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terça-feira, maio 03, 2022

A revolta dos enraizados




Correspondendo a somente 25% da sociedade inglesa, os desenraizados têm imposto hegemonicamente a sua ideologia. Desvalorizando a identidade nacional, estão muito próximos da agenda globalista. 

Por Patrícia Fernandes* (foto)

1 Enraizados e desenraizados

Um autor que continua inexplicavelmente por traduzir em Portugal é o jornalista inglês David Goodhart, um dos intelectuais mais influentes no espaço público inglês. Nas últimas duas décadas, Goodhart fez um percurso cada vez mais comum nos países anglo-saxónicos: embora se tivesse considerado sempre de esquerda, as contradições de uma esquerda cada vez mais progressista levaram-no a reposicionar-se no espectro político. Em artigo de 2017, “Why I left my liberal London tribe”, Goodhart diz-nos que essa inflexão se iniciou em 2004, com o ensaio “Too diverse?”, no qual refletia sobre as políticas demasiado amplas de imigração adotadas no Reino Unido, que, enquadradas num princípio multiculturalista, colocavam sob forte tensão os valores de diversidade e solidariedade. Acusado de racismo pela sua tribo liberal, Goodhart foi-se tornando cada vez mais crítico de uma esquerda que era incapaz de refletir sobre os problemas que resultavam das suas propostas políticas e que a afastavam, progressivamente, da vida real das pessoas, em particular da working class inglesa, eleitores tradicionais do Partido Trabalhista.

A partir desse momento, Goodhart foi refletindo sobre os impactos das políticas globalistas, cuja agenda resulta na crença de que a globalização é um fenómeno irremediável das sociedades contemporâneas pelo que inevitavelmente temos de ceder perante a diversidade, o multiculturalismo, a perda de identidade, a imparável mudança. O resultado dessas reflexões foi a publicação, em 2017, do livro The road to somewhere, entendido em Inglaterra como fundamental para a compreensão dos dois acontecimentos políticos que marcaram 2016: o Brexit e a eleição de Donald Trump. Vejamos qual é o seu contributo.

De acordo com Goodhart, a sociedade inglesa tem vindo a assistir, nas últimas duas décadas, a uma nova e crescente divisão que está a substituir a tradicional dicotomia entre esquerda e direita. Essa nova divisão seria entre aqueles que o autor designa como somewheres e aqueles que designa como anywheres – em português, algo como “de algures” e “de nenhures”, embora prefiramos falar em “enraizados” e “desenraizados”. Comecemos pelos segundos. Os desenraizados corresponderiam a um grupo mais jovem e geralmente com formação universitária, que se apresentam como cosmopolitas e abertos à diferença e à mudança. No contexto inglês, são aqueles que saíram de casa para estudar na universidade e não regressaram, passando a considerar-se cidadãos do mundo, sem grandes raízes comunitárias. Em sentido oposto, os enraizados preservam essas raízes, pelo que o fator de identidade, em especial a nacional, é fundamental para a sua mundividência. São também mais velhos e geralmente sem formação universitária, sentindo-se menos confortáveis com uma sociedade crescentemente cosmopolita e na qual a diferença se sobrepõe ao que é comum. São socialmente mais conservadores, pelo que temem o ritmo de mudança imparável que marca a ideologia dos desenraizados.

Correspondendo a somente 25% da sociedade inglesa, os desenraizados têm imposto hegemonicamente a sua ideologia. Desvalorizando a identidade nacional, estão muito próximos da agenda globalista, considerando que, por regra, os interesses globais devem prevalecer sobre os interesses nacionais. Votaram maioritariamente Remain. Já os enraizados representam a maioria da sociedade (pouco acima dos 50%) e tendem a sentir que as suas ideias e preocupações não foram refletidas pelas políticas das últimas décadas. Sabendo constituir a maioria da população, sentem-se subrepresentados ou mesmo silenciados no espaço público, pelo facto de as suas preocupações serem desvalorizadas pelas elites políticas, que preferem destacar a barbaridade das suas ideias a ouvir as suas reivindicações. O referendo permitiu-lhes um grito de revolta: o Brexit foi o resultado.

2 As eleições francesas

A análise de Goodhart centra-se no contexto britânico, mas pode ser facilmente extrapolada para os Estados Unidos, se considerarmos como Donald Trump venceu as eleições de 2016 com os votos dos chamados perdedores da globalização. Isto significa que não podemos desprezar a dimensão económica deste novo antagonismo: apesar de a divisão entre enraizados e desenraizados superar a tradicional dicotomia esquerda e direita, isso não significa uma desvalorização das condições económicas. O que acontece é que elas são reinterpretadas a uma nova luz, filtradas pela identidade nacional e pela crítica à política globalista que está para lá do controlo democrático das populações. As recentes eleições francesas são representativas desta alteração, mostrando a pertinência da dicotomia interpretativa de Goodhart.

A existência de uma França dividida tem sido notada por vários autores, nomeadamente em Portugal. A verdade é que, à medida que as tensões do projeto globalista se tornam mais evidentes, a nova dicotomia espalha-se pelo ocidente, tornando obsoleta a velha dicotomia. Ainda assim, o vocabulário que usamos continua agarrado às velhas ideias, impedindo-nos de compreender o que está a acontecer. Pensemos na utilização da expressão “extrema-direita” para referirmos o projeto político de Marine Le Pen: se há duas décadas ainda faria sentido recorrer ao termo para representar as ideias da Frente Nacional, os últimos anos trouxeram uma mudança de tal ordem que mantermos esse uso nos impede de compreender adequadamente a realidade francesa. Clarifiquemos esta posição: não é que as ideias da Rassemblement National não sejam de extrema-direita se usarmos o modo de pensar do final do século XX, em que havia um forte consenso ao centro e as ideias que saíam desse centro eram consideradas como estando nos extremos (fosse à direita ou à esquerda). Mas as sociedades ocidentais mudaram de tal forma que esses termos carecem agora de rigor terminológico.

Em que consistiu essa mudança? O final da segunda guerra mundial originou um forte consenso político em torno de um conjunto de valores: globalização económica e social, diluição das fronteiras, enfraquecimento da soberania, maior entrosamento entre os estados e crença na diversidade, progresso e mudança – tudo isto significaria uma espécie de paz perpétua, pelo menos no ocidente. Este consenso pós-1945 moldou o cenário político da segunda metade do século XX, determinando a adoção de políticas amplamente consensuais que permitiram várias décadas de crescimento económico e desenvolvimento no ocidente.

Entretanto, esse consenso político terminou. E terminou em resultado não só das contradições internas que todos os projetos políticos contêm, mas sobretudo pelo facto de as elites políticas, inebriadas pelas promessas desse consenso, se terem afastado progressivamente das pessoas reais e da compreensão dos impactos daquelas políticas na vida real. E tendo terminado, deixou de fazer sentido falar em extremos.

Ora, continuar a pensar o mundo a partir daquele consenso não nos permite compreender adequadamente o que está a acontecer. É essa incapacidade que se nota nos comentadores que, também em Portugal, continuam a usar os velhos termos e os velhos consensos para interpretar a nova realidade. Basta pensar na expectativa que muitos geraram de que a proximidade a Putin enfraquecesse as posições de Viktor Orban e Marine Le Pen. Na verdade, um mundo marcado pelo signo da mudança, constante e imparável, aparece à maioria da população como um produto de permanente desordem e instabilidade – o que gera a necessidade psicológica de um símbolo de autoridade e segurança que possa recuperar ordem e estabilidade. E isto torna-nos suscetíveis a reforçar a posição daqueles que estão mais próximos dos novos homens fortes. A proximidade a Putin funciona, assim, como uma vantagem e não como uma desvantagem.

A incapacidade ou a falta de vontade de nos reposicionarmos perante a nova realidade, que tornou obsoleto o antigo vocabulário político, condenar-nos-á à mesma obsolescência.

3 O que devem fazer as elites políticas?

Com o título The road to somewehere, Goodhart pretende convocar uma missão política: aproximar enraizados e desenraizados na determinação de um projeto comum por forma a diminuir a tribalização e antagonismo das sociedades atuais. E considerando a hegemonia política dos desenraizados, essa aproximação terá de ser feita com a consideração das preocupações e reivindicações dos enraizados na agenda política: estes devem ser ouvidos e não tratados como bárbaros. É o facto de as elites políticas não o fazerem que tem empurrado os enraizados para projetos populistas, que prometem à maioria recuperar a sua voz, garantindo-lhes controlo democrático e o regresso a um estado de estabilidade e ordem.

No entanto, as elites políticas têm sido pouco perspicazes nesta avaliação: no Reino Unido, a opção Leave foi permanentemente apontada como irracional e resultado de ignorância; nos Estados Unidos, os que elegeram Trump foram acusados de racismo e xenofobia; em França, os apoiantes de Marine Le Pen foram desclassificados como sendo de extrema-direita. Ora, esta reação não só é profundamente antidemocrática, como se limita a reforçar o sentimento de silenciamento no espaço público e de afastamento do poder político. Limita-se a aprofundar a já profunda crise democrática que marca os países ocidentais.

Infelizmente, em Portugal, as elites políticas repetem estes maus exemplos. Temos, por um lado, os discursos e intervenções do Presidente da Assembleia da República, que promovem uma desconsideração permanente de um projeto político que foi a terceira força política mais votada nas últimas eleições legislativas. Apesar de prometer ouvir democraticamente todos os portugueses, o que Augusto Santos Silva tem feito é delimitar aquilo que, do seu ponto de vista, é admissível dizer-se e sentir-se no espaço público. Mas notemos igualmente as declarações do Presidente da República após a vitória de Emmanuel Macron: em absoluto desrespeito pelos cidadãos franceses que votaram em Le Pen, Marcelo Rebelo de Sousa acusou-os de xenofobia. Podemos refletir sobre o sentido de um Presidente fazer acusações deste tipo a cidadãos de outro estado, mas o mais importante talvez seja perguntar: para que caminho democrático nos querem levar as elites políticas que recusam ouvir uma parte cada vez maior da população?

*Professora da Universidade da Beira Interior

Observador (PT)

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Guerra na Ucrânia: a narrativa sobre o conflito que EUA e Europa não querem ouvir




"A Ucrânia e seus aliados, incluindo Londres, estão ameaçando a Rússia nos últimos mil anos, para mover a [aliança militar] OTAN para nossas fronteiras, para cancelar nossa cultura — eles nos intimidam há muitos, muitos anos."

Isso é o que Yevgeny Popov — integrante da Duma (o parlamento russo) e apresentador de TV na Rússia — disse à BBC em 19 de abril. "É claro que os planos da OTAN para a Ucrânia são uma ameaça direta aos cidadãos russos."

Seu ponto de vista é ao mesmo tempo surpreendente e esclarecedor, por revelar uma narrativa do Kremlin muito diferente da maneira como a questão é vista nos EUA e na Europa.

Para ouvidos europeus e americanos, esses pronunciamentos soam quase inimagináveis, ignorando fatos amplamente documentados. No entanto, essas são crenças não apenas de apoiadores do Kremlin na Rússia, mas também de pessoas em várias outras partes do mundo.

Depois que a Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro, a ONU realizou uma votação de emergência — 141 nações dos 193 estados membros da ONU votaram uma semana depois para condenar a atitude. Mas vários países importantes optaram por se abster, incluindo China, Índia e África do Sul. Portanto, seria ilusório para os líderes dos EUA e Europa acreditarem que o mundo inteiro compartilha da visão da OTAN — de que a Rússia é inteiramente culpada por esta guerra catastrófica — porque o resto do mundo não pensa assim.

Então, por que tantos países estão se abstendo sobre a invasão da Rússia?

Há muitas razões, desde simples interesses econômicos ou militares, até acusações de hipocrisia ao passado colonial da Europa. Não existe um motivo único. Cada país pode ter suas próprias razões particulares para não querer condenar publicamente a Rússia ou alienar o presidente Putin.

'Sem limites' para a cooperação

Vamos começar com a China, o país mais populoso do mundo, com mais de 1,4 bilhão de pessoas, a maioria das quais recebe notícias sobre a Ucrânia pela imprensa controlada pelo Estado, assim como acontece na Rússia.

A China recebeu um visitante de alto nível em seus Jogos Olímpicos de Inverno, pouco antes do início da invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro: o presidente russo Vladimir Putin.

Um comunicado chinês emitido depois do encontro afirmou que "não há limite para a cooperação dos dois países". Isso significa que Putin avisou seu colega chinês, Xi Jinping, de que estava prestes a lançar uma invasão em grande escala da Ucrânia? Absolutamente não, diz a China. Mas é difícil imaginar que não tenha havido sequer uma pista do que estava por vir a um vizinho tão importante.

China e Rússia podem um dia acabar sendo rivais estratégicos, mas hoje são parceiros e compartilham um desdém comum, beirando a inimizade, pela OTAN, os EUA, a Europa e seus valores democráticos. A China já entrou em conflito com os EUA sobre a expansão militar chinesa no Mar do Sul da China. Pequim também entrou em conflito com governos dos EUA e da Europa sobre o tratamento dado à população uigur, os ataques à democracia em Hong Kong e sua promessa frequentemente repetida de "retomar Taiwan" — até mesmo por força, se necessário.

A China e a Rússia têm na OTAN um inimigo comum. A visão de mundo desses governos é passada para as suas populações. Por isso, muitos chineses e russos não têm a mesma aversão dos EUA e da Europa à invasão da Rússia e aos supostos crimes de guerra sendo cometidos.

A Índia e o Paquistão têm suas próprias razões para não querer antagonizar a Rússia. Tanto a Índia quanto o Paquistão se abstiveram na votação da ONU para condenar a invasão.

A Índia obtém grande parte de suas armas de Moscou e, após seu recente confronto com a China no Himalaia, a Índia acredita que um dia poderá precisar da Rússia como aliada e protetora.

O ex-primeiro-ministro do Paquistão Imran Khan, que foi recém destituído, tem sido um crítico feroz da Europa e especialmente dos EUA. O Paquistão também recebe armas da Rússia e precisa da bênção de Moscou para ajudar a proteger as rotas comerciais com o interior do norte da Ásia Central. Khan visitou Putin em 24 de fevereiro, o mesmo dia em que a Rússia invadiu a Ucrânia.

Hipocrisia e padrões duplos

Além disso, existe a acusação, compartilhada por muitos, especialmente em países de maioria muçulmana, de que os EUA e a Europa são culpados de hipocrisia e padrão duplo de julgamento. Em 2003, os EUA e o Reino Unido optaram por ignorar a ONU — e grande parte da opinião mundial — invadindo o Iraque por motivos espúrios, levando a anos de violência. Washington e Londres também foram acusados de ajudar a prolongar a guerra civil no Iêmen, armando a Força Aérea Real Saudita, que realiza ataques aéreos frequentes em apoio ao governo oficial do país.
 
Para muitos governos da África, há outras razões ainda mais históricas em jogo.

Nos tempos soviéticos, Moscou inundou o continente com armas enquanto procurava enfrentar a influência americana de norte a sul. Em alguns lugares, o legado da colonização da Europa Ocidental nos séculos 19 e 20 é fonte de ressentimento que continua até hoje. A França, que enviou tropas para o Mali em 2013 — para evitar que o país fosse tomado pela Al-Qaeda — não é um governo popular no país, que era colônia francesa. Agora que a maior parte das tropas francesas foi embora, o Mali passou a ser ocupado por mercenários russos do Grupo Wagner, apoiados pelo Kremlin.

E onde fica o Oriente Médio nisso tudo?

Não é surpresa que a Síria — junto com Coreia do Norte, Belarus e Eritreia — tenha apoiado a invasão da Rússia. O presidente da Síria, Bashar Al-Assad, depende da Rússia para sua sobrevivência depois que seu país correu o risco de ser invadido por combatentes do Estado Islâmico em 2015.

Mas mesmo aliados antigos dos EUA e da Europa — como Arábia Saudita e Emirados Árabes — embora tenham apoiado a votação da ONU, foram relativamente comedidos em suas críticas a Moscou. O governante de fato dos Emirados Árabes Unidos, o príncipe herdeiro Mohammed bin Zayed, tem um bom relacionamento com Vladimir Putin — seu embaixador anterior em Moscou esteve em viagens de caça com o russo.

Também vale lembrar que o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, tem um relacionamento ruim com o presidente americano Joe Biden. Tal é a aversão mútua, que os dois se recusam a atender as ligações um do outro. Antes disso, quando os líderes mundiais se reuniram em Buenos Aires para a Cúpula do G20 — no final de 2018, apenas algumas semanas depois que EUA e Europa acusaram o príncipe herdeiro saudita de ordenar o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi — a maioria dos líderes da Europa deu um tratamento distante ao príncipe saudita. Putin, por outro lado, deu uma saudação calorosa ao príncipe. O líder saudita não se esquece desse gesto.

Nada disso significa que todos os países mencionados apoiem ativamente essa invasão, exceto Belarus.

Apenas cinco governos votaram contra condenar a Rússia pela invasão em 2 de março na ONU, e um deles foi a própria Rússia. Mas o que isso significa é que, por várias razões, os EUA e a Europa não podem assumir que o resto do mundo compartilha sua visão de Putin, nem das sanções, nem da sua disposição de confrontar abertamente a invasão da Rússia com suprimentos de armamento para Ucrânia.

BBC Brasil / DefesaNet

O plano do governo Biden para reaproximar EUA e Brasil — e o papel-chave dos fertilizantes nisso




País importa 85% dos fertilizantes que utiliza e Rússia responde por 23% das importações

Por Mariana Sanches, em Washington

Depois de demonstrar publicamente insatisfação com a viagem do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL), à Rússia em fevereiro e de avaliar que o Brasil poderia estar do "lado errado" da história em relação à guerra na Ucrânia, o governo do presidente americano, Joe Biden, parece tentar uma "recalibragem" na relação entre Washington e Brasília.

Na última semana, uma delegação de alto nível do Departamento de Estado visitou seus pares brasileiros para uma rodada longa de conversas descritas à BBC News Brasil como "amistosas" e "construtivas" pelos dois lados.

Os americanos evitaram críticas à falta de apoio do Brasil às sanções econômicas impostas pelos americanos e seus aliados à Rússia após a invasão militar ordenada por Vladimir Putin e, na prática, tentaram oferecer aos diplomatas brasileiros um plano de ação para que o Brasil reduza seu comércio com os russos e se aproxime mais dos EUA.

O plano americano

A Rússia é a maior exportadora de fertilizantes para o Brasil, que consome cerca de 40 milhões de toneladas por ano do material, considerado fundamental para mover o agronegócio — e, portanto, a economia — do país.

O produto já foi mencionado por Bolsonaro como motivo de sua visita de fevereiro a Vladimir Putin, em Moscou. Mesmo após o início da guerra, navios de bandeira russa ancoraram no Brasil carregados de fósforo e potássio, dois dos elementos centrais para a plantação de soja, por exemplo.

Embora fertilizantes não estejam na lista de produtos sancionados diretamente por americanos e europeus, o fato de que o Brasil tenha tentado manter um comércio regular com os russos no contexto de guerra causou mal-estar entre os americanos.

Há duas semanas, em visita a Washington D.C., o ministro da Economia, Paulo Guedes, foi questionado em um evento no think tank Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais sobre se o Brasil estaria facilitando para que a Rússia burlasse sanções. "Eu não colocaria nesses termos, facilitando… o Brasil é governado por um presidente que recebeu 60 milhões de votos e está pensando em fertilizantes, importados da Rússia", justificou Guedes.

Mas a percepção de que a segurança alimentar do mundo poderia estar ameaçada e de que seria preciso ajudar a América Latina a construir soluções, em vez de criticá-la publicamente e empurrá-la para uma relação mais estreita com China e Rússia, levou os americanos a um outro caminho.

"O tema do fertilizante esteve bem presente na nossa conversa, eles sabem que é importante pra gente e estão engajados a nos ajudar a encontrar saídas, com outros parceiros, a partir de premissas positivas", afirmou à BBC News Brasil o embaixador Pedro Miguel da Costa e Silva, secretário das Américas do Itamaraty.

Embora todas as opções e propostas ainda não estejam claras, o Departamento de Estado americano confirmou à BBC News Brasil algumas delas. Em 28 de março, o secretário de Agricultura dos EUA, Tom Vilsack, conversou com a então ministra brasileira da Agricultura, Tereza Cristina, sobre o problema. Antes, em 16 de março, Cristina e Vilsack estiveram em uma reunião com outros países das Américas para tratar do assunto.

'A produção de grãos no Brasil é fortemente dependente de fertilizantes importados de países como a Rússia'

A partir daí, a agência internacional do Departamento de Agricultura dos EUA fez um levantamento de todos os produtores americanos de fertilizantes que poderiam servir como fontes adicionais ao Brasil.

Atualmente, os EUA já são o quinto maior vendedor de fertilizantes ao Brasil. O governo Biden tenta aumentar sua própria produção: em meados de março, anunciou investimento de US$ 250 milhões para empresas americanas que consigam expandir a produção de fertilizantes no país.

Além disso, os americanos passaram a apoiar os esforços brasileiros de encontrar o produto em outros países, como o Canadá. Em meados de março, Cristina foi ao Canadá e conseguiu negociar um incremento de 10% no montante de fertilizantes que os canadenses, nosso 4º maior vendedor, envia anualmente ao Brasil.

"Ainda é muito pouco, são 400 mil toneladas de potássio a mais, mas o Brasil, em 2021, usou 13 milhões de toneladas de potássio", afirma Marcelo Mello, diretor de fertilizantes da consultoria StoneX.

O Departamento de Estado afirmou ainda que os americanos estudam fazer um intercâmbio técnico com os brasileiros em busca de maior eficiência de fertilizantes.

"Os EUA financiarão a colaboração prática entre especialistas agrícolas dos EUA e do Brasil que compartilharão as melhores práticas para melhorar a eficiência do uso de fertilizantes para os produtores agrícolas brasileiros", afirmou um porta-voz do órgão.

Para os americanos, encontrar alternativas para a compra de fertilizantes extrapola a satisfação de necessidades de outros países, atingidos pelos efeitos colaterais da guerra. Trata-se de parte da política dos EUA de punir economicamente os russos pelo conflito na Europa.

"Está claro que os preços dos combustíveis e o fornecimento de fertilizantes e outros insumos para a produção de alimentos estão sendo impactados pela decisão da Rússia de invadir a Ucrânia", afirmou o Departamento de Estado à BBC News Brasil.

"Reconhecemos a importância disso para os brasileiros. Estamos fazendo todo o possível com nossos aliados e parceiros para mitigar os impactos econômicos das ações russas em outras economias, como o Brasil. Por exemplo, os Estados Unidos estão coordenando com os principais países produtores de petróleo para ajudar a garantir o fornecimento global de energia", diz o Departamento de Estado, comparando o esforço em relação aos fertilizantes à busca por fortes alternativas de combustíveis para suprir a dependência dos europeus do gás russo.

Vai dar certo ou vai faltar fertilizante?

Embora demonstrem positiva surpresa com a disposição dos americanos, concorrentes do Brasil na produção de commodities, de apoiarem o país em busca de soluções no tema dos fertilizantes, tanto fontes do mercado quanto aquelas ligadas ao agronegócio dentro do governo reagiram com ceticismo às chances de funcionamento do plano.

A BBC News Brasil apurou que os produtores brasileiros já conheciam todos os potenciais exportadores de fertilizante indicados pelo governo americano. Além disso, países como o Canadá ou Marrocos, grandes exportadores do produto, têm contratos já firmados com seus clientes e baixa capacidade de expandir sua produção.

"Não tem de onde tirar. Ninguém está deixando de produzir uma única tonelada de fertilizante no mundo, já que o preço está tão alto, mas toda essa produção já estava comprometida e ninguém vai deixar seus clientes na mão para satisfazer o Brasil", afirma Mello.

Dentro do próprio governo brasileiro, a urgência sobre encontrar novas fontes de fertilizante parece ter diminuído. Se em meados de março, três semanas após o início da guerra, o número de navios com fertilizantes da Rússia a caminho do Brasil reduziu-se a zero, agora parece estar havendo uma retomada parcial do fluxo.

Para Mello, no entanto, não será o suficiente para suprir a demanda nacional. "Os produtores terão que reduzir o uso entre 25% e 30% de fertilizantes na lavoura. Vai faltar. Mas não será o fim do mundo", afirma o consultor, que hoje presta serviços para cerca de 40% dos produtores de soja do país.

Segundo Mello, como historicamente os fertilizantes são considerados produtos baratos, os fazendeiros brasileiros aplicavam mais do que o necessário ao solo, considerado pobre. Por isso mesmo, uma redução do montante usado agora não deve representar uma queda na produção da próxima safra. E também por isso, é na cooperação técnica com os americanos que Mello vê um caminho mais promissor no plano americano para driblar a falta de fertilizantes no Brasil.

"Mas esse tipo de troca técnica não é algo que deva funcionar já para a próxima safra, é uma questão de médio prazo, para dar resultados em alguns anos", aponta.

Biden e Bolsonaro se encontrarão finalmente?

A despeito das aparentes baixas chances de sucesso do plano americano para o campo brasileiro, em termos políticos, a proposta parece ter agradado. Um diplomata brasileiro com conhecimento das negociações entre os dois países afirmou que "ninguém tem ilusão que os americanos agem assim só porque se preocupam com o Brasil, sabemos que eles querem se fortalecer na região pra mostrar ao Putin o poder de Biden, mas o atual termo das cooperações nos agradam".

Em junho, o governo americano sediará a 9ª Cúpula das Américas, em Los Angeles. Em Brasília, as autoridades americanas fizeram questão de convidar nominalmente o presidente Jair Bolsonaro para viajar para o encontro.

"Temos a expectativa que os dois presidentes possam finalmente se encontrar pessoalmente e se falar sobre os temas da Cúpula", afirmou o embaixador Costa e Silva à BBC News Brasil. A viagem de Bolsonaro ainda não está oficialmente confirmada.

Desde que tomou posse, em janeiro de 2021, o presidente Biden tem evitado contato direto com Bolsonaro, que demonstrou apoio público ao republicano Donald Trump nas eleições de 2020. Sob a condição de anonimato, ministros do governo Bolsonaro reconhecem que a visita do brasileiro a Putin em fevereiro, contrariando os interesses americanos, foi também uma forma de expressar descontentamento com o tratamento dado a ele pelo líder dos EUA.

Entre diplomatas americanos ouvidos pela BBC News Brasil cresce a percepção de que, especialmente diante da guerra da Ucrânia, é preciso aproximar-se dos aliados e países amigos.

Na conversa em Brasília na semana passada, os diplomatas do Departamento de Estado foram cautelosos em não criticar diretamente a alta do desmatamento na Amazônia — elogiaram compromissos ambientais firmados ainda no ano passado pelo Brasil e recomendaram aumentar os esforços contra o crime em campo — nem mencionaram temas espinhosos, como a relação do governo com os povos indígenas ou tensões quanto ao processo eleitoral. 

BBC Brasil

"Se guerra escalar, pressão sobre Brasil deve aumentar"




Vitelio Brustolin

Por Laís Modelli

Em entrevista, pesquisador avalia efeitos do status brasileiro de aliado "extra-Otan" dos EUA no contexto da Guerra na Ucrânia e a pressão que país sul-americano vem sofrendo para se alinhar contra a Rússia

Durante o governo do ex-presidente americano Donald Trump, em 2019, o Brasil se tornou "Aliado Preferencial extra-Otan", posição que designa países que não são membros efetivos da Organização do Atlântico Norte (Otan), mas que são aliados estratégicos militares dos Estados Unidos. Quase três anos depois, o Brasil se vê numa posição delicada em relação à aliança no contexto da guerra na Ucrânia.

Atualmente, o status permite, em tese, vantagens no campo militar, como colaboração com os EUA em campos de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia de defesa; cooperação para treinamento militar; acesso preferencial à compra de equipamento militar americano; entre outras medidas.

Os EUA concederam o status de aliados extra-Otan a 20 países. Brasil e Argentina são os únicos sul-americanos a receberem o status.

Em entrevista à DW Brasil, o pesquisador de Harvard, Vitelio Brustolin, professor do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (INEST-UFF), explica que o status de aliado extra-Otan não tem por objetivo a defesa mútua com os EUA, mas, no atual contexto do conflito no leste europeu, "se a guerra escalar, o Brasil pode ser pressionado a tomar uma posição mais incisiva", diz.   

A cobrança de uma posição direta do Brasil na guerra já pode estar ocorrendo. Segundo o jornal alemão Süddeutsche Zeitung, o Brasil tem sido requisitado pela Alemanha para fornecer munição para dezenas de blindados doados à Ucrânia.

Na semana passada, a Alemanha anunciou o envio de 50 antigos blindados antiaéreos do tipo Gepard, fabricados na década de 70 e aposentados pelas Forças Armadas alemães há cerca de uma década. Dezenas deles foram comprados pelo Brasil em 2013. Agora, o mesmo modelo foi doado aos ucranianos pela Alemanha, mas há falta de munição na indústria bélica para o modelo. Por isso, o governo alemão estaria em diálogo com os países que utilizam o antigo sistema para contornar a escassez de munição.

A DW Brasil entrou em contato com o Itamaraty e o Exército brasileiro para comentar a questão, mas os órgãos não se pronunciaram.

DW Brasil: O que o status "extra-Otan" significa para o Brasil no contexto da guerra Ucrânia-Rússia?

Vitelio Brustolin: A parceria não tem objetivos de defesa mútua, a não ser que isso seja previsto em acordo bilateral, o que não é o caso. O Brasil pode até manter boas relações com a Rússia, como faz a Turquia, por exemplo, que é membro da Otan, mas que tem bom relacionamento com Moscou e ainda fornece equipamentos militares para a Ucrânia se defender.

Contudo, se a guerra escalar, o Brasil pode ser pressionado a tomar uma posição mais incisiva. Neste momento, o país vem votando contra a Rússia, tanto no Conselho de Segurança, quanto na Assembleia Geral da ONU. A postura oficial do Brasil tem sido favorável à Ucrânia, aos Estados Unidos e à Otan – com a ressalva de que os votos do Brasil são acompanhados de críticas em relação a algumas sanções contra a Rússia, e com a exceção da visita de Bolsonaro a Putin, na véspera da invasão à Ucrânia, que foi criticada por Washington.

O que isso significa em termos práticos o Brasil ser pressionado a tomar uma posição mais incisiva na guerra?

O Brasil já vem sendo pressionado, mas de forma sutil. As críticas dos EUA à visita de Bolsonaro a Putin, na véspera da invasão à Ucrânia, por exemplo, são uma pressão por alinhamento. Os elogios dos EUA aos posicionamentos da diplomacia brasileira quanto à guerra na Ucrânia, em que o Brasil vem votando contra a Rússia no Conselho de Segurança e na Assembleia Geral, também são uma forma de pressão

Portanto, neste momento, as pressões são por alinhamento diplomático, no caso das votações na ONU, por exemplo, e comercial, no caso da compra de fertilizantes da Rússia. Se a guerra escalar, ou seja, se mais países começarem a atuar diretamente com atos de força, o Brasil pode ser pressionado a tomar partido de alguma forma mais incisiva. Uma dessas formas seria, por exemplo, fornecer munição de tanques de guerra para a Ucrânia.

Dito isto, é preciso lembrar que a neutralidade [em questões internacionais] está prevista na Constituição brasileira, e que, apesar disso, Bolsonaro buscou uma aproximação militar com os Estados Unidos ao se tornar parceiro preferencial extra-Otan.

O Brasil estaria dialogando com a Alemanha para enviar munições para os tanques de guerra na Ucrânia. A possível colaboração do Brasil no conflito pode ser resultado de uma pressão dos membros da Otan?

Até o momento, isso é apenas uma hipótese. Se o envio das munições ocorrer, isso configura um envolvimento do Brasil no conflito, mas creio que o status de parceiro extra-Otan não tem a ver com isso. O que acontece é que os tanques Flakpanzer Gepard que serão enviados pela Alemanha à Ucrânia para defesa antiaérea foram desenvolvidos nos anos de 1960, colocados em operação nos anos de 1970, e deixaram de ser operados pelos alemães em 2010. Logo, há falta de munição.

Em 2013, quando o Brasil comprou os tanques Gepard da Alemanha e teria adquirido grande quantidade de munição. Especialistas dizem que, mesmo se o Brasil fizer todos os exercícios militares previstos com os tanques, ainda assim parte da munição teria que ser descartada devido à expiração da validade.

Porém, reforço novamente que o Brasil buscou esse alinhamento na área militar com os EUA, então não seria algo inusitado que fosse chamado a colaborar diretamente no conflito.

O que mudaria nas relações exteriores do Brasil, principalmente com a Rússia, se o governo brasileiro enviar munição para a Ucrânia? O país pode ficar encurralado, por que também depende dos fertilizantes da Rússia, por exemplo?

Isso está no campo da especulação, mas podemos comparar com o caso da Turquia para entender a questão. Conforme mencionei anteriormente, a Turquia é membro da Otan e fornece drones para a Ucrânia combater a Rússia. Ainda assim, a relação entre Rússia e Turquia é relativamente estável. Uma evidência disso é que algumas rodadas de negociação entre Rússia e Ucrânia têm sido realizadas em solo turco.

Devemos ter em mente que as relações entre países costumam ser pragmáticas. Fato é que o Brasil é um dos membros do grupo Brics, que também inclui Rússia, além da Índia, China e África do Sul. Trata-se de um grupo sem caráter militar e informal, ou seja, não tem status de organização internacional, mas tem algumas características formais, como o Banco dos Brics, por exemplo. Mas a existência do grupo econômico demonstra que há interesse dos países membros de se aproximarem.

Como você explicou, o Brasil vem votando contra a Rússia na ONU, porém, sempre com críticas às sanções contra Putin. Isso pode ser interpretado como uma posição dúbia?

A diplomacia brasileira está seguindo um posicionamento padrão e tem votado contra a Rússia nas questões mais importantes – no Conselho de Segurança e na Assembleia Geral, por exemplo.

No único posicionamento recente em que não votou contra, o Brasil se absteve na votação que excluiu a Rússia do Conselho de Direitos Humanos. Ou seja, não votou contra, mas também não votou a favor.

Bolsonaro, por outro lado, não condenou a invasão russa. Também é verdade que os Estados Unidos criticaram Bolsonaro por visitar Putin na véspera da invasão e que a Rússia cita o Brasil como um país que entende os objetivos russos na Ucrânia. Porém, até o presente momento, não há consequências para as relações bilaterais do Brasil no contexto da guerra na Ucrânia.

Essa posição conflitante entre Bolsonaro e a própria diplomacia brasileira pode levar Joe Biden a remover o status de extra-Otan do Brasil?

Isso é improvável. Os EUA têm interesse de que o Brasil mantenha esse status. Além disso, as eleições presidenciais no Brasil estão próximas e não há motivação, nem seria sensato, propor uma mudança no status neste momento.

O que os EUA ganham em ter aliados extra-Otan na América Latina, como o Brasil e a Argentina?

Para os Estados Unidos, há algumas questões centrais na América do Sul. Primeiro, a Venezuela, com a qual houve reaproximação pontual recente dos EUA, mas apenas para isolar mais a Rússia e conseguir fornecimento de petróleo.

Segundo, o aumento da influência da China na região. Algumas análises são no sentido de que a parceria poderia ser uma retomada da Doutrina Monroe. De qualquer forma, como foi uma parceria feita majoritariamente por influência pessoal, os resultados das últimas eleições presidenciais no EUA tiveram influência sobre ela. Da mesma forma, os EUA devem aguardar os resultados das eleições presidenciais no Brasil para tomar decisões sobre essa parceria.

Em relação à soberania nacional, o status de extra-Otan pode constranger o Brasil a ceder à criação de bases da Otan em território nacional, como na Amazônia, ou ceder em infraestruturas nacionais, como o Centro de Alcântara?

O status extra-Otan, por si só, não prevê o constrangimento da soberania do Brasil. Seria necessário algum acordo bilateral com os Estados Unidos para a criação de bases no Brasil. Porém, se isso acontecesse, as bases seriam dos Estados Unidos e não da Otan, pois tanto o status extra-Otan, tanto qualquer eventual acordo se daria com os americanos, não com a Otan.

Em um balanço desses três anos como aliado extra-Otan, o status trouxe vantagens políticas e econômicas para o Brasil?

O status pode ajudar o Brasil a obter tecnologias e acordos de salvaguardas que beneficiam programas tecnológicos no setor aeroespacial, no qual 90% dos mecanismos são produzidos pelos Estados Unidos. A

lém disso, pode haver benefícios na autorização de uso de mecanismos do Gripen NG – a turbina e o radar, por exemplo, são tecnologias estadunidenses. Também a aquisição de tecnologias para o submarino de propulsão nuclear brasileiro pode ser um aspecto positivo. Isso tudo, porém, ainda são apenas expectativas.

O status de aliado preferencial extra-Otan dos Estados Unidos não funciona sem alinhamento político. Como disse, o governo brasileiro buscou esse alinhamento de forma pessoal, entre os presidentes Bolsonaro e Trump. Contudo, Trump foi derrotado nas eleições de 2020 e Bolsonaro, que havia declarado apoio direto à sua reeleição, demorou mais de um mês para reconhecer a vitória de Biden.

Em outubro de 2021, 63 congressistas estadunidenses, o que representa um quarto da bancada do Partido Democrata na Câmara dos EUA, enviaram uma carta a Biden pedindo que o status do Brasil fosse cancelado, por conta de declarações e atos de Bolsonaro. O status não foi revogado, mas é notório que a relação de Bolsonaro com Biden não é de proximidade. É claro que isso se traduz na ausência de vantagens estratégicas aqui mencionadas para o Brasil por parte dos EUA.

Se o Brasil priorizar o seu interesse nacional, o status pode, futuramente, fomentar a base industrial de defesa brasileira, mas é preciso que qualquer alinhamento não seja feito de forma automática, já que a Estratégia Nacional de Defesa prevê ações integradas empreendidas pelo Estado, indústria e meio acadêmico, de forma sinérgica, buscando a atualização e a independência tecnológica. O Brasil não pode usar o status para se tornar dependente de tecnologias estadunidenses. 

Deutsche Welle

Nova Rússia: o sonho imperial de Putin a ocupar desde Donbas até à Transnístria




O termo "Novorossiya" surgiu no século XVIII e os territórios do sudeste da Ucrânia faziam parte deste projecto.

Depois de as forças russas terem falhado durante semanas nas suas tentativas de apreender Kiev, Moscovo anunciou que o seu principal objectivo agora é o "controlo total" da região de Donbas e do sul da Ucrânia, o que permitiria ao Presidente russo Vladimir Putin criar um corredor terrestre para a península da Crimeia, anexado pela Rússia em 2014. A única ligação terrestre que existe actualmente entre a Rússia e a Crimeia é uma ponte.

A intenção de Putin é "um golpe na mesa", segundo Josep Puigsech, professor de História Contemporânea na Universidade Autónoma de Barcelona (UAB), em declarações à RTVE.es. "Na medida em que esta guerra tem tido lugar, Putin é obrigado a apresentar sucessos à sua população, e um seria a ocupação daquela parte do território do sudeste da Ucrânia, tocando o território da Crimeia, que é inquestionavelmente um grande emblema do nacionalismo russo", explica. O corredor seria também uma "porta de entrada" para a Transnístria, uma região separatista pró-russa na Moldávia, admitiu um general russo.

O projecto russo de criar um corredor da Crimeia para leste tem um precedente: 'Novorossiya' ou 'Nova Rússia'. "Este projecto data do século XVIII e tomou forma durante o tempo de Catarina a Grande", explica José Ángel López, professor de Direito Internacional e Relações Internacionais na Universidade Pontifícia de Comillas. "O que ele estava a fazer era precisamente estabelecer este corredor que ligaria a fronteira mais ocidental da Rússia com os distritos orientais da Ucrânia", acrescenta ele.

Corredor da Crimeia para o Oriente, uma vantagem geoestratégica para a Rússia

O vice-comandante do Distrito Militar Central da Rússia, Rustam Minnekayev, admitiu que Moscovo procura "controlo total" sobre o sul da Ucrânia e a região de Donbas como parte da "segunda fase" da sua "operação militar especial".

Segundo o general, o controlo destas áreas "permitiria estabelecer um corredor terrestre para a Crimeia e ganhar influência sobre instalações vitais da economia ucraniana e portos do Mar Negro através dos quais os produtos agrícolas e metalúrgicos são enviados para outros países". Actualmente, a única ligação terrestre é uma ponte que liga a Rússia à península da Crimeia, que foi anexada em 2014.

O comandante militar fez as observações um dia depois do Ministro da Defesa russo Sergey Shoigu ter informado o presidente russo de que a cidade ucraniana de Mariupol, situada entre áreas controladas por separatistas russos e a Crimeia, tinha sido apreendida pelas tropas russas. Cerca de mil civis ucranianos permanecem na cidade portuária e cerca de 500 militares estão a resistir aos ataques russos da área da fábrica de aço Azovstal.

O Professor José Ángel López argumenta que a criação deste corredor terrestre é importante para a Rússia porque "dá-lhe acesso a mares de água quente". "O que faz é desbloquear a saída do Mar de Azov e do Mar Negro para o Mar Mediterrâneo, e isto é muito importante do ponto de vista geoestratégico", sublinha o perito, que afirma que também é importante "do ponto de vista comercial, para a transferência de mercadorias, de recursos energéticos e, ao mesmo tempo, permite [à Rússia] ter o controlo de toda a saída marítima ucraniana".

Pela sua parte, o professor da Universidade Autónoma de Barcelona explica que "a Crimeia era para o Império Russo e a União Soviética uma área chave em termos de controlo do Mar de Azov e do Mar Negro".

Projecto histórico resgatado por Putin

Vladimir Putin também olha na direcção da Moldávia. O General russo Minnekayev - no mesmo discurso - salientou que o controlo sobre o sul da Ucrânia é "uma forma de aceder à Transnístria, onde também existem provas de discriminação contra os residentes de língua russa".

As autoridades transnistrianas decidiram declarar unilateralmente a independência da Moldávia, na sequência de um conflito armado entre 1992 e 1993, no qual receberam apoio russo. Ao abrigo de um acordo para pôr fim à guerra, no qual centenas de pessoas foram mortas, a Rússia enviou 2.400 soldados para a área para, segundo afirma, assegurar a paz.

Nos últimos dias, as tensões aumentaram na região separatista moldava, onde os secessionistas pró-russos relataram até três ataques a uma unidade militar perto da capital Tiraspol.

O antigo Segundo Chefe do Estado-Maior da Marinha, Almirante Ángel Tafalla, salienta que "se a Rússia tentar controlar o acesso à Transnístria, seria um grande negócio". "Ligar-se à Transnístria significa tomar Odessa e cortar o acesso da Ucrânia ao mar. É como se a Espanha perdesse todo o Golfo da Biscaia e toda a costa mediterrânica", diz ele.

"É como se a Espanha perdesse todo o Mar Cantábrico e toda a costa mediterrânica".

No entanto, o projecto do Kremlin de criar um corredor da Crimeia para leste "não é a novidade de Putin", segundo o Professor Puigsech. "É um elemento que recaptura e liga ao imperialismo histórico russo dos séculos XVIII e XIX, que visava expandir as fronteiras da Rússia tanto a leste como a oeste", diz ele.

Novorossiya', ou Nova Rússia, é um termo geográfico que surgiu pela primeira vez durante o reinado de Catarina, a Grande, em 1764. Os territórios do sudeste da Ucrânia que faziam parte deste projecto são agora o alvo das principais operações militares da Rússia na Ucrânia.

"Este projecto destinava-se precisamente a estabelecer um corredor que ligasse a fronteira mais ocidental da Rússia com os distritos orientais da Ucrânia. Descia pela área de Mariupol, a península da Crimeia e Sevastopol, e por fim ligava-se ao enclave da Transnístria", explica o Professor López.

Odessa, um elemento essencial para o sucesso de Putin

Depois de controlar praticamente toda Mariupol, outra cidade ucraniana chave para a Rússia criar o corredor terrestre é Odessa. "Se for bem sucedido - de um ponto de vista geopolítico, geoestratégico e comercial - seria certamente uma vitória muito importante", diz o professor da Universidade Pontifícia de Comillas.

Neste sentido, Puigsech explica que Odessa "é absolutamente essencial porque é o grande porto histórico que moldou toda esta faixa da costa sul que banha o Mar Negro". "Odessa desempenhou um papel geoestratégico não só para a Rússia, mas também para o nacionalismo romeno, que teve a ideia de criar uma Grande Roménia durante a Segunda Guerra Mundial. A ideia era colocar Odessa como a capital de uma região a que chamaram Transístria, o que lhes permitiu controlar toda esta faixa do Mar Negro e até incorporar Odessa como parte do estado romeno", diz ele.

Por seu lado, o Almirante Tafalla assinala que se a Rússia atacasse esta cidade portuária, "o seu projecto seria deixar uma Ucrânia inviável, totalmente danificada economicamente ao cortar o seu acesso ao mar de ambos os lados: via Mariúpol e Odessa". Além disso, o antigo segundo comandante da marinha sublinha que "se o comando ucraniano determinar que os russos estão seriamente empenhados em rumar para Odessa, eles fariam o máximo esforço e, tendo em conta que são apoiados pela barreira natural do rio Dniester, que é um pedaço de rio, especialmente no seu último trecho, teriam muita dificuldade".
A provável renúncia de Putin ao controlo total da Ucrânia

Após o início da invasão russa da Ucrânia a 24 de Fevereiro, as forças russas chegaram às cidades da periferia de Kiev em poucos dias, mas depois de sofrer pesadas perdas, Moscovo falhou nas suas tentativas de tomar a capital ucraniana e outras cidades centrais.

"Putin tentou um golpe de mestre que saiu pela culatra, que foi criar um governo fantoche em Kiev e assim dominar toda a Ucrânia. Isso saiu pela culatra porque lhe fizeram frente no norte e foram derrotados", diz o Almirante Tafalla, que assinala que "o erro cometido no início só pode ser causado pelo desprezo pelo exército ucraniano".

Segundo o Almirante Tafalla, Putin está "claramente envolvido nisto" e não acredita que o presidente russo "solte a sua mordidela a não ser para morder com mais força noutro lugar ou noutra altura".

Moscovo concluiu no início de Abril a retirada das suas forças nas regiões do norte da Ucrânia e em torno da capital, um movimento que poderia ser interpretado como a renúncia de Putin ao controlo total do país. No entanto, segundo o Professor López, "o que ele pode ter feito no início pode ter sido uma espécie de apalpação ou manobra de diversão sobre quais foram os seus objectivos definitivos".

Na mesma linha, Puigsech salienta que "a questão que temos de nos colocar é se Putin alguma vez considerou realmente o controlo absoluto do território ucraniano". "A leitura do mundo ocidental e das próprias autoridades ucranianas é que Putin queria ter o controlo militar sobre todo o território ucraniano, algo que nunca foi reconhecido por Putin", acrescenta ele.

POR LAURA GÓMEZ DÍAZ

SWI

Prefeito e vice prefeito - Distruidor do Futuro de Jeremoabo.

 







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Essa destruição do Parque de Exposição de Jeremoabo tornou-se um assunto cantado e decantado; porém, providências até o momento nenhuma.

O comentário geral é que o prefeito juntamente com o seu vice-prefeito, estão concretizando uma ato de vingança contra os gestores passados; mero engano, esse ato de vandalismo atinge o patrimônio público, é o dinheiro do povo jogado fora.

A população revoltada e indignada condena o (des)governo, mais precisamente o gestor e seu vice, porém, esquecem que mais culpado do que o prefeito são os 13(treze)vereadores, que ganham para fiscalizar e defenderder o município, no entanto, embomam muito e nada fazem, e o pior, a situação ainda prabenizam  nas sessões as atitudes nefastas do gestou e seus secretários.
E por falar em secretário, o que justifica o Secretário de Agricultura a respeito dessa depredação do bem público?

Há mais de mês que os vereadores efetuaram uma " fiscalização" no Parque de Exposição, tiraram fotos, filmaram, denunciaram da trinuna e etc.

A pergunta que não cala è: os 13(treze)vereadores Protocolaram na Justiça alguma Ação Popular para denunciar Crime Ambiental, Crime de Responsabilidade e Crime por Improbidade Adminsitrativa?
Enquanto isso, Perrechel que causou menos danos ao patrimônio públicou muito menor do que o prefeito e seu vice, foi preso, dizem que irá ressarcir o prejuizo e ainda responder  processo; no entanto, o prefeito que é mais igual, está ai zombando da cara do povo e dos vereadores. 


O Cafezinho



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