Com ministros tendo vergonha na cara, Marco Aurélio será derrotado por 10 a 1
Liminar que obrigaria tramitação de impeachment de Michel Temer é um disparate
NOTA – Post abaixo adapta e funde dois textos escritos nos últimos dias sobre o assunto.
Marco
Aurélio concedeu uma liminar que tenta obrigar a recepção, pela
Presidência da Câmara, de uma denúncia visando a um processo de
impeachment contra Michel Temer, vice-presidente da República. Trata-se
de uma farsa jurídica, de uma fraude intelectual e de uma mentira
factual. E é o que vou demonstrar aqui.
Perdi a
paciência com Marco Aurélio. Que diferença isso faz pra ele? Que seja
nenhuma! Para mim, faz toda. E isso me basta. Mas vou contar por quê. Há
categorias nas quais não admito zonas cinzentas. A honestidade
intelectual é uma delas. Ou se é honesto intelectualmente ou não se é.
Este
senhor saltou o muro cá na minha classificação. É raro alguém me enganar
nessa área, mas impossível não é. Já cheguei a elogiar o que me parecia
a coragem do doutor de andar na contramão, mesmo quando discordei dele.
O arquivo esta aí. Agora vejo o que coragem não era, mas desejo de
aparecer — isso na hipótese virtuosa.
Há um tipo
de oportunismo que cresce à sombra da generosidade alheia. Cedo ou
tarde, a fraude se revela. Já me livrei, no terreno intelectual,
precocemente de algumas farsas. Outras duraram mais tempo. É o caso. E
aí a admiração cede ao fastio. As características que antes pareciam
interessantes se revelam só a reiteração da fraude. É chato! Prefiro
admirar as pessoas a desprezá-las.
Marco
Aurélio surpreendeu o direito, a lógica e o bom senso, há alguns dias,
ao convidar Dilma a recorrer ao Supremo contra a eventual aprovação da
denúncia do impeachment pela Câmara, antecipando desavergonhadamente seu
voto.
Deixou
claro não ver crime de responsabilidade e ainda convidou a todos a um
convescote. O ministro que, não raro, faz questão de ser do contra,
convidou Executivo e Legislativo a se sentar à volta da mesa para
resolver suas diferenças. Com mais ousadia, incluiria também o
Judiciário, entregando o país ao comando do “PUN”: o Partido Único.
Qual é o
busílis? Um advogado chamado Mariel Márley Marra havia protocolado há
tempos na Câmara uma denúncia por crime de responsabilidade contra
Michel Temer, acusando-o de responsável por algumas pedaladas fiscais.
Cunha, sem
ver motivos para tanto, mandou arquivar o pedido. O doutor Mariel
resolveu entrar com um mandado de segurança, com pedido de liminar, para
obrigar o presidente da Câmara a aceitar o pedido, mandando constituir a
comissão para avaliar o caso.
E o que fez Marco Aurélio? Concedeu a liminar:
“Ante o quadro, defiro parcialmente a liminar para, afastando os efeitos do ato impugnado, determinar o seguimento da denúncia, vindo a desaguar na formação da Comissão Especial, a qual emitirá parecer”.
“Ante o quadro, defiro parcialmente a liminar para, afastando os efeitos do ato impugnado, determinar o seguimento da denúncia, vindo a desaguar na formação da Comissão Especial, a qual emitirá parecer”.
O senhor
Marco Aurélio parece querer usurpar para si e para o STF uma função que,
por determinação do Parágrafo 2º do Artigo 218 do Regimento da Câmara, é
exclusiva da Presidência da Casa, a saber:
“§ 2º
Recebida a denúncia pelo Presidente, verificada a existência dos
requisitos de que trata o parágrafo anterior, será lida no expediente da
sessão seguinte e despachada à Comissão Especial eleita, da qual
participem, observada a respectiva proporção, representantes de todos os
Partidos.”
Mas não é
só isso, não. Lembram-se das liminares concedidas por Teori Zavascki e
Rosa Weber contra o rito do impeachment que havia sido decidido por
Cunha? Pois é… Elas fizeram duas coisas, confirmadas pela maioria dos
ministros: suspenderam o rito, MAS REAFIRMARAM QUE É PRERROGATIVA DO
PRESIDENTE DA CÂMARA RECEBER OU RECUSAR A DENÚNCIA. E FIM DE PAPO.
Ora, foi
por isso que, à época, escrevi aqui que os dois ministros não tinham
tirado poder nenhum de Cunha. Só tinham cassado mesmo o de a oposição
recorrer caso o presidente da Câmara tivesse rejeitado a denúncia. O
texto está aqui.
Aliás,
houve até uma coisa engraçada. Deputados petistas resolveram recorrer ao
Supremo contra a decisão de Eduardo Cunha. Anunciaram depois a
desistência porque o relator seria Gilmar Mendes. Com a maledicência
costumeira, afirmaram que não adiantaria mesmo, já que o ministro iria
votar contra o interesse do PT. Era pura patranha. Eles sabiam não haver
a menor chance. Escrevi a respeito aqui no dia 3 de dezembro.
Concedida a
liminar por Marco Aurélio, restará à Presidência da Câmara entrar com
agravo regimental para que os demais ministros decidam. E é claro que a
liminar será derrubada com base no Regimento Interno da Câmara e na
jurisprudência.
Que pena!
Que pena
Marco Aurélio estar a desempenhar esse papel! Há um grande estranhamento
em certos nichos do direito com o seu exótico comportamento. Há, no
entanto, quem o ache explicável e aponte a guinada, vamos dizer,
pró-Planalto de Marco Aurélio depois que a filha, de apenas 37 anos, foi
nomeada pela presidente Dilma desembargadora do Tribunal Regional
Federal da 2ª Região, que abrange o Rio de Janeiro e o Espírito Santo.
Sim, ela
foi a mais votada de uma listra tríplice enviada pelo tribunal à
presidente. Venceu dois profissionais bem mais experientes: Rosane
Thomé, de 52 anos, e Luiz Henrique Alochio, de 43. Comenta-se que o
Planalto se movimentou para conquistar esse resultado.
Que chato!
Prefiro admirar as pessoas a desprezá-las; apontar-lhes o talento a
lhes perceber a falseta. Desta feita, o ministro foi um pouco longe
demais. Ainda que seja só pelo desejo de aparecer.
Coisas estranhas
É bom que fiquemos atentos. Num dia, um dos integrantes da corte, como Roberto Barroso, deixa claro que não considera o PMDB uma alternativa de poder — como se lhe coubesse tal papel. E o fez nas dependências do Supremo, como ministro do Supremo. No outro, essa peça lamentável produzida por Marco Aurélio.
É bom que fiquemos atentos. Num dia, um dos integrantes da corte, como Roberto Barroso, deixa claro que não considera o PMDB uma alternativa de poder — como se lhe coubesse tal papel. E o fez nas dependências do Supremo, como ministro do Supremo. No outro, essa peça lamentável produzida por Marco Aurélio.
Há alguns
dias, este senhor estava vituperando contra o impeachment de Dilma. Mas
resolve usurpar uma competência do presidente da Câmara para dar
sequência a um absurdo pedido de impeachment de Temer.
Para encerrar
As ditas pedaladas de que Temer é acusado nem pedaladas são.
As ditas pedaladas de que Temer é acusado nem pedaladas são.
Segundo
ofício do Ministério Público de Contas Junto a TCU (ver imagem abaixo),
os tais decretos assinados por Temer, que também constituiriam pedalas,
não o são ainda que ele os tivesse assinado por vontade. A razão? Quando
ele os assinou, a meta fiscal não havia sido mudada ainda pelo governo
e, portanto, os gastos estavam dentro do previsto.
Marco
Aurélio não foi poupado pelo senso de ridículo. Que os outros ministros
façam a coisa certa e decidam segundo a lei, a técnica e a
jurisprudência. Ele tem de ser derrotado por 10 a 1 se os demais
ministros tiverem vergonha na cara. Se não for, aí convém tirar mesmo
aquele crucifixo do Supremo e pôr no lugar o retrato de Hugo Chávez.
Afinal, a corte já terá sido infiltrada pelos bolivarianos.