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segunda-feira, maio 01, 2023

Os vetores da "Pacem in terris"

 Wagner Balera

Este momento, de tantas incertezas, é uma oportunidade para refletir sobre a Pacem in Terris, de São João XXIII. Diante da persistente falta de paz, esse Documento, dentre os sociais o mais agudo, permanece sempre atual, pois a paz está no âmago da proposta do Redentor: “Eu vos deixo a paz, Eu vos dou a minha paz…” (cf. Jo 14, 27). A cada ano, a Pacem in terris é relembrada como se fosse quase que uma memória litúrgica. Desde 1968, por iniciativa de São Paulo VI, se celebra, em todo 1º de janeiro, o Dia Mundial da Paz, para o qual o Pontífice reinante lança uma Mensagem.

Pacem in terris, para a construir a paz, propõe restaurar as relações de convivência entre os homens, a partir dos vetores da verdade, da justiça, do amor e da liberdade (PT 35-36, 162).

A mentira se mostra presente na raiz de todas as guerras. Assim como o relacionamento interpessoal, também o relacionamento entre as comunidades políticas deve se basear na verdade.

Basear as relações na justiça é dever essencial dos Estados. Para tanto, devem receber dos outros, garantias de existência (!) e perspectivas de desenvolvimento. A justiça exige, ademais, que sejam respeitadas as minorias, inclusive mediante o apoio às tradições, cultura, língua e modo de operar econômico. Atenção, porém, a exageros que comprometam a convivência, quando as minorias se fecham em si mesmas. A encíclica refuta todo e qualquer racismo, o que deve ser estendido para toda e qualquer discriminação. É também por justiça que devem ser acolhidos os refugiados, pessoas revestidas de dignidade, que, como tal, devem ser recepcionadas como parte integrante da comunidade que os acolhe.


A verdade e a justiça criam a solidariedade dinâmica, apta a conjugar esforços para a conquista do bem comum universal, que propicia o salutar intercâmbio entre todas as nações. Onde houver divergências estas deverão ser superadas por uma solidariedade dinâmica, a demandar o apelo, que São João XXIII fazia, por uma eficiente autoridade mundial.

A resultante das guerras, além do morticínio em si mesmo atroz, é o ódio que se instaura na sociedade. Por exigência da justiça, deve-se buscar o desarmamento e a extinção das armas atômicas; mas só há um antidoto eficaz para o ódio: o amor. “Deus é amor” (1Jo 4, 8). São João XXIII considera que esse amor pode operar a animação e a consumação da ordem social.


Por fim, mas de não menor importância, cumpre considerar a liberdade como vetor capaz de proteger as nações da indevida e imprópria pressão de outras que a elas se sobreponham pelo poderio econômico, inclusive com a repugnante interferência em seus negócios. Razão suficiente para que seja conservada a liberdade dos povos é, naturalmente, a sua qualidade de sujeitos do próprio desenvolvimento e seus principais responsáveis.

Eis o verdadeiro caminho da paz a que nos conduz o Santo autor da Pacem in terris.
 
Wagner Balera
Coordenador do Núcleo de Estudos de Doutrina Social, Faculdade de Direito da PUC-SP.

O homem que chora olhando o Rio Sergipe. Ele é um advogado que já vendeu lenha na infância!

01 de Mai de 2023, 11h32


Rio Sergipe: uma paisagem bucólica ofertada a partir do alto do Oviêdo Teixeira

Ele nasceu em Itabaiana, na década de 1950, em um povoado - não sei qual entre os muitíssimos que há ali. Teve muitos irmãos e primos, a mãe está com mais de 90 anos e o pai faleceu faz pouco tempo.

Todos esses parentes continuam morando em povoados de Itabaiana ou na sede daquele município. Lembra que na infância vendia lenha pelas ruas da cidade. Ele, os irmãos e os primos faziam aquele e outros serviços para ajudar os pais a colocar a comida na mesa.

Alguns poucos, entre toda aquela meninada, foram levados para uma precária escola rural. Muitos largaram o estudo ainda cedo e voltaram para a roça.

Ele, nem sabe direito como, em meio a tantas adversidades acabou chegando a um grupo escolar da cidade. Concluiu o primário, depois o ginásio e o segundo grau. Aprendeu a acreditar no estudo, e se matriculou para fazer um vestibular.

Já perto de completar 30 anos de idade começou a estudar História na Universidade Federal de Sergipe. Se formou. Com o diploma na mão, fez um concurso público e foi empossado professor da rede estadual de ensino.

Uns 20 anos depois, buscou mais uma formação. Fez um curso de Direito e se tornou advogado. Hoje é professor aposentado e mantém uma banca de advocacia no Edifício Oviêdo Teixeira. As janelas do seu escritório dão para a Rua da Frente.

De lá ele, olha o leito do Rio Sergipe e sente a brisa ribeirinha que sopra o ano todo. Acompanha o subir e descer das águas, de acordo com o movimento das marés.

Na outra margem, o olhar chega à Barra dos Coqueiros. À direita, avista a Ponte do Imperador, a Atalaia Nova, as ondas do mar. Vira-se para a esquerda, e lá está a grande ponte que cruza o rio.

Ele diz que toda vez que fica assim, parado, olhando a paisagem a partir desse ponto de vista conquistado, passa na memória sempre um mesmo filme que começa lá em sua Itabaiana Grande.

Lembra dele mesmo e das brincadeiras com os irmãos e as irmãs, com os primos e as primas. Recorda da luta do pai e da mãe e dos tios e tias pela sobrevivência das famílias e se vê de novo andando pelas ruas, oferecendo lenha.

Nesses momentos, vem-lhe no peito uma comoção. Lembra que apenas algumas poucas crianças do povoado tiveram a chance de ir à escola, e ele estava entre elas.

Relembra o gosto que nasceu nele pelo estudo e a vontade de não largar mais a sala de aula. Depois, as muitas e muitas turmas de outros jovens dos quais ele foi professor.

Nesses momentos, tomado por gratidão e compaixão, o homem chora porque gostaria de compartilhar sua história com o mundo. Assim, conta ele aos amigos.

https://www.jlpolitica.com.br/articulista/5/o-homem-que-chora-olhando-o-rio-sergipe-ele-e-um-advogado-que-ja-vendeu-lenha-na-infancia

Arte, ciência e (des)humanização da Medicina

 01 de Mai de 2023, 11h27

Que venham os médicos e a humanização na Medicina não seja somente coisa de atores benevolentes

“É mais importante conhecer a pessoa que tem a doença do que a doença que a pessoa tem”
Hipócrates






“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”
Carl Jung


Gostaria de refletir com o leitor sobre o distanciamento de alguns profissionais médicos, que não se envolvem, não se comprometem e nem acolhem os seus pacientes como deveriam. Tradução: são desumanos!

Na verdade, refiro-me às muitas queixas que recebo no meu próprio consultório, acerca destes comportamentos inadequados de alguns colegas, que só veem a Medicina como possibilidade de lucro, e fazem da Medicina um comércio.

Graças a Deus temos ainda ilhas de excelência e de boas práticas médicas entre bons, nobres e respeitados colegas. Mas, e os demais? Às vezes fico até constrangida quando tomo conhecimento, ou mesmo quando sou testemunha, de algumas práticas.

E aí me vem a questão da formação médica. Onde estamos errando? O que podemos fazer de diferente? Onde o humanismo se perdeu?

Como podemos resgatar o fio da meada, embaralhado inclusive pelos conflitos de interesse que o médico tem, por exemplo, com a indústria farmacêutica?

Este é um tema que podemos discorrer no futuro e que considero uma vergonha para a nossa categoria, que já naturalizou as relações promíscuas com os laboratórios.

É preciso elencar os mais variados aspectos humanísticos que fazem da Medicina, para além da ciência, uma arte. Enquanto a ciência lida com competências técnicas com objetivos de cura, os elementos artísticos visam a empatia e o cuidado que precisamos oferecer ao nosso paciente.

Daí decidi apresentar aos meus alunos de Ética Médica a arte como instrumento de aprendizagem, e é nosso objetivo também tentar entender a arte em toda a sua capacidade caleidoscópica através da música, da dança, do teatro, do cinema, da fotografia, das artes plásticas, tais como pintura, desenho, escultura, artesanato, entre outras ações, que podem gerar mais cores e nuances às boas práticas em saúde.

Mais cores e nuances quer favorecendo a relação médico-paciente, estreitando laços, quer imprimindo movimentos que geram maior adesão ao tratamento, ou ainda como instrumento terapêutico para o paciente, assim como uma válvula de escape para um maior equilíbrio mental dos próprios profissionais e cuidadores.

Eu não inventei isso. Muitas escolas médicas já começaram a trabalhar com as artes na formação acadêmica e perceberam que estas ajudam os estudantes de Medicina a aprimorar suas habilidades de observação, comunicação e os tornam sujeitos mais empáticos.

Entendemos que o envolvimento dos estudantes de Medicina com as artes aumenta a exposição individual à múltiplas experiências sensoriais que aguçam o desenvolvimento cognitivo e neurológico e principalmente, potencializam o seu crescimento como sujeito.

Ou seja, a arte pode ser um instrumento sensibilizador e facilitador do próprio processo ensino-aprendizagem na forma de se lidar e entender a complexa subjetividade dos nossos pacientes e a natureza daquilo que é próprio do ser humano.

Não é por acaso que a introdução das artes no currículo médico tem despertado interesse crescente no mundo inteiro e tem sido objeto de estudos com vertentes humanísticas e espiritualizadas.Através dos saraus promovidos pelos meus alunos na disciplina Ética Médica, na UFS, e por meio da análise de obras de arte de artistas mundiais consagrados, ou análise de produção autoral dos próprios estudantes, temos exercitado a promoção do significado humanístico de compromisso e aliança terapêutica com os pacientes, despertando sensibilidade e reflexões, inclusive sobre a morte, que irão agregar valor às suas competências clínicas no seu desenvolvimento técnico-científico.

Nas nossas aulas, trago também, o cinema como instrumento de humanização. O cinema tem vocação como recurso didático humanizador por ser uma ferramenta que permite a correlação dos filmes com a prática e a ética médica, os valores de um exercício profissional elegante e respeitoso, que essencialmente não fira a dignidade dos nossos pacientes.

A nossa intenção com estes experimentos é fazer com que estes alunos que chegam no curso de Medicina com um pensamento pragmático e lógico, liberem a sua criatividade, imaginação, questionem e pensem de forma crítica, e possam experimentar novas possibilidades e percepções que serão importantes na vida profissional.

Além disso, é perceptível o genuíno prazer que os alunos retiram destas práticas. Que eles não se deixem contaminar por um currículo oculto, talvez perverso, de exemplos de médicos, às vezes seus próprios professores, automatizados pela rotina, que funcionam sem pensar, não exercem o autocuidado e esquecem a delicadeza da arte médica, muitas vezes pensando apenas nos resultados financeiros.

Lidar com a própria espiritualidade ou estimular a do seu paciente, requer aspectos humanísticos bem desenvolvidos. As artes podem servir de instrumentos que fomentarão as habilidades de comunicação, trarão bons sentimentos e uma percepção genuína da importância dos valores que envolvem a subjetividade das biografias dos seus pacientes, que precisam ser valorizadas, estes sim, perfeitas obras de arte divinas, únicas, que exigem do médico uma escuta e uma interpretação adequadas de seu sofrimento.

As artes e o exercício da espiritualidade favorecem aos futuros médicos, legando-lhes melhores e maiores habilidades de comunicação, pois transmitem confiança e descortinam novos sentidos e trazem possibilidades de novos conhecimentos, além de se tornarem instrumentos de cura.

Ciência e humanização não podem caminhar dissociadas. Deve haver sempre um equilíbrio entre a técnica e a captura da alma do paciente, para uma maior compreensão das suas dores, via sensibilidade de um médico, que tal qual um artista, valoriza o Divino, refletido na arte.

Sou otimista. Porém, sei que só saberemos dos resultados deste investimento em arte, que proponho aos meus alunos hoje, no bem a posteriori. O futuro dirá se ainda resta esperança de que as boas e velhas práticas médicas perseverem e os pacientes sejam tratados com respeito e a dignidade que merecem. Que o amanhã chegue logo!

Foto: doutoresdaalegria.org.br

https://jlpolitica.com.br/articulista/9/arte-ciencia-e-des-humanizacao-da-medicina

O QUE SIGNIFICA TER CARÁTER (E UMA HISTÓRIA SAMURAI INSPIRADORA)


caráter

 CAMILA NOGUEIRA NARDELLI


Todos sabemos que ter caráter é algo importante para as nossas vidas. Mas você sabe o que significa exatamente essa expressão? Pois é, senhores. Não é tão fácil assim de definir. Então vamos recorrer a um povo que entende bem do assunto: os samurais.

Segundo o Bushido, o código de ética dos guerreiros japoneses, o caráter consiste numa conduta de vida moralmente correta até mesmo durante os tempos mais difíceis.

Em outras palavras? Tomar decisões nobres nos mais diversos momentos da vida, sem ceder à tentação de pegar o caminho mais fácil por comodidade. Essa definição dos samurais continua bastante atual no mundo de hoje, como vocês podem notar.


Sendo assim, pode-se dizer que o caráter se assemelha mais a um hábito do que a uma virtude estática. Ele está nas pequenas atitudes cotidianas que tomamos, por isso desenvolver o caráter está ao alcance de cada um de nós.

COMO DESENVOLVER O CARÁTER?

Um bom ponto de partida é não fazer escondido coisas que te trariam vergonha caso outras pessoas soubessem daquilo. É quando ninguém está olhando que demonstramos a nossa verdadeira natureza.

Certa vez um amigo me contou a estratégia que usa para tentar tomar boas decisões: refletir o que a sua mãe acharia daquilo. E faz sentido, não? Poucas coisas seriam mais decepcionantes para uma mãe (talvez nenhuma) do que descobrir que falta caráter ao seu


Quando nos encontramos numa encruzilhada, portanto, é uma boa ideia pensar: “Qual desses caminhos deixaria minha mãe mais orgulhosa ou decepcionada?” Isso joga luz e bota perspectiva na situação.

Devemos praticar diariamente atitudes ligadas à gentileza, autocontrole, serenidade, altruísmo e elegância moral, entre outras coisas. Precisamos dar o nosso melhor para nos aperfeiçoarmos dia após dia, porque as tentações de deslizar rumo egoísmo sempre vão aparecer em nossa frente.

UMA HISTÓRIA ORIENTAL INSPIRADORA

Um dos grandes líderes do Japão antigo, Uesugi Kenshin, realizou um dos atos mais notáveis da história da humanidade.



As províncias de Takeda Shingen, seu principal rival, eram distantes do mar e, por consequência, dependiam de uma determinada província japonesa para a obtenção de sal. O soberano dessa província que lhe fornecia sal, a fim de enfraquecê-lo, rejeitou suas demandas e recusou-se a lhe vender o que quer que fosse.

Uesugi Kenshin, ao ouvir falar do dilema enfrentado pelo oponente, presenteou-lhe com uma vasta quantidade de sal, alegando na carta que lhe enviou que “lutava não com sal, mas com a espada”.


Essa história nos ensina uma valiosa lição sobre caráter: existem coisas mais importantes do que vencer. A vitória é valorosa quando a conquistamos de maneira honrosa, caso contrário perde o seu sentido, seja lá qual for a batalha.

https://www.elhombre.com.br/o-que-significa-ter-carater/

Nota da redação deste Blog - Constantemente estou escutando alguns trambiqueiros  falar em caráter, então resolvi efetuar um pesquisa para entender se mudaram o significado do que seja caráter, motivo pelo qual estou reproduzindo esse ensinamento ou tese de fácil entendiemnto, para que muitos entendam que a palavra caráter não é capim.

Lira condena invasões do MST e avisa que a “turma do campo está armada”


Entrevista com o presidente da Camara dos deputados Arthur Lira

Lira afirma que a CPI dos Atos Golpistas vai devassar tudo

Gabriel Sabóia, Thiago Bronzatto e Thiago Prado
O Globo

Às portas de o Congresso votar projetos decisivos do governo Lula em meio ao funcionamento de CPIs, o presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) avalia que a relação do Planalto com o Parlamento não é de “satisfação boa”. Ele promete trabalhar a favor das propostas econômicas, prevê uma “guerra de narrativas” na CPMI dos Ataques Golpistas e projeta que outros políticos de direita não errarão tanto quanto Jair Bolsonaro (PL).

Em sua avaliação, o ex-presidente é melhor cabo eleitoral do que candidato. Além disso, Lira critica a articulação política do governo; defende emendas do relator, reguladas pelo STF; e garante que não vai ‘sacanear’ o Planalto.

A CPI do MST pode virar outra bomba-relógio?
Estive com o pessoal do MST e disse que o agronegócio não tem problema em conviver com a agricultura familiar, assim como os assentados não são inimigos das terras produtivas. Surgiram mais invasões à Embrapa e a terras produtivas de celulose, principalmente em estados onde o governo estadual é aliado do governo federal. Qual é o risco de não darmos um freio nisso logo? É que a turma do campo está amedrontada, assustada e armada. Para acontecer um problema falta pouco. Integrantes do governo já refutaram as invasões, mas não houve medidas firmes para impedi-las efetivamente. Então, vai ter CPI.

A CPMI dos Ataques Golpistas pode atrapalhar o governo?
O governo tentou derrubar, mas se tornou inevitável depois do vídeo do Gonçalves Dias (ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional). A minha pergunta é o porquê deste vídeo não ter aparecido antes. Quem segurou as imagens e decretou sigilo? Como foi parar na mídia? Quem tinha acesso? Se foi o Gonçalves Dias, ele é o homem de confiança do Lula. Se foi o GSI, isto também precisará ser explicado. O governo também quer apurar quem estava por trás dos movimentos nos quartéis, quem financiou e o que era a minuta do golpe. Será uma guerra de narrativas. Mas garanto uma coisa: a pauta do plenário continuará sendo tocada normalmente.

O senhor vai trabalhar para impedir seu rival Renan Calheiros de ser relator com apoio do governo?
Não tenho informação de ele querer nem sei dessa vontade do governo. Mas o senador Renan, caso queira ser presidente da CPMI, precisará de votos. Para ser relator, precisará construir um acordo. Não depende do governo.

Quais são as expectativas para a votação do PL das Fake News nesta semana?
A oposição entrou na briga rasteira das plataformas. No meu partido, os deputados que votaram favoráveis foram coagidos, ameaçados por outros deputados. Está faltando bom senso a todos. E agora entraram os artistas militando pela questão dos direitos autorais, patrocinados pelo Ministério da Cultura e pelo Planalto. Teremos que chamar líder por líder e contar votos.

Lula tem feito declarações polêmicas, como quanto ao conflito entre Rússia e Ucrânia. O que acha de falas como esta?
Acho que o ambiente da política da última eleição do Lula é muito diferente do de agora. As redes sociais, a internet e os órgãos de controle não tinham o tamanho que têm hoje. Toda fala tem peso. A declaração dele sobre a Rússia com a Ucrânia teve muito peso nas relações internacionais e comerciais do setor privado. Hoje você fala e as coisas repercutem do Oiapoque ao Chuí em dez segundos. Um presidente que tem 60 milhões de votos precisa ter cuidado com o que diz.

Nos bastidores, o mundo político tem demonstrado incômodo com a influência da primeira-dama Janja no dia a dia do governo. O que acha disso?
A primeira-dama é a esposa do presidente. Falar sobre a atuação dela é um problema do governo. Se essa inquietude se tornar externa e pública teremos um problema, já que o eleito foi o presidente Lula. Ninguém governa sozinho. Ele tem que ouvir em quem confia, como os ministros que indicou e os assessores.

Em breve, teremos um debate sobre a inelegibilidade de Bolsonaro. Qual a sua opinião?
Quem vai julgar deveria fazer uma avaliação. O eleitor de direita se posicionou no Brasil. Ninguém vai tirar essa herança dos quatro anos de Bolsonaro. Ele jogou fora a possibilidade de reeleição? Sem dúvidas. Outro nome de direita como Romeu Zema, Tarcísio de Freitas ou Ratinho Jr. vai desperdiçar essa chance e errar tanto? Então, talvez Bolsonaro seja melhor cabo eleitoral do que candidato.

É preciso aceitar a diversidade de opinião e exercitar sua prima-irmã, a tolerância


Tolerância é uma necessidade em todos... Mahatma Gandhi - PensadorFernando Schüler
Veja

Era um debate no colégio, no Canadá. O tema girava em torno de questões de gênero. A coisa foi bem até Josh Alexander dar sua opinião. “Na minha visão, há apenas dois gêneros, homens e mulheres”. Terminou preso. Primeiro foi obrigado a cancelar disciplinas, depois insistiu em assistir às aulas, e foi em cana. O caso ganhou alguma repercussão e Josh, um estudante conservador, teve seus momentos de celebridade.

Já participei de muitos debates em escolas. Em geral, a ideia é que seja um espaço de liberdade para cada um dizer o que pensa. Já presenciei broncas e discussões bastante duras. Mas um estudante sair preso confesso que nunca havia visto.

LABORATÓRIO – Na verdade, é um sintoma. Não é uma história sobre a “barbárie”, como li, mas sobre nossa civilização. O Canadá surge como um laboratório. Quem sabe a “primeira nação woke do mundo”, na definição de Eric Kaufmann. Não por acaso o Canadá, por muito tempo visto como o país da diversidade. É este o ponto: sobre como lidar com a diferença, sem destruir a própria diferença.

Não há uma resposta simples a essas coisas. Do outro lado do continente, na Flórida, o governador republicano Ron DeSantis faz o exato oposto. “É preciso combater o woke em nossas escolas, em nossos negócios. Não nos renderemos jamais à ideologia woke”, bradou ele, numa paródia churchilliana de gosto duvidoso.

Sua “Stop Woke Act” tenta disciplinar a pregação identitária nas escolas, e foi barrada pela Justiça a partir da ação de organizações como a FIRE, que defende a livre expressão. Mas a confusão está armada. Talvez este seja o principal sintoma do mal-estar contemporâneo.

EQUÍVOCOS CLAROS – DeSantis parece claramente equivocado, tentando resolver o problema via ação coercitiva do Estado, e mais ainda as autoridades canadenses, mandando prender um adolescente por dizer o que pensa, em um debate escolar.

A intuição que parece animar a cultura woke e certo ultraconservadorismo é antiga: a ideia de que nosso mundo está contaminado pelas ideias erradas. Pelo preconceito ou pela decadência moral, e que por isso precisa ser devidamente higienizado.

Leio que os livros de Agatha Christie estão sendo revisados, e expressões como “povo núbio” ou “populações nativas” são meticulosamente retiradas. Se virar moda, me diz uma professora, a cada geração teremos de reescrever a literatura universal, vivendo em um eterno presente estético. Além de uma birutice, será uma tremenda perda cultural, pois “deixaremos de observar como gerações passadas se expressavam”.

ATÉ ADAM SMITH – Leio agora que mesmo a icônica estátua de Adam Smith, no Royal Mile, em Edimburgo, anda ameaçada. Não basta que Adam Smith tenha sido um duríssimo crítico da escravidão. Um comitê criado pela cidade vasculhou sua obra até achar uma passagem “comprometedora”, e seria preciso limpar o centro de Edimburgo de sua ofensiva memória.

Há uma estranha semelhança entre a intolerância atual e o fanatismo da era das guerras de religião nos inícios da modernidade. O desgosto do jovem Lutero com a Roma pervertida, e a indignação da ativista, ainda agora, com os excessos de Jennifer Lopez e Shakira na “exposição do corpo feminino” em um show no Super Bowl.

Seria preciso limpar toda a sujeira espalhada nas redes, na linguagem, na cultura. No século XVI, a maneira de fazer isso era a disciplina religiosa. Na Genebra de Calvino, eram dois cultos diários, os banhos frios e a estrita vigilância sobre os costumes. Hoje somos mais civilizados. Criamos comitês, listamos palavras proibidas, cancelamos e derrubamos estátuas. Evoluímos, Steven Pinker tem razão.

RADICALISMOS – Mas algumas coisas parecem se repetir. A primeira é a aversão à divergência. Dias atrás, todos assistimos a um grupo de estudantes de uma universidade paulista impedindo a realização de uma feira universitária israelense. Em Stanford, causou alguma indignação o banimento de Stuart Duncan, um juiz “conservador”, de uma palestra na universidade.

Há ainda a fixação nos detalhes. A ideia de que “tudo sempre é muito grave e ofensivo”, desde a interrupção de um apresentador em um programa até a piada em um programa humorístico. E daí a ideia de que cabe, sim, ao Estado meter a colher na conduta das pessoas, novamente aproximando o mundo conservador, da Flórida, ao universo woke, no Canadá.

Já algo nisso que vem da nova dinâmica da arena pública: dispondo de uma tribuna dada pela tecnologia, subitamente passamos a agir como pequenos políticos. A sinalizar a própria virtude, exercitar o bom-mocismo, onde se puder. Questão de cálculo. O ambiente digital é perigoso. O mais seguro é sempre dizer alguma coisa que não desagrade a nenhuma minoria barulhenta. Isso vale particularmente para as empresas, que não podem arriscar sua marca.

VIRALIZAÇÃO – Além do bom-mocismo, há a retórica de combate. Pesquisa recente mostrou que uma postagem agressiva contra o “outro grupo” tem 67% mais chances de ser replicada nas redes. A linguagem reflexiva, atenta à complexidade das coisas, tem menos poder de engajamento.

O jogo incentiva a posição do “righ­teous”, de Jonathan Haidt. O moralista, o combatente das boas causas, o “não me venha com essa de entender as razões do outro ou deixar dizer o que quiser”, porque, como li em um grupo de Whats­App, no final “as vítimas somos nós”.

O desafio é separar o joio do trigo. A demanda por não discriminação e o desejo obsessivo de regular os outros. O direito de afirmar minha maneira de viver, mas não o de banir quem deseja viver de modo distinto.

RETROCESSO WOKE -Vai aí o traço curioso da cultura woke: como uma forma cultural cuja razão de ser, em algum momento, foi a aceitação da diferença, vai se convertendo em um tipo de monismo moral que gradativamente não aceita diferença nenhuma.

Se alguém quiser lidar com diversidade, vale, em primeiro lugar, levar a sério o próprio conceito. Critérios raciais e de gênero são cruciais, tanto quanto muitos outros traços constitutivos de nossas identidades. Pertencemos a gerações diferentes, há temas ligados ao etarismo, aos diferentes ângulos da neurodiversidade, mas o tema vai além.

Ele diz respeito a visões de mundo, crenças religiosas, origens regionais ou orientações políticas. Vai aí um segundo ponto: a preservação da liberdade de expressão, essencial para que o argumento da diversidade não seja capturado por essa ou aquela ideologia e se torne um exercício de padronização da cultura. Por fim, o foco em atitudes reais de inclusão.

ACEITAR A DIVERGÊNCIA – Fazer retórica é fácil. Mais difícil é criar oportunidades de verdade, capacitar pessoas, apoiar sua autonomia com ações no mundo real, em vez de apostar na guerra permanente para suprimir palavras, banir livros e derrubar estátuas.

A diversidade é um traço definidor da modernidade. Quem leu os Ensaios de Montaigne deve se lembrar de seu memorável relato sobre os índios tupinambás, vindos do Brasil. Montaigne foi um liberal avant la lettre. Dizia que era preciso prestar atenção aos próprios pecados e que, em geral, “cada um chama de barbárie o que não é seu costume”.

Nestes tempos difíceis, talvez valesse a pena voltar a suas lições, que falam do melhor da modernidade: a curiosidade diante do mundo imenso e desconhecido, o apreço pela diferença e sua prima irmã, a tolerância. Valores dos quais não deveríamos descuidar, mas que parecemos ir deixando escapar por entre os dedos, lentamente.

Bolsonaro critica Lula no Agrishow e pede que governo não atrapalhe o agronegócio


Agrishow: Bolsonaro e Tarcísio criticam demarcação e invasão de terras | Metrópoles

Bolsonaro e Tarcísio discursaram e foram aplaudidos no Agrishow

Marcelo Toledo
Folha

Personagem de um imbróglio que culminou no cancelamento da cerimônia de abertura da principal feira de tecnologia agrícola da América Latina, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) usou um evento do governo de São Paulo, comandado por seu aliado Tarcísio de Freitas (Republicanos), para discursar nesta segunda (1º) a ruralistas presentes à Agrishow, em Ribeirão Preto (a 313 km de SP).

A organização da feira anunciou no sábado (29) o cancelamento da tradicional cerimônia de abertura após a polêmica envolvendo o “desconvite” ao ministro Carlos Fávaro (Agricultura) para que não comparecesse ao ato, que contaria com a presença de Bolsonaro.

CRISE E PATROCÍNIO – Isso ocorreu em uma conversa entre o ministro e o presidente da feira, Francisco Matturro, que desencadeou uma crise que culminou na ameaça do governo Lula (PT) de o Banco do Brasil cancelar o patrocínio à feira.

Mesmo sem cerimônia oficial, Bolsonaro — em sua primeira viagem pelo país após retornar de um período de três meses nos Estados Unidos — manteve sua programação e desembarcou em Ribeirão pouco antes das 14h deste domingo (30), quando foi recebido por uma multidão no aeroporto.

Após cumprimentar apoiadores, subiu na caçamba de uma camionete e percorreu cerca de 18 km até a fazenda do ruralista Paulo Junqueira, responsável pelo convite para Bolsonaro visitar a feira agrícola.

DISSE BOLSONARO – Nesta segunda-feira, chegou à Agrishow pouco antes das 11h, com um forte esquema de segurança, e entrou no auditório do governo paulista na fazenda que abriga a feira agrícola para dizer que o agronegócio “precisa de políticos que não atrapalhem” o setor.

“Isso que fiz ao longo do meu mandato, com meus ministros”, disse Bolsonaro, que passou a criticar as homologações de terras indígenas assinadas por Lula, a quem chamou de “cidadão que está no Palácio”.

“Vocês devem saber que há 400 pedidos de demarcações de terras indígenas e pelo menos 3.500 de quilombolas. E aquele cara disse que faria o possível para atender os anseios das comunidades. Se 10% forem atendidos, para onde irá nosso agro? Peço a Deus para isso não acontecer”, afirmou Bolsonaro, que discursou por sete minutos e foi saudado diversas vezes como “mito”.

FALA DO GOVERNADOR – Tarcísio iniciou seu discurso cumprimentando Bolsonaro e disse que “não é mistério para ninguém a gratidão” que tem pelo ex-presidente, que no cerimonial foi apresentado como “presidente”.

“Sempre trouxe para sua equipe os louros, sempre deu o crédito para aqueles que o acompanhavam”, disse o governador.

Tarcísio ainda disse que não irá tolerar invasões de terra em São Paulo e que vai investir em conectividade para eliminar zonas de sombra de sinais de telefonia em todo o estado, como já havia feito sábado (29) na Expozebu, em Uberaba.

Ao terminar o evento, Bolsonaro e Tarcísio, acompanhados pelo senador Marcos Pontes (PL), por ruralistas e por deputados, percorreram ruas da Agrishow, subiram em máquinas e tratores. Numa delas, Bolsonaro abriu uma bandeira e os apoiadores começaram a cantar o hino nacional.

BATER RECORDE – A previsão da Agrishow para este ano é negociar mais que os R$ 11,243 bilhões registrados em 2022 em vendas de máquinas agrícolas, de irrigação e de armazenagem (R$ 11,77 bi, em valores atualizados pela inflação).

A feira terá 800 marcas nacionais e estrangeiras expostas numa área de 530 mil metros quadrados, em que o produtor poderá comparar as máquinas das mais variadas empresas, ver o funcionamento nas demonstrações de campo e financiar no seu banco dentro do próprio evento. São aguardados 190 mil visitantes até sexta-feira (5).

A Agrishow será realizada no km 321 da rodovia Antônio Duarte Nogueira, em Ribeirão Preto, com funcionamento das 9h às 18h.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Até agora não deu para entender o que o ministro da Agricultura, Carlos Fávoro, fez de tão ruim a ponto de cancelar a abertura da Agrishow e ser desconvidado a visitar a Feira? Alguém poderia fazer a fineza de informar? (C.N.)

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