Veja como as descobertas da neurociência podem ajudá-lo a absorver melhor os conteúdos e evitar os tão temidos “brancos”
11/07/2011 | 00:01 | Marcela Campos“Quase sempre acontece [o branco]. Na hora da prova eu esqueço as fórmulas e no caso de História, algumas datas, mesmo tendo estudado. Talvez seja pelo nervosismo. “ Geórgia Baron dos Santos, vestiba Preparação
Uma ajuda para a memória
Se o nosso cérebro fosse um computador, seria fácil. Bastaria comprar um novo HD para melhorar a capacidade de armazenamento de informações e um pente de memória para recuperar mais rápido os dados guardados. Quando precisássemos de um conteúdo, puxaríamos no arquivo e lá estaria ele, pronto e sem nenhum detalhe faltando. Como nem tudo é tão simples, nossa mente pode nos pregar algumas peças, como o famoso branco na hora da prova. A boa notícia é que dá para se preparar ao longo do ano para “turbinar” a memória e evitar os esquecimentos naquele momento crucial: a prova de vestibular.
Aluno do 2º ano do ensino médio do Colégio Expoente, Thomas Okubo, 16 anos, conhece bem o desespero provocado pelos lapsos de memória. Embora estude bastante, ele fica ansioso na hora da prova e acaba esquecendo informações importantes. “Quando acontece, eu paro, respiro e conto até dez. Acho que o branco vem porque tenho muita coisa na cabeça”, diz. Colega de Thomas, Geórgia Baron dos Santos, 16 anos, tem o mesmo problema. Se a prova é muito importante, o esquecimento vem acompanhado de frio na barriga e dor de cabeça.
Priscila Forone/Gazeta do Povo
Ampliar imagem“Quando acontece [o branco] eu paro, respiro e conto até dez. Acho que o branco vem porque tenho muita coisa na cabeça.” Thomas Okubo, vestiba.
O caso da estudante Fernanda Holanda Arabi, 20 anos, aluna do Curso Positivo, é ainda mais sério. No último vestibular da Universidade Federal do Paraná (UFPR), ela ficou tão nervosa que teve aumento de pressão e sangramento no nariz. Resultado: fez a prova no ambulatório. “Como eu quero Medicina, vou muito bem em Química e Biologia. E foi bem na parte de Química que me deu branco. Quando acabou a prova, eu fui me acalmando e me lembrando aos poucos do que poderia ter feito”, conta. “Eu sou muito ansiosa e isso atrapalha na hora de acessar a memória”, afirma.
A explicação da estudante está correta, explica a psicopedagoga e neurocientista Nanci Azevedo, autora do livro Turbine seu cérebro – contribuições da neurociência para passar em concursos (Editora Método). Segundo ela, o esquecimento é consequência de outros problemas, como a ansiedade e o estresse. Nanci explica que o processo de memorização ocorre em três etapas: primeiro o cérebro faz o registro da informação, depois ocorre a fixação e por fim há o resgate do conteúdo.
Os três momentos precisam acontecer de forma adequada. “A atenção e a concentração são fatores primordiais para o registro adequado. Outro fator envolvido nessa etapa é a motivação. Quando você gosta de algo, guarda mais fácil. Já a fixação precisa da repetição e da emoção. O estudante deve encarar o aprendizado como oportunidade e não obrigação”, afirma.
Na hora de resgatar a informação o estresse interfere negativamente, explica a professora Josiane Knaut, do curso de Psicologia da Universidade Positivo (UP). “Quando estamos em situação de alto estresse, liberamos o hormônio cortisol. Ele dificulta o envio de glicose para o hipocampo, uma região do cérebro importante para a memória. É como se o cérebro ficasse sem combustível”, afirma. Se o suprimento de combustível para o cérebro cai, o estudante tem dificuldade para se concentrar ou recordar informações.
De acordo com a vice-coordenadora do Departamento de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia, Sônia Brucki, sono ruim, má alimentação, depressão e consumo de álcool também provocam falhas na memória. Por outro lado, existem diversas dicas para deixar a mente tinindo. Confira a seguir as recomendações das três pesquisadoras ouvidas pelo Vestibular da Gazeta do Povo:
Encontre tempo para as atividades físicas
Em ano de vestibular, não adianta só malhar o cérebro. Os exercícios físicos, principalmente aeróbicos (como corrida e bicicleta), aumentam o fluxo sanguíneo e a oxigenação do cérebro, favorecendo a capacidade de memorização. “A USP fez uma pesquisa. Idosos com comprometimento de memória passaram a fazer 40 minutos de bicicleta, pelo menos três vezes por semana, e a capacidade de memorização melhorou muito”, afirma a neurocientista Nanci Azevedo Cavaco. Quem acha que não tem tempo pode fazer cinco minutos de polichinelos antes de entrar no banho, sugere Nanci.
Faça associações visuais para gravar o conteúdo
Se você precisa memorizar uma fórmula de Física ou Matemática, procure visualizá-la mentalmente em tamanho grande e cor vermelha, por exemplo. Quanto mais informações visuais, melhor. “O cérebro guarda a imagem como algo real. O simples fato de visualizar provoca reações no organismo. Imagine um limão bem verde e azedo. Pense que você está chupando esse limão. Você não salivou?”, questiona Nanci.
Use técnicas diferentes de estudo
Utilizar várias vias sensoriais também ajuda a reter informações. Tem gente que compreende melhor o conteúdo quando o escuta, outros são mais visuais. Mesmo assim, é sempre importante diversificar. “Quando você lê em voz alta, tem o visual e o auditivo. Se, além disso, fizer um resumo, terá mais uma via que te auxiliará”, afirma a neurologista Sônia Brucki. Outra sugestão é aliar estudo da teoria e resolução de exercícios. Segundo Nanci, a dica é importante porque, quanto mais repetições, mais facilidade o estudante terá para guardar uma informação. Ela explica que há capacidade de sobra no nosso cérebro. “Até os 70 anos de idade, a nossa capacidade de retenção de memória equivale a 20 milhões de livros de 500 páginas”, diz.
Tenha boas noites de sono para o dia render mais
Quem dorme mal terá dificuldade de atenção e concentração no dia seguinte, o que atrapalha a primeira etapa do processo de memorização, o registro das informações. Além disso, estudos mostram que durante o sono acontece a consolidação das memórias. A quantidade ideal varia de pessoa para pessoa. A dica é descobrir o que faz bem para o seu ritmo.
Escolha alimentos ricos em vitaminas e Ômega 3
Há substâncias favoráveis ao cérebro, entre elas o Ômega 3, presente nos peixes e na linhaça. Ele combate os radicais livres, que são oxidantes. “Podemos comparar o cérebro a uma máquina que pode ter a oxidação das suas peças. Com o tempo você precisa colocar óleo para lubrificá-las”, afirma Nanci. Outros alimentos que combatem a oxidação são aqueles com vitamina A, C e betacaroteno, presentes no morango, no tomate e na beterraba. O ácido fólico também é um amigo e pode ser encontrado em folhas escuras. Já o ovo é rico em colina, base para a produção da acetilcolina, substância que ajuda na fixação da memória. “Pelo menos duas vezes por semana o estudante pode comer um ovo completo, com gema e clara”, afirma a neurocientista Nanci. É importante ainda beber água, que ajuda a hidratar as células cerebrais.
Fonte: Gazeta do Povo