Empresa de senador leva R$ 57 milhões da Petrobras sem licitação
Uma empresa do senador e ex-ministro Eunício Oliveira (PMDB-CE), a Manchester Serviços Ltda., assinou sem licitação contratos que somam R$ 57 milhões com a Petrobrás para atuar na Bacia de Campos, região de exploração do pré-sal no Rio de Janeiro. Documentos da estatal mostram que foram feitos, entre fevereiro de 2010 e junho de 2011, oito contratos consecutivos com a Manchester.
Os prazos de cada um dos contratos são curtos, de dois a três meses de duração, e tudo por meio de "dispensa de licitação", ou seja, sem necessidade de concorrência pública. Eleito senador em outubro, Eunício é presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais importante da Casa.
Cerca de R$ 25 milhões foram repassados pela Petrobrás à Manchester em 2010, ano de eleições. A nove dias do segundo turno presidencial, por exemplo, Petrobrás e Manchester fecharam um novo contrato - via "dispensa de licitação" e pelo prazo de 90 dias - no valor de R$ 8,7 milhões. Desde então, já no governo de Dilma Rousseff, novos contratos foram celebrados sem concorrência pública com a empresa do senador, entre eles um de R$ 21,9 milhões (de número 4600329188) para serviços entre abril e junho deste ano.
Contratos são legais e não têm influência de Eunício, diz sócio
Procurado pelo Estado, o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) não quis comentar as relações da Manchester Serviços Ltda. com a Petrobrás. Ele alegou que está afastado da administração e pediu à reportagem que conversasse com seu sócio na empresa, Nelson Ribeiro Neves.
O sócio de Eunício afirmou que o fato de um senador e dirigente do PMDB ser sócio da empresa não influencia nos contratos com a Petrobrás. "O senador é sócio, tem cotas, mas não participa da empresa", afirmou. Neves disse que não há qualquer "ilegalidade" nas relações entre a Manchester e a estatal. "Tudo foi feito dentro da lei."
Neves argumentou que os contratos de 2010 e 2011 são fruto de "continuidade" de serviços fechados há anos, via licitações. "A dispensa de licitação é prorrogação", afirmou.
A versão do empresário contradiz a da Petrobrás. A estatal nega ter havido prorrogação e diz que recorreu à Manchester para fazer novos contratos enquanto não se conclui o processo licitatório.
Estatal alega atraso em concorrência pública
Por meio de sua assessoria, a Petrobrás informou que recorreu à Manchester Serviços Ltda. porque era um "caso de emergência", pois o processo licitatório referente aos serviços prestados por ela ainda não foi concluído.
A Petrobrás alegou que, também por esse motivo, os prazos dos contratos com a empresa do senador Eunício Oliveira têm sido curtos. "Os contratos têm prazos curtos porque estimava-se concluir a nova licitação em curto espaço de tempo, o que não ocorreu. Os valores variam de acordo com o prazo", disse.
Manchester pôs R$ 400 mil na campanha de Eunício
A Manchester Serviços Ltda., que tem o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) como sócio, doou oficialmente R$ 400 mil para a campanha dele ao Senado em 2010, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Foram R$ 200 mil por meio de um cheque, no dia 2 de setembro, e R$ 200 mil, em dinheiro vivo, 20 dias depois. Naquele período, vigorava um contrato de 43 dias - entre 13 de agosto e 24 de setembro - no valor de R$ 4,3 milhões da empresa com a Petrobrás.
Mais uma vez, o contrato foi assinado por meio de "dispensa de licitação", segundo documentos da própria estatal. O contrato tem o número "4600315823".
Na estreia, Ideli afasta risco de ser a nova 'garçonete'
Nomeada há pouco mais de 15 dias, a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) passou no teste da coordenação política do governo, segundo avaliação de parlamentares da base aliada. Do início da semana até quinta-feira, ela foi testada à exaustão e se saiu bem no primeiro e difícil teste.
Correndo do Planalto ao Congresso, de lá para o Ministério da Fazenda e batendo várias vezes à porta da presidente Dilma Rousseff, ela conseguiu evitar a fama de "garçonete", como ocorreu com seu antecessor, Luiz Sérgio, que era conhecido como "garçom", por apenas anotar os pedidos dos aliados.
De acordo com informações de auxiliares da presidente, Dilma não queria prorrogar o prazo de pagamento das emendas parlamentares de 2009, que vencia no dia 30 de junho. Primeiro, porque considerava que dar mais tempo para a liberação de R$ 4,5 bilhões, quando o objetivo é economizar R$ 50 bilhões, seria um ataque ao ajuste fiscal. Segundo, porque ainda entende a pressão do Congresso como uma chantagem.
Novo tipo de licitação dificulta controle, dizem críticos
Um modelo de licitação - inédito no Brasil - incluído no Regime Diferenciado de Contratações (RDC) para as obras da Copa e da Olimpíada, aprovado semana passada na Câmara, permitirá ao governo delegar às empreiteiras todas as suas etapas, do projeto básico à conclusão dos empreendimentos. Na "contratação integrada", como é chamada, o governo fornece apenas um anteprojeto, em que dá as linhas gerais de seus objetivos com a obra. Especialistas ouvidos pelo Estado criticam o modelo, por retirar do poder público um importante mecanismo de controle do cumprimento dos contratos.
"A contratação integrada é praticamente uma não licitação", diz Pedro Serrano, professor de direito administrativo da PUC. "Com o projeto básico nas mãos, o governo podia verificar se a obra foi realizada de forma adequada. A contratação integrada é deixar o lobo tomando conta das galinhas."
''O arcabouço da democracia está montado. A alma, não''
Horas depois da homenagem que recebeu do PSDB em Brasília na quinta-feira pela celebração de seus 80 anos, o ex-presidente recebeu o Estado em seu apartamento na capital paulista, em Higienópolis. O cansaço não encobria a felicidade evidente. Desabrido, pregou o fim da tensão com o PT - "é importante para a democracia" - e fez uma análise sobre a atual conjuntura, com a sensatez de sociólogo e a maturidade de ex-presidente. Sobre seu governo, enumera com orgulho os avanços que conquistou - e também os reconhece na Era Lula. A preocupação, hoje, é com a solidez da democracia. "O esqueleto está aí", diz. Mas ainda temos um longo caminho a percorrer.
''Se não domesticar, a angústia da morte te paralisa''
"Não tem solução. A angústia é parte da condição humana", constata Fernando Henrique, que após oito décadas de existência exibe a serenidade dos que driblam os conflitos da existência e convivem com a morte. Só na semana passada, lembra ele, dois amigos se foram: o ex-ministro Paulo Renato Souza e Juarez Brandão Lopes. "Sem falar outras mortes na família, a da Ruth."
"Você tem que dar sentido à vida. Ela não tem sentido em si. E cada um vai ter que dar o seu sentido à vida. E vai sofrer para encontrar. E vai ter que funcionar sempre um pouco como os existencialistas pensavam sobre a angústia da morte. Você tem que, ao mesmo tempo, domesticar essa angústia da morte, porque senão ela te paralisa", diz, encarnando a emoção que se mistura com a racionalidade do sociólogo.
Morre o ex-presidente Itamar Franco, fiador da estabilidade
O senador Itamar Franco (PPS), presidente da República de 1992 a 1994, morreu ontem de manhã, aos 81 anos, em São Paulo, vítima de leucemia. Ele estava internado no Hospital Israelita Albert Einstein desde o dia 21 de maio e permanecia licenciado de suas atividades no Senado. Nos últimos dias, o senador apresentou um quadro de pneumonia grave e foi transferido para a UTI. Nas últimas horas de vida, foi vítima de um acidente vascular cerebral (AVC) e entrou em coma. Segundo o hospital, Itamar morreu por volta das 10h15 da manhã.
O corpo será transportado de São Paulo para Juiz de Fora (MG) hoje por um avião da Força Área Brasileira (FAB) e velado na Câmara Municipal. Posteriormente, seguirá para o Palácio da Liberdade, histórica sede do governo mineiro até o ano passado, em Belo Horizonte, onde será cremado amanhã. As cinzas serão levadas para Juiz de Fora e colocadas no túmulo da mãe do ex-presidente. A Presidência da República decretou luto oficial por sete dias.
Folha de S. Paulo
Dívida externa do país aumenta 43% desde fim da crise
Passado o impacto mais agudo da crise internacional, a recuperação da economia brasileira provocou um efeito colateral ainda pouco comentado e compreendido: a alta mais acelerada da dívida externa desde o Plano Real.
Ou, mais exatamente, desde que, em 1994, às vésperas do lançamento da atual moeda, foi fechado o acordo com os credores para normalizar os pagamentos e reabrir o mercado global de crédito para o governo brasileiro e para as empresas do país. Do final do ano retrasado para cá, a dívida externa conjunta de empresas, administrações públicas e famílias cresceu 43%. A taxa supera a expansão ao longo dos 15 anos anteriores, de 34%.
Ministro afasta cúpula dos Transportes
Uma série de denúncias envolvendo o Ministério dos Transportes obrigou o ministro Alfredo Nascimento (PR) a afastar a cúpula do órgão.
Segundo reportagem da revista "Veja" desta semana, representantes do PR, funcionários do ministério e de órgãos vinculados à pasta montaram um esquema de superfaturamento de obras e recebimento de propina por empreiteiras e consultorias.
O ministro só tomou a decisão de afastar os servidores depois de conversar por telefone com a presidente Dilma. A Folha apurou que ela não descarta trocar o próprio Nascimento. Por isso, chamou-o para uma reunião.
Justiça quer regime próprio de Previdência
O governo ainda não conseguiu aprovar a reforma da Previdência do funcionalismo público nem na primeira comissão do Congresso Nacional e já enfrenta uma resistência importante: o Judiciário não aceita entrar na vala comum dos servidores.
O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) está concluindo uma proposta, que será levada ao Executivo, pedindo a criação de Previdência específica para os magistrados e funcionários do Judiciário.
Dilma viajou metade do tempo de Lula nos primeiros 6 meses
Nos primeiros seis primeiros meses de seu governo, a presidente Dilma viajou quase a metade do tempo na comparação com seu antecessor no primeiro mandato (2003-2006). Enquanto Dilma passou 38 dias fora de Brasília, Lula esteve 72 dias em deslocamentos. Em outros seis dias, fora da relação oficial, Dilma viajou para descansar. O levantamento foi feito com base em dados da Presidência da República. Criticada por conta de uma agenda pública restrita, a petista também viajou menos que Lula no início da segunda gestão (2007-2010) e Fernando Henrique Cardoso no mesmo período dos dois mandatos (1995-2002). Os números revelam ainda o estilo "bate-volta" de Dilma. Em 20 compromissos, ela voltou no mesmo dia. Desde que assumiu, a viagem mais longa foi a de nove dias pela China.
Dilma estende rigor à imagem do governo
Há duas semanas, a presidente Dilma Rousseff, diante da notícia de que estava rompida com o presidente da Câmara, Marco Maia, surgiu no Palácio do Planalto de braço dado com o deputado, foi aos repórteres e ironizou: "Nós, os brigados". Saiu sem dar chance para perguntas.
Ao fechar seis meses no poder, ela é vista por jornalistas como "control freak", obcecada pelo controle da mensagem que sai do governo. Embora tenha dado até mais entrevistas que Lula, no início de seu primeiro governo, só fala com alvo certo -como fez ao defender a política econômica, no "Valor", quando a inflação assustou. No Planalto, o rigor é sentido em toda parte. As solenidades se tornaram mais formais, sem vaivém de assessores, e seguranças passaram a abordar repórteres que conversam com fontes nos corredores e elevadores.
Presidente Itamar Franco morre aos 81
Morreu ontem em São Paulo o presidente Itamar Franco, que chegou ao poder depois da renúncia do ex-presidente Fernando Collor e governou o país de 1992 a 1994. Ele tinha 81 anos. Itamar estava internado no hospital Israelita Albert Einstein desde 21 de maio, quando os médicos descobriram que tinha leucemia. Seu estado de saúde deteriorou-se rapidamente e agravou-se na semana passada. Segundo o hospital, o presidente morreu às 10h15 de ontem, após sofrer um acidente vascular cerebral. A leucemia foi descoberta durante exames realizados depois que ele procurou seu médico com uma forte gripe. O corpo será transferido hoje cedo para ser velado em Juiz de Fora (MG), cidade onde Itamar iniciou a carreira política nos anos 50.
Volta do Fusca foi símbolo de era populista
O governo Itamar Franco abriu caminho para o mais bem sucedido plano de estabilização econômica da história do país, o Plano Real, mas o presidente também celebrizou-se pelo estilo populista e por propostas econômicas antiquadas. Em 1993, ele convenceu a Autolatina -empresa que reunia os negócios da Ford e da Volkswagen no país- a voltar a fabricar o Fusca. Fora de linha desde 1986 e incompatível com as modernas linhas de montagem, o carro símbolo da era Itamar foi produzido até 1996. Uma cruzada contra a indústria farmacêutica, com o objetivo de controlar os preços dos remédios, foi considerada na época uma medida economicamente ineficaz em busca de popularidade entre os aposentados.
Homem discreto, aceitou o que tinha de ser feito com alma travada
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Acabo de saber da morte de Itamar. Recordo vivamente a última vez que o vi, no almoço oferecido ao presidente Barack Obama, em março. Encontrei-o jovial, brincalhão, parecendo feliz. Recordei-me imediatamente do Itamar meu colega no Senado. Nossas relações na época eram superficiais, mas cordiais e sempre alegres. Quando fui líder do PMDB, no fim dos anos 80, ele era um liderado rebelde, sem perder as boas maneiras. Uma vez ficamos até altas horas da noite para aprovar um aumento do ICMS, a que Itamar se opunha. Ele obstruía com afinco invejável e tiradas e apartes oportunos, não necessariamente ligados ao tema em debate. No meio tempo, eu e ele brincávamos um com o outro, enquanto na tribuna os argumentos eram severos. Assim foi Itamar a vida inteira: persistente em seus objetivos, sempre civilizado, discreto, vivaz e, se necessário, contundente.
Falta de reconhecimento foi motivo de mágoa até o fim
O presidente Itamar Franco levou para o túmulo uma mágoa. Resumiu-a em diálogo com um amigo mineiro: "Quando morrer, talvez me façam justiça". Ex-auxiliar de Itamar na Presidência, o amigo tocara o telefone para o hospital, no início de junho, com o propósito de animá-lo. Tirou-o do sério ao injetar na conversa uma menção às homenagens que o PSDB organizava para marcar os 80 anos de FHC. "Se não fosse por mim, o Fernando Henrique seria hoje um professor universitário", reagiu. "Já fiz 80. Quem se lembrou?" Itamar fez aniversário dez dias depois de FHC. Completou 81 anos em 28 de junho. Na véspera, fora transferido para a UTI. Morreu sem curar os ciúmes que nutria pelo seu ministro da Fazenda que ajudou-o a transformar-se no improvável que deu certo. Tão certo que desceu ao verbete da enciclopédia como primeiro presidente civil a eleger o sucessor desde Arthur Bernardes. Itamar queixava-se de não ser reconhecido como alguém que fez o sucessor. Pior: era como se FHC tivesse feito o antecessor, salvando-o do desastre.
Mineiro abriu caminho para o sucesso do Plano Real
O presidente Itamar Franco despontou da Prefeitura de Juiz de Fora (MG) para o cenário político nacional em 1974, quando foi eleito senador pelo MDB. Naquele ano, o partido beneficiou-se da insatisfação com o regime militar e recebeu uma enxurrada de votos em todo o país. Reeleito senador em 1982 pelo PMDB, Itamar tentaria o governo mineiro em 1986, pelo Partido Liberal. Foi derrotado por Newton Cardoso, do PMDB, partido que naquele ano obteve sua maior vitória, na onda do popular Plano Cruzado. Em 1989, Itamar entrou na chapa de Fernando Collor como candidato a vice. Já durante a campanha, desentendeu-se com a equipe e ameaçou renunciar à candidatura. Com a vitória, foi isolado do centro de decisões e tornou-se um crítico do governo. O rompimento se consumou em abril de 1992, quando uma reforma ministerial alçou ao primeiro escalão políticos ligados ao regime militar. Contrariado, Itamar se desligou do PRN em março. Àquela altura, denúncias de corrupção já abalavam o mandato de Collor. Itamar atuou discretamente em busca de uma saída constitucional que o levasse a assumir a Presidência.
Governador do Rio infla PSD para ampliar base
Reeleito com o apoio de uma coalizão de 16 partidos, o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), pretende esvaziar ainda mais a oposição no Estado com a ajuda do PSD, que está sendo organizado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. O governo Cabral está incentivando deputados do PR do ex-governador do Rio Anthony Garotinho a engrossarem as fileiras do PSD, que vai aderir à base governista. Quando a criação do PSD for formalizada, 8 dos 9 deputados do PR devem migrar para o novo partido, restando apenas a filha do Garotinho, Clarissa, na oposição. O PSD abrigará ainda a única deputada do DEM, Graça Pereira. Com isso, se tornará a 3ª maior bancada da Assembleia Legislativa, atrás de PMDB (12 deputados) e PDT (11), e à frente do PT (6), hoje o principal parceiro na coalizão de Cabral. A adesão elevaria a bancada governista na Assembleia dos atuais 49 para 58 deputados, de um total de 70.
Casino sabia de interesse no Carrefour, diz Abilio
"Nunca proporia ao BNDES entrar em um negócio meu. Segundo o mercado, será o melhor negócio [mais lucrativo] que o BNDES já fez", disse ontem à Folha o empresário Abilio Diniz, em relação à entrada do BNDESPar na fusão do Pão de Açúcar com Carrefour. Sobre o aparente recuo do governo à proposta, afirma que "é claro que o BNDES quer que os sócios se acertem. Ainda bem que se manifestou [nesse sentido]."
Diniz afirmou que desde 2010 Jean-Charles Naouri, controlador e presidente do Casino, sabia de seu interesse no Carrefour. O sócio francês no Pão de Açúcar, segundo Abílio, achava que Carrefour ia mal e "queria comprar muito barato, quando já estivesse aos pedaços, como fez agora [ao adquirir] o Carrefour em país da Ásia. Se eu for esperar isso, talvez não consiga ver [a compra realizada]".
Correio Braziliense
Senado resiste a acabar com supersalários
A Diretoria-Geral do Senado e outros setores corporativistas da Casa, como a Consultoria Legislativa, colocaram em prática uma estratégia para derrubar a reforma administrativa, que pretende enxugar as despesas em cerca de R$ 115 milhões por ano. A resistência aos cortes dos salários pagos hoje acima do teto do funcionalismo público, que está em R$ 26.713, e o lobby pela manutenção do valor das gratificações das funções comissionadas foram manifestados por meio de quatro emendas do senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) e de um voto em separado, apresentado na última hora pelo senador Benedito de Lira (PP-AL). As propostas foram elaboradas pela cúpula administrativa e jurídica do Senado interessada na manutenção das benesses.
A Subcomissão Temporária da Reforma Administrativa votaria o relatório do senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) na última quarta-feira, mas a apresentação do voto em separado de 200 páginas, que reúne as quatro emendas, adiou a votação. Se o substitutivo de Ferraço for rejeitado, o voto em separado que assegura o valor de centenas de gratificações poderá ser colocado em votação.
A dignidade está de luto
Baixada em sinal de luto por sete dias, a bandeira nacional descansa em respeito à morte do senador e ex-presidente da República Itamar Franco (PPS-MG). O político faleceu ontem, às 10h15, em São Paulo, aos 81 anos, depois de 43 dias internado para tratar de uma leucemia. Responsável pela estabilização da economia, ele será velado hoje, em Juiz de Fora (MG), na Câmara Municipal, e amanhã em Belo Horizonte, no Palácio da Liberdade, sede do governo de Minas Gerais. A presidente Dilma Rousseff participa do velório na capital mineira. A previsão é que o corpo deixe o hospital Albert Einstein às 7h30 de hoje e siga para o aeroporto.
Itamar vinha respondendo bem ao tratamento, iniciado em 21 de maio, contra o tumor. O exame de medula óssea mostrou que não havia mais células cancerígenas no sangue. Mas a pneumonia aguda devido a um quadro de baixa imunidade deixou o senador bastante debilitado. Durante a sexta-feira, Itamar respirava com a ajuda de aparelhos. Na madrugada de sábado, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), que o deixou em coma.
Despedida em casa
A proposta para fazer o velório no Palácio do Planalto com todas as honrarias de um chefe de Estado, com direito à desfile do caixão em carro aberto e a salvas de canhões, foi descartada pelo senador e ex-presidente Itamar Franco antes de morrer. A presidente Dilma Rousseff fez a oferta aos familiares do político, que recusaram prontamente para atender a um pedido do homem simples e discreto. A família mandou agradecer a gentileza da presidente. Preferiu fazer valer um pedido que Itamar havia feito à sua secretária particular: queria ser cremado e velado na Câmara Municipal de Juiz de Fora (MG).
Quando morreu, Itamar Franco tinha ao seu lado apenas quatro pessoas: suas duas filhas, Georgina e Fabiana, e dois assessores pessoais: a secretária Neuza Mitterhoff que trabalha para ele há 40 anos, e o coronel Mário Peluso, assessor particular. O ex-presidente começou a passar mal na noite de sexta-feira, quando ficou inconsciente. Teve o seu estado de saúde agravado ao amanhecer, os médicos perderam as esperanças uma hora antes do óbito oficial.
Muito mais que um topete
O topete em Itamar não era só adorno. Era uma forma de exteriorizar o estilo do ex-presidente da República, audacioso para uns, arrogante para outros, singular para todos. O que dizer de um governador que manda tropas da Polícia Militar (PM) ao confronto com as do Exército para a porteira da fazenda da família do presidente da República? Ou que usa citações em latim para explicar o pragmático dia a dia da política? Da preferência por terno azul marinho à persistência em reeditar o velho Fusca, o jeito Itamar de ser irritou adversários que, repetidas vezes, o chamaram de ciclotímico, alguém com instabilidade persistente de humor. Para os amigos e eleitores fiéis, as atitudes revelavam um homem firme em suas convicções e disposto a brigar com todas as armas por elas.
A relação mais ruidosa com um dos mais importantes personagens da República sintetiza a marca de Itamar: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que passou de apadrinhado a inimigo e, novamente, a aliado. Os tapas e beijos trocados por eles foram interpretados como reflexo de uma situação que não foi criada por nenhum dos dois: a opinião pública sempre enxergou no tucano o verdadeiro pai do plano real, apesar de o programa ter sido arquitetado por muitas mãos. Até porque o próprio Itamar, ao enxergar ali a melhor bandeira para eleger seu sucessor, deu todos os créditos à FHC durante a campanha eleitoral. Depois, mordeu a língua.
Reconhecimento dos Três Poderes
Autoridades dos Três Poderes da República são unânimes ao reconhecer que Itamar Franco é um personagem que ficará marcado na história brasileira como homem público que tornou o Brasil mais democrático e forte economicamente. Políticos e juristas ouvidos pelo Correio ressaltam que o ex-presidente da República jamais se viu envolvido em escândalo de corrupção. O vice-presidente da República, Michel Temer, classificou Itamar de inovador. "Por sua obra inatacável, Itamar Franco merece o respeito e o agradecimento de todos os brasileiros, do povo mineiro e de sua cidade tão reverenciada, Juiz de Fora."
Para o senador Aécio Neves (PSDB-MG), a morte de Itamar é uma perda profunda para Minas Gerais e para o Brasil. "Nunca foi omisso e, no exercício da Presidência e do governo, honrou as melhores tradições de Minas sendo implacável na defesa do interesse público."
O presidente que derrubou a inflação
Se o Brasil vive hoje um momento de estabilidade econômica, com índices positivos em geração de empregos e poucas oscilações nos indicadores econômicos, há pouco menos de 20 anos a situação era bem diferente. Problemas como descontrole inflacionário, rombos fiscais, parque industrial defasado e sucateado, altos índices de desemprego e a especulação desenfreada se acumularam ao longo dos governos anteriores, com sucessivos fracassos nos anos 1980, período conhecido na história brasileira como "a década perdida". Era esse cenário —uma lembrança distante e pouco conhecida para os mais jovens — que aguardava Itamar Franco ao assumir a Presidência da República, em 1992.
O primeiro passo para as mudanças no rumo da economia, apontado por muitos especialistas como divisor de águas para o desenvolvimento do Brasil, foi dado durante o governo do mineiro, com a implantação, em 1994, do Plano Real.
Sem formalidades em Brasília
Nos últimos meses, o senador Itamar Franco (PPS-MG) saía pouco de casa, onde ficava vendo televisão, principalmente partidas de futebol, ou lendo. Poucas vezes deixava seu apartamento, na 109 Sul para passear em shoppings da cidade. Isso ocorreu logo nos primeiros dias de mandato, quando foi a uma loja comprar uma televisão, como contou em uma entrevista ao Correio, em fevereiro passado. Mas sua relação com Brasília sempre foi mais intensa, inclusive quando exerceu a Presidência da República, a ponto de andar sem seguranças e dirigindo seu próprio carro pelas ruas da cidade.
"Ele tinha afinidades com Brasília desde que foi senador pela primeira vez (1982-1990). Ele conhecia muito a cidade", relata o senador Pedro Simon (PMDB-RS), que foi líder do governo no Congresso, quando Itamar ocupou o Palácio do Planalto. "Já na Presidência da República existia muita cobrança e ele não podia passear muito", acrescenta Simon, na época um dos políticos mais próximos de Itamar. A amizade dos dois nasceu ainda na década de 1970. Depois de vários anos, os dois voltaram a se encontrar este ano no plenário do Senado.
Combativo até a última sessão
Em 113 dias de mandato cumpridos no Senado, Itamar Franco (PPS-MG) se credenciou como um dos nomes mais fortes da oposição ao governo Dilma Rousseff e protagonizou alguns dos embates mais quentes deste ano: classificou o regimento da Casa de totalitário, acusou o presidente José Sarney (PMDB-AP) de descumprir normas internas e bateu boca com a colega de plenário Marta Suplicy (PT-SP) em torno do metrô de Belo Horizonte.
Por duas vezes, Itamar reclamou da falta de equidade no regimento do Senado, que privilegiaria as maiores bancadas partidárias e alguns senadores com a possibilidade de falar mais tempo na tribuna. Criticou ainda o critério de escolha dos integrantes das comissões permanentes, que é feita com base no número de parlamentares da bancada, bloco ou partido, criando "senadores de primeira e de segunda classes". O mineiro lembrou que a Constituição Federal determina a paridade entre os estados — cada um elege três senadores, independentemente do seu tamanho.
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Itamar disparou contra tudo e todos no Senado
Fonte: Congressoemfoco