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quarta-feira, junho 16, 2021

Acima da lei, os ministros do STF parecem viver inebriados pelo poder e pela vaidade


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Charge do Alpino (Yahoo Notícias)

Carlos Alberto Di Franco
Estadão

O noticiário cotidiano, pautado pela crescente polarização da sociedade brasileira, não tem dado o devido destaque a alguns fatos de extrema gravidade. Ficamos, todos, imersos no show político de Brasília e não vamos fundo no registro e na análise de acontecimentos que, aos poucos, vão minando os pilares da democracia brasileira.

Refiro-me, especificamente, aos sucessivos e preocupantes desvios do Supremo Tribunal Federal (STF). O último deles mostrou que a Corte já não se dá ao trabalho de guardar as aparências. Tudo é feito às claras, com arrogância daqueles que se consideram estar acima de tudo.

BLINDANDO TOFFOLI – Uma decisão do STF tomada por meio do plenário virtual, sem transmissão pela TV Justiça, enterrou qualquer possibilidade de investigação contra um de seus ministros, Dias Toffoli. Como se sabe, o ministro Edson Fachin já havia negado liminarmente autorização para a Polícia Federal investigar a denúncia, feita pelo ex-governador Sérgio Cabral, de que Toffoli teria vendido sentenças quando era presidente do Tribunal Superior Eleitoral.

Pois bem, o plenário da Corte decidiu anular a delação toda, que Fachin, ele mesmo, havia homologado no início de 2020. O pedido de anulação veio da Procuradoria-Geral da República (PGR), que não participou do acordo de colaboração premiada.

Toffoli negou as acusações e a argumentação da PGR foi aceita por sete ministros e rejeitada por quatro.

SUSPEITÍSSIMO – Não vou discutir aqui os malabarismos processuais e técnicos que embasaram as alegações da PGR. Destaco, com indignação e em caixa alta, o verdadeiro escândalo que, a meu ver, não recebeu o destaque devido: o de um magistrado que não se declara suspeito e vota em causa própria.

Como salientou editorial do jornal Gazeta do Povo, “ao votar em um julgamento cujo resultado lhe interessava diretamente, Toffoli diz ao Brasil que os ministros do Supremo realmente consideram estar acima de tudo”.

Diz o artigo 252 do Código de Processo Penal que “o juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que (…) IV – ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito” – e era clamoroso o interesse de Dias Toffoli no sepultamento da delação de Cabral.

DISSE MARCO AURÉLIO – O ministro Marco Aurélio Mello criticou o colega em entrevista ao portal UOL: “No lugar dele (Toffoli), teria me declarado impedido (…). Julgar em causa própria é a pior coisa para o juiz. Eu esperava que ele saísse do processo”, afirmou o decano da Corte.

“Por isso é que o Supremo hoje em dia quase não é levado a sério. Isso é péssimo em termos institucionais. Perde a instituição. Não estou atacando o colega. Estou defendendo a instituição que integro”, comentou Marco Aurélio.

A atitude de Dias Toffoli não inaugura o placar do jogo surreal. Quando há interesses em campo, suspeições viram regras abstratas e fictícias.

LA NAVE VÀ – Dias Toffoli vota pela anulação de uma delação que poderia, e deveria, levá-lo a ser alvo de investigações, assim como também votou no julgamento do mensalão, ainda que seu ex-chefe José Dirceu fosse um dos réus; da mesma forma, Gilmar Mendes já mandou soltar um empresário do setor de transportes carioca, mesmo sendo padrinho de casamento da filha do investigado.

Mas a mesma Corte, de costas para os fatos e para a sociedade, declarou uma suspeição, sem base nem nos fatos nem no direito processual, contra o ex-juiz Sergio Moro. E la nave và.

Não me canso de reafirmar meu respeito pelo Supremo Tribunal Federal enquanto instituição essencial da República. No entanto, as instituições não são abstrações. Encarnam nas pessoas que as compõem. A credibilidade da Corte depende, e muito, das atitudes de seus integrantes. É a base da legitimidade. Perdida a credibilidade, queiramos ou não, abre-se perigoso atalho para o questionamento da legitimidade.

SEM CREDIBILIDADE – O STF, infelizmente, não tem contribuído para fortalecer sua credibilidade. É hoje, lamentavelmente, uma das instituições com maior rejeição. E isso é um grave risco para a democracia. Já passou da hora de os ministros saírem da bolha da arrogância e fazerem uma séria e honesta autocrítica.

 A sociedade está farta de inúmeras decisões do STF. E a instituição, goste ou não, está mergulhada em gravíssima crise de imagem.

O Supremo Tribunal Federal tem ultrapassado todos os limites nas suas enviesadas leituras da Constituição, do Direito e dos fatos. Tem-se a impressão de que os ministros, protegidos pelo ambiente rarefeito da Corte, perderam a conexão com o mundo real. Vivem inebriados com o poder e seduzidos pela vaidade.

FICHA SUJA DE LULA – A higienização da ficha suja de Lula e a condenação de Moro configuram um sistema de governo imprevisto na Constituição republicana: a ditadura do Poder Judiciário.

Como já disse neste espaço opinativo, acho difícil, muito difícil, que a imensa maioria da sociedade brasileira, honrada, trabalhadora e sacrificada, aceite viver sob uma tutela injusta e arbitrária.

Cabe à sociedade, com vigor e firmeza, pressionar o Senado para o necessário e urgente realinhamento e a superação dos desvios do Supremo Tribunal.


Cometidos por ação ou omissos, crimes da pandemia já foram comprovados pela CPI


Charge do Tiago Recchia (Arquivo Google)

Carlos Alberto Sardenberg
O Globo

Chamou a atenção o forte aplauso da plateia quando o presidente Bolsonaro disse que o “tal de Queiroga” estava preparando um parecer para dispensar o uso da máscara para vacinados e pessoas que já tiveram a Covid-19. O aplauso denunciou o que o presidente e sua turma pensam da máscara: um símbolo de fraqueza, frouxidão e oposição a seu governo.

Por pouco, Bolsonaro não atirou no chão a máscara que não usava.  Radicalizou de novo. Ciência deixada de lado — o que não é novidade —, a situação se encaminha para um conflito social e nas ruas: bolsonaristas não usam máscara; quem usar, pois, é inimigo.

EXAGERO? – Seguramente não. O presidente ostensivamente aglomera sem máscara. E reclama quando encontra algum seguidor com a máscara.

Comete crime duas vezes. Primeiro, porque ele mesmo pode infectar os que estão por perto. Já se sabe que as pessoas podem pegar a doença mais de uma vez. O fato de Bolsonaro já ter adoecido não o torna imune. E, segundo, porque incita as pessoas a saírem por aí infectando outras. Também se sabe que vacinados podem pegar formas leves da Covid-19, tornando-se, nesse momento, fonte de transmissão do vírus.

Também nesta semana ficamos sabendo de outra grave irregularidade cometida pelo presidente. Documentos obtidos pela CPI mostram que Bolsonaro telefonou ao premiê da Índia, Narendra Modi, para solicitar a liberação de cargas de insumos de cloroquina para duas empresas, EMS e Apsen.

FAZENDO LOBBY – Não sei se é crime, os juristas dirão, mas o presidente não pode usar de seu cargo para atender a interesses particulares de empresas. Tem mais: o presidente de uma das empresas, Renato Spallicci, da Apsen, é seguidor de Bolsonaro desde antes de 2018.

Tudo errado. Inclusive a primeira declaração da Apsen, feita na quinta-feira, quando a história foi divulgada na CPI. Em nota, a empresa jurou que não tinha nada a ver com o presidente, que atuava no mercado e coisa e tal.

Já contei aqui aquele ensinamento da psicanálise. Quando alguém, sem ser questionado, nega veementemente ter feito algo, pode cravar: é falso.

CAMPANHA ELEITORAL – Mais ainda: o presidente está em campanha direto. Aliás, parece que não gosta muito de trabalhar, não parece? Viaja toda hora. Está inaugurando até bica d’água, como se diz na velha política.

Verdade que às vezes dá azar: sem ter nada a fazer ali, resolveu entrar num avião da Azul que estava estacionado no aeroporto de Vitória. Pretendia apenas cumprimentar os passageiros. Tomou vaia.

A questão é: quem vai colocar o guizo no gato? Como o presidente aparelhou órgãos policiais e de investigação — estão sendo processados os investigadores —, sobra a CPI. E esta vai bem.

DOCUMENTOS SIGILOSOS – Na semana passada, a comissão passou dos depoimentos midiáticos — mas com alguns bem reveladores — para a fase de análise dos documentos sigilosos, já devidamente vazados.

Também determinou a quebra do sigilo telefônico e telemático de diversas autoridades, membros e ex-membros do governo Bolsonaro. Por essa via, se verá como foram tomadas as decisões de atrasar a compra das vacinas, de inventar o tratamento precoce, de tentar a imunidade de rebanho. Terá sido um programa organizado?

É muito provável que, nessas quebras de sigilo, apareçam diálogos com o presidente. E se ele, em público, fala o que fala, imaginem em privado. Lembram-se daquela reunião ministerial que era para ficar em segredo?

CRIMES DEFINIDOS – Tudo considerado, parece que já temos crimes bem definidos. O que falta à CPI, seu próximo trabalho, é ouvir os juristas para saber como tipificar os delitos. Isso vai para o relatório final, daí para as autoridades que podem agir, legalmente, bem entendido, contra o presidente.

O clima político vai esquentar. A recuperação desigual da economia pode amortecer alguma coisa, mas não tudo isso que vai aparecendo.

A ver.

Tribunal Superior Eleitoral - CONSULTA PÚBLICA UNIFICADA - PJE

https://consultaunificadapje.tse.jus.br/#/public/inicial/index 

Ministério vai repassar R$ 1,9 mi a 36 cidades da Bahia para Atenção Primária à Saúde

por Jade Coelho

Ministério vai repassar R$ 1,9 mi a 36 cidades da Bahia para Atenção Primária à Saúde
Foto: Ilustrativa/ Manu Dias/GOVBA

As Atenções Primárias à Saúde de 36 municípios da Bahia receberão  incentivo financeiro de cerca de R$ 1,9 milhão do Programa Previne Brasil, do Ministério da Saúde. A portaria que prevê a transferência de recursos foi publicada no Diário Oficial da União desta quarta-feira (16). 

 

Segundo o Ministério, o objetivo do programa é ampliar o acesso e qualificar o atendimento nos mais de 41 mil postos de saúde do país.

 

Esses 36 municípios receberão, juntos, R$ 1.953.594,60 no segundo quadrimestre do ano de 2021.

 

Os municípios baianos contemplados são: Barro Alto; Bom Jesus da Lapa; Bom Jesus da Serra; Bonito; Capim Grosso; Coaraci; Contendas do Sincorá; Dom Macedo Costa; Elísio Medrado; Gavião; Gongogi; Governador Mangabeira; Ibicaraí; Ibiquera; Ichu; Itabela; Itagimirim; Itamaraju; Itaquara; Itororó; Jaborandi; Jacaraci; Jandaíra; Jitaúna; Jussari; Licínio de Almeida; Maetinga; Matina; Mirante; Nova Ibiá; Piripá; Poções; Presidente Dutra; Presidente Jânio Quadros; São Félix; São Félix Do Coribe.
 

 

O dinheiro será transferido mensalmente do Fundo Nacional de Saúde aos Fundos Municipais e Distrital de Saúde e o cálculo levou em consideração a população de cada cidade.

 

O Ministério informou que os valores variam de R$ 5 mil a R$ 5 milhões de um total de mais de R$ 416 milhões, de acordo com o índice populacional.

Bahia Notícias


Nota da redação deste Blog - Enquanto isso Jeremoabo nada.

Ou, também só pensa em parir!!!

Bolsonaro escanteia Mourão, que não é mais convidado para reuniões ministeriais


O vice-presidente Hamilton Mourão em imagem do dia 7 de junho, durante chegada ao Palácio do Planalto — Foto: Guilherme Mazui/G1

“Sinto falta”, diz Mourão, mas o rompimento é definitivo

Guilherme Mazui
G1 — Brasília

O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, afirmou nesta terça-feira (15) que sente “falta” de ser convidado para participar das reuniões de trabalho do presidente Jair Bolsonaro com os ministros do governo federal.

Bolsonaro se reuniu pela manhã com ministros para discutir ações do governo, compromisso que não constava na agenda do presidente. Ao chegar ao seu gabinete, Mourão foi perguntado por jornalistas se havia sido chamado para o encontro. “Não, não fui convidado”, respondeu o vice.

“SIM, SINTO FALTA” – Indagado se sente falta de participar das reuniões, o que ocorria nos dois primeiros anos do governo, Mourão admitiu que sim, e alegou que fica sem saber o que acontece na administração de Bolsonaro.

“Sim, sinto falta. Sinto falta. A gente fica sem saber o que está acontecendo”, disse. “É importante que a gente saiba o que está acontecendo, né? Paciência, né? C’est la vie [é a vida], como dizem os franceses”, acrescentou.

Desde o início do ano Mourão tem sido excluído das reuniões de Bolsonaro com ministros. O presidente evita convocar reuniões do chamado conselho de governo, que inclui o vice, e realiza encontros com seu time ministerial, que não são incluídos na previsão de agenda divulgada pelo Palácio do Planalto.

FOI ESCANTEADO – Em fevereiro, Mourão comentou sua exclusão das reuniões e disse à época que não estava incomodado com a situação. “Não fui convidado. Não fui chamado. Então, acredito que o presidente julgou que era desnecessária minha presença. Só isso”, disse o vice na oportunidade.

Bolsonaro e aliados criticam desde 2019 o hábito do vice de conceder entrevistas à imprensa. A relação presidente e vice piorou no início do ano, depois do vazamento de mensagens de um assessor de Mourão, que mencionava a possibilidade de o chefe assumir o governo.

Mourão tem repetido em entrevistas que, apesar de não ter discutido o assunto com Bolsonaro, sente que não será o candidato a vice-presidente na chapa de reeleição. Ele avalia concorrer ao Senado pelo Rio Grande do Sul.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG 
– Se tiver um pingo de juízo, Mourão será candidato a deputado federal e pode contar que já está eleito. Para senador, será uma vaga só, a barra é muito mais pesada e Mourão pode pagar o mesmo mico da presidenta ou presidanta Dilma Rousseff. A vida é assim – vivendo e aprendendo. Ou, como cantava Elis Regina, “vivendo e aprendendo a jogar”, na genial canção de Guilherme Arantes. (C.N.)


Após ter sido chamado de “Bolsonero” pela “The Economist”, o presidente quer fazer jus ao apelido


Charge do Waniel Jorge (Pinterest)

Elio Gaspari
Folha/O Globo

Quando Joe Biden venceu a eleição americana, Jair Bolsonaro levou mais de um mês para felicitá-lo. Sua diplomacia acreditava na lorota de Donald Trump, que dizia ter sido roubado.

Quatro dias depois da eleição de Pedro Castillo, o capitão disse que “perdemos agora o Peru”, pois a seu juízo “só um milagre” reverterá a derrota de Keiko Fujimori.

Demorou para reconhecer um resultado e apressou-se para admitir o outro.

FATO ÚNICO – Nomeando Marcelo Crivella para a representação do Brasil na África do Sul, Bolsonaro entra para os anais da diplomacia como o primeiro chefe de Estado a nomear um embaixador que está proibido de deixar o país pela Justiça.

E depois de ter sido chamado de “Bolsonero” pela revista Economist, o capitão ganhou uma, na Inglaterra. O British Museum abriu a exposição “Nero, o homem atrás do Mito”.

O imperador romano é dado por doido. Nero teria cantado durante o incêndio de Roma, em julho de 64. Coisa de milicianos da História, pois ele não estava na cidade.

Depois que Nero se matou, Roma foi governada por três generais num só ano. Nasceu assim a expressão “anarquia militar”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Em 2019, dois anos antes da “The Economist” criar o personagem Bolsonero, o chargista Waniel Jorge já tinha retratado o presidente nessa situação, com um traço brilhante. (C.N.)

É hora de revisitar uma espetacular obra de engenharia política — a redemocratização

Publicado em 16 de junho de 2021 por Tribuna da Internet

Charge do Galhardo (Arquivo Google)

Eliane Cantanhêde
Estadão

Depois de apoiar a ditadura militar durante anos na Arena e no PDS, os então senadores Marco Maciel (PE), Guilherme Palmeira (AL) e Jorge Bornhausen (SC) tiveram um papel relevante ao liderar a dissidência parlamentar e aderir ativamente às “Diretas-Já” e à articulação para a eleição do oposicionista Tancredo Neves, do MDB, em 1984.

Ex-governador de Pernambuco e vice-presidente nos oito anos de Fernando Henrique Cardoso, Marco Maciel morreu no sábado de covid, agravada por uma longa doença. Ex-governador de Alagoas, Guilherme Palmeira morreu em maio do ano passado. Ex-governador de Santa Catarina, Bornhausen continua curioso e ativo, aos 83 anos, na iniciativa privada.

NAS DIRETAS-JÁ  – Alinhados ao general e ex-presidente Ernesto Geisel, mentor e garantidor da “abertura lenta, gradual e segura”, e ao ex-governador de Minas Aureliano Chaves, vice do general João Figueiredo no último governo militar, os três, Maciel, Palmeira e Bornhausen, chacoalharam o PDS, abriram canais com setores militares insatisfeitos com o governo Figueiredo e integraram a heterogênea frente de resistência e de pressão pela redemocratização e as “Diretas-Já”.

Com o fim da “emenda Dante de Oliveira” na Câmara, por 22 votos, o passo seguinte foi manter e ampliar a frente contra a eleição do ex-governador de São Paulo, Paulo Maluf. Era certo e sabido que ele venceria a convenção do PDS, contra os candidatos do governo e da ala geiselista, mas a dissidência do partido foi decisiva para derrotá-lo no colégio eleitoral, ou seja, no Congresso.

SEM UM TIRO… – A derrota foi acachapante, o eleito foi o moderado Tancredo e assim o Brasil encerrou 21 anos de torturas, mortes e desaparecimentos, “sem um tiro, sem uma gota de sangue”. O fim do regime não foi em guerra, foi em festa. Maciel, Palmeira e Bornhausen, assim como Aureliano e senadores e governadores como Agripino Maia (RN) e Hugo Napoleão (PI), tiveram lugar assegurado.

O maranhense José Sarney aderiu num estágio mais avançado e com estardalhaço, ao chegar à convenção nacional do PDS com um revólver na cinta. Governador da Bahia, Antonio Carlos Magalhães, o ACM, só pulou no barco em segurança, com ventos mais amenos. Mas Sarney foi o vice na chapa e virou presidente porque Tancredo adoeceu antes da posse. E ACM se arvorou “dono” do grupo.

Como os dissidentes liderados por Maciel, Palmeira e Bornhausen já tinham o carimbo de “Frente Liberal”, o partido criado por eles em 1985, primeiro ano da redemocratização, virou o Partido da Frente Liberal (PFL), que se afirmou a ponto de ter Marco Maciel na vice de Fernando Henrique. Um vice que todo presidente pediu a Deus: estudioso, discreto, trazia soluções, não problemas.

A FORÇA DA UNIÃO – A morte de Marco Maciel traz luzes sobre essa história, tão recente, mas tão esquecida, que contém bons ensinamentos a quem hoje tem liderança e enorme responsabilidade. O primeiro deles é tão velho e surrado quanto útil: a união faz a força, já o preconceito e os interesses puramente pessoais dividem e implodem as melhores estratégias.

Sair da ditadura exigiu coragem e apoio de trabalhadores, empresários, estudantes, professores, médicos, advogados, jornalistas, Igreja Católica, os melhores cérebros militares e a classe média brasileira. A esquerda assumiu a linha de frente, mas a redemocratização foi uma obra de engenharia de esquerda, centro e direita responsável.

Como toda obra, exige manutenção constante, principalmente em meio a tensões e riscos às instituições, com o populismo audacioso aglomerando incautos e combatendo não só isolamento, máscaras e vacinas na pandemia, mas a própria democracia. Não custa lembrar: democracia é cheia de defeitos, mas ainda não se inventou nada melhor.


Pesquisa confirma que Bolsonaro provoca um ”otimismo irreal” em relação à covid

 


Ilustração reproduzida do Arquivo Google

Carlos Pereira
Estadão

Pessoas tendem a superestimar as chances de experimentar resultados favoráveis ou subestimar as chances de obter resultados desfavoráveis. Esse comportamento é conhecido como viés de otimismo e se manifesta em diversos contextos.

Por exemplo, indivíduos tendem a subestimar o risco de ganhar peso e contrair doenças cardíacas; mesmo quando fumantes, avaliam como baixo o risco de contrair câncer de pulmão; dirigem de forma arriscada quando consideram que são baixas as chances de se envolverem em acidentes.

FAZ BEM À SAÚDE – O comportamento otimista sobre eventos futuros pode até gerar mais felicidade. Estudos apontam que otimismo estimula o sistema imunológico, diminui o risco de sofrer um AVC, propicia mais sucesso no trabalho, gera pessoas mais saudáveis etc.

Mas o excesso de otimismo pode ser problemático, pois tende a induzir a comportamentos imprudentes e impedir a adoção de medidas de autoproteção.

Por outro lado, comportamentos de autoproteção podem afetar a própria percepção de risco. Por exemplo, ciclistas que fazem uso habitual de capacete tendem a dirigir suas bicicletas de uma forma mais aventureira.

USO DE MÁSCARAS – Será que, no caso da pandemia da covid, medidas de autoproteção, como o uso de máscaras, estimulariam um otimismo irreal e, por consequência, um comportamento mais arriscado?

Para responder a essa pergunta, eu e meus coautores da FGV EBAPE (Yan Vieites, Guilherme Ramos, Eduardo Andrade e Amanda Medeiros) pesquisamos, a partir de dois surveys experimentais com o apoio do Estadão, se o uso de máscara durante a pandemia da covid poderia aumentar a propensão das pessoas a se sentirem mais seguras de não contrair a doença e/ou de desenvolvê-la na sua forma mais branda, e, com isso, se expor a mais riscos.

Pessoas que usam máscara mais frequentemente exibiram viés de otimismo, na medida em que percebem como menor o risco de serem infectadas (suscetibilidade) em relação a outras pessoas da mesma idade, gênero e vizinhança.

SEM OTIMISMO IRREAL – No entanto, o uso de máscara não influenciou de forma sistemática o otimismo irreal quanto ao risco de desenvolver a doença de forma mais grave (severidade).

A pesquisa, que deu lastro a artigo que acaba de ser aceito para publicação no Journal of Experimental Psychology: Applied, e que contou com a participação de 4.054 respondentes entre os dias 25/05 e 01/06 de 2020, também investigou se a ideologia política (esquerda, centro e direita) e a aprovação/reprovação do governo Bolsonaro exacerbariam o viés de otimismo diante do uso de máscara.

INFLUÊNCIA POLÍTICA – Os entrevistados que aprovam a performance do presidente Bolsonaro na pandemia apresentaram uma percepção comparativa de risco mais baixa, tanto para a suscetibilidade de contrair a covid e, especialmente, para a severidade da doença.

Ou seja, os eleitores que aprovam a performance do presidente são mais irrealisticamente otimistas do que os que o reprovam. Quanto maior a aprovação de Bolsonaro, maior a probabilidade de acreditarem que não serão infectados e, se contaminados, experimentariam resultados menos gravosos da covid.

Essa percepção enviesada dos eleitores que aprovam Bolsonaro parece ser consistente com a interpretação do próprio presidente sobre riscos e gravidade da pandemia.

APOIADORES POLÍTICOS – Bolsonaro minimizou a doença desqualificando-a como uma “gripezinha”. Negligenciou a compra de vacinas e fez defesa ostensiva de uso de medicamentos sem comprovação científica para o tratamento precoce, estimulando aglomerações, se opondo ao distanciamento social e não fazendo uso de máscara.

Em suma, conexões de eleitores conservadores com seu líder desconectado da realidade aguçam o otimismo irreal em relação à covid. 

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