponto máximo, o presidente da República em um encontro com evangélicos no domingo por uma live afirmou que o vírus já está indo embora.
JUNTO COM CAIADO – Um aspecto que deve ser frisado foi o fato de a entrevista de Mandetta ter sido gravada no Palácio das Esmeraldas, sede do governo e residência do governador Ronaldo Caiado, que se encontra rompido com Bolsonaro.
A respeito do encontro do presidente com religiosos, a reportagem foi assinada por Talita Fernandes, Folha de São Paulo desta segunda-feira. Já a matéria sobre a entrevista do titular da saúde foi publicada pelo O Globo e assinada por Ana Letícia Leão.
Até a noite de ontem não havia sido noticiada a contrariedade que a entrevista provavelmente causou ao presidente da República. Tampouco foi revelado qualquer movimento do ministro Mandetta a respeito do desencontro de opiniões.
EM NOME DA CIÊNCIA – Vale ressaltar que a posição de Mandetta é a posição adotada pela Organização Mundial de Saúde e enaltecida pela comunidade médica e científica. O temor da equipe do Ministério da Saúde é que, sem o isolamento bastante amplo, possa acontecer uma situação alarmante, porque os hospitais do país dificilmente teriam capacidade para atender os casos normais acrescidos dos que forem atingidos pelo coronavírus. O sistema entraria em colapso com os piores reflexos que se possa imaginar. Um deles a falta de leitos hospitalares. Esta é a questão essencial.
REFLEXO POLÍTICA – Mas o episódio de domingo vai produzir um inevitável reflexo político. As duas faces da questão são amplamente desfavoráveis ao presidente Bolsonaro. Se ele fosse demitir Mandetta, seu governo sofreria as piores consequências junto à opinião pública. Se ele não demitir, sua autoridade pessoal estará sofrendo um forte abalo.
Como se vê, na minha opinião, qualquer uma das soluções será absolutamente desfavorável ao presidente da República. E se demitir Mandetta, será desfavorável ao país.