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segunda-feira, julho 22, 2024

Entenda o paradoxo que fez a direita radical perder na França e Reino Unido

Publicado em 21 de julho de 2024 por Tribuna da Internet

Marine Le Pen promete suspender toda a imigração na França | VEJA

Marine Le Pen sonhou com uma vitória que não veio

Marcus André Melo
Folha

O RN liderado por Marine Le Pen quase dobrou o número de votos (37%) nas eleições legislativas francesas. No entanto obteve apenas 20% das cadeiras. Algo que já ocorrera antes. Em 2017, o partido, antes de mudar o nome, amealhou 13,3% (1º turno) e 8,5% (2º turno) dos votos e apenas 1,3% (8 em 577) das cadeiras.

Na última eleição britânica, o Reform Party foi o terceiro partido mais votado (14,3% dos votos), mas obteve apenas cinco cadeiras (0,7% do total). Em 2015, foi ainda pior: com 12,6% dos votos ficou com apenas 0,15% das cadeiras (isso mesmo, uma cadeira em 650).

PARADOXO – A melhor forma de compreender o paradoxo é examinando o efeito de regras diferentes para o mesmo eleitorado.

O Brexit Party (nome anterior do Reform), cuja representação era pífia sob o voto distrital no Parlamento britânico, tinha a maior bancada no Parlamento Europeu, o qual adota a representação proporcional (39% dos deputados da representação britânica, tendo logrado 31% dos votos). Na França idem: o RN teve 31% dos votos e sua bancada de 30 deputados é também a maior no Parlamento Europeu.

Esta eleição ocorreu 20 dias antes da eleição legislativa, inflacionando as expectativas quanto ao partido. Os incentivos, a abstenção etc. são diferentes nas duas eleições; mas o contraste é colossal.

COISAS DO DISTRITAL – A moral da história é que sob o voto distrital os partidos pequenos (radicais de direita) são punidos enquanto os grandes são premiados. O bônus médio do maior partido para as democracias majoritárias foi estimado em 1,4.

Mas, na recente eleição britânica, o partido trabalhista teve o maior bônus da série histórica (1,8), amealhando 80% mais cadeiras do que logrou obter em voto. São 63% das cadeiras, e apenas 33,7% dos votos —menos do que na última eleição (40%), em 2017.

Como explicar o paradoxo? Parte deve-se à geografia do voto: os trabalhistas perderam proporcionalmente mais votos nos distritos onde não tinham chances de ganhar e ganharam votos onde eram competitivos, conseguindo assim ser o mais votado.

OUTROS FATORES – Mas há dois outros fatores envolvidos. Eleitores votaram estrategicamente: os trabalhistas votaram no Lib-Dem, nos distritos em que seu partido era o terceiro nas pesquisas.

Há também a estratégia partidária. Na França, a retirada de candidaturas menos competitivas por NFP e Macronistas para derrotar Le Pen funcionou. Não há novidade aqui. Nem fortes fatores ideológicos envolvidos. Em 2019, foi a direita radical (Brexit Party) no Reino Unido que retirou as candidaturas onde os conservadores eram competitivos. Agora lançou candidatos e dividiu a direita.

Não foi, portanto, o moderado Keir Starmer substituindo o radical Jeremy Corbyn que levou à vitória.


Para confirmar o golpe, a PF precisa saber qual foi o general que mentiu

Publicado em 22 de julho de 2024 por Tribuna da Internet

Theophilo e Freire Gomes entram em contradição em depoimentos

Um dos generais está mentindo: Theofilo ou Freire Gomes?

Carlos Newton

Os ministros do Supremo, sem exceção, incluindo até os dois nomeados por Bolsonaro (Nunes Marques e André Mendonça), todos eles se orgulham de terem salvo a democracia – ou seja, evitado o golpe de estado que o então presidente Jair Bolsonaro e o general Braga Netto pretendiam concretizar. Os mais vangloriosos são Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Edson Fachin – sempre que podem, eles logo se apresentam como salvadores do regime.

Mas é conversa fiada. Os brasileiros mais velhos e experientes, que viveram a dura realidade do golpe de 1964, se divertem com essas fanfarronadas, sabem que ministro do Supremo não evita golpe algum, pois quem o faz é o Alto Comando do Exército, e estamos conversados.

VIÚVA PORCINA – Esse assunto – o golpe Viúva Porcina, aquela que foi sem ter sido, como dizia o dramaturgo Dias Gomes – é hoje o mais importante inquérito em andamento na Polícia Federal, como única investigação que poderá causar a prisão de Jair Bolsonaro – hipoteticamente falando, é claro.

O ponto central da apuração, para definir se houve tentativa de golpe ou apenas sondagem, está na disparidade de informações entre os dois generais que detinham o poder no Exército em 2022, mas hoje estão na reserva – ou de pijama, como os próprios militares dizem.

Excelente reportagem de Marcela Mattos, na revista Veja, aborda o intrigante assunto e cita a versão de cada general, mostrando a controvérsia absoluta entre os depoimentos que os dois fizeram e assinaram. Um deles é o general Marco Antonio Freire Gomes, que era comandante do Exército em 2022.

REUNIÃO NO   PLANALTO – Após a eleição de Lula, os três comandantes militares foram chamados ao Planalto, para serem consultados pelo  presidente Bolsonaro sobre a posição das Forças Armadas caso houvesse a assinatura de uma medida drástica (estado de emergência, estado de sítio ou garantia da lei e da ordem) que anulasse as eleições.

A questão foi decidida pelo general Freire Gomes. Além de responder negativamente quanto à medida de emergência, aventou a possibilidade de o presidente Bolsonaro ser preso, caso tentasse anular a eleição de Lula.

Assim, o general colocou uma pedra no golpe, avisando que o Alto Comando do Exército era contra, e nenhum governante ou político oposicionista consegue dar golpe sem apoio de tropas.

CHEFE DAS TROPAS – O outro oficial envolvido na contradição com o comandante Freire Gomes é o general Estevam Theofilo, que detinha o controle efetivo das tropas, como chefe do Comando de Operações Terrestres (Coter), o mais importante e estratégico cargo do Exército.

A repórter Marcela Mattos conta que mensagens encontradas pela Polícia Federal no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do presidente, apontam que o general Theophilo esteve ao menos três vezes no Palácio da Alvorada, em reuniões com o ex-presidente Jair Bolsonaro após as eleições.

Ao depor, o general Theophilo confirmou que esteve essas três vezes no Alvorada após as eleições, a pedido do comandante Freire Gomes – duas vezes acompanhado do próprio comandante e uma vez sozinho, mas por ordem dele. Segundo o militar, neste encontro a sós com Bolsonaro o então presidente fez “lamentações” sobre o resultado das eleições. Ele contou ainda que, após o encontro, foi até a casa de Freire Gomes relatar a conversa.

GOMES DESMENTE – O ex-comandante Freire Gomes, porém, afirmou no depoimento à PF que não ordenou que seu subordinado fosse ao Palácio da Alvorada se encontrar com Bolsonaro a sós e disse até ter ficado “desconfortável” com a ida dele, devido à intenção de ser anulada a eleição, o que configuraria a aplicação de um golpe de estado.

Portanto, Freire Gomes desmentiu o general Theofilo duas vezes, porque afirmou também que não se recordava se o então chefe do Coter havia lhe relatado o conteúdo da conversa com Bolsonaro.

Bem, está claro que um dos dois generais está mentindo descaradamente. E a Polícia Federal avança na investigação desse detalhe, que elucidará os aspectos mais importantes do golpe Viúva Porcina. Dependendo dos resultados, enfim ficaremos sabendo se Bolsonaro será preso preventivamente ou não.

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P.S. –
 O assunto é da máxima importância. Dessa investigação depende o processo sobre o golpe de estado e também a próxima eleição presidencial.  Se ficar provado que não houve preparação para o golpe, mas uma simples sondagem, Bolsonaro pode se livrar desse processo, e esse fato influirá na votação da anistia, que pode lhe devolver os direitos políticos e a candidatura em 2026 contra Lula, que estará completando 81 anos antes do segundo turno, já conhecido como “Biden da Silva”, como ironiza o senador Ciro Nogueira (PP-PI). E amanhã voltaremos à questão sobre o militar que mentiu. (C.N.)

 

Lula já não tem como propagar que na Venezuela há “democracia até demais”

Publicado em 22 de julho de 2024 por Tribuna da Internet

Maduro afirma que se não for reeleito Venezuela cairá em “banho de sangue”Merval Pereira
O Globo

Mesmo que Maduro não fosse seu candidato preferido, o presidente Lula estaria agora mais empenhado do que nunca na sua vitória, para não ter que enfrentar o dilema de quem se mete a apoiar ditadores: evitar o “banho de sangue” prometido pelo ditador venezuelano em caso de derrota. Caso ela venha, o que não parece impossível a esta altura, o presidente brasileiro, que se diz um democrata, terá que intervir para que a Venezuela não se torne uma ditadura escancarada.

Não que Lula não apoie ditaduras, como mostra seu comportamento com Cuba, ou Nicarágua. Esses três exemplos, aliás, são de países que fizeram revoluções de esquerda para afastar governos autoritários de direita, presumidamente para defender o povo explorado. No que foram apoiados entusiasticamente em determinado momento histórico. Agora são eles os ditadores de esquerda que exploram o mesmo povo.

ENRASCADA – De heróis passaram a vilões, e colocam governos como o de Lula em uma enrascada: como dizer-se um democrata quando os amigos se tornam ditadores.

Lula, sem ter o que dizer diante da ameaça de Maduro de que sua derrota poderá gerar “um banho de sangue”, saiu-se com essa: “Eles que elejam quem eles quiserem”. Como assim, se os principais líderes oposicionistas da Venezuela estão presos ou impedidos de disputar a eleição presidencial? Mesmo assim, o oposicionista que sobrou, Edmundo Gonzales, tem chances reais de vencer as eleições, e por isso Maduro espalha suas ameaças dias antes do pleito.

O assessor especial de Lula para assuntos internacionais, Celso Amorim, que hoje assume o papel que um dia já foi de Marco Aurelio Garcia quando Amorim era o chanceler brasileiro, tentou amenizar a fala de seu malvado preferido, dizendo que Maduro se expressou mal ao falar em “banho de sangue”, quando queria se referir à luta de classes. Mesmo que tivesse sido um ato falho, revelaria o que Maduro pensa da “luta de classes”, uma associação da guerra como a continuidade da política por outros meios, como já disse Clausewitz.

ESTÁ DIFÍCIL – Fica cada vez mais difícil para o governo brasileiro sustentar que na Venezuela há “democracia até demais”, como já disse Lula. Uma frase como a dita por Maduro elimina qualquer possibilidade de classificá-lo como “um democrata”, ou seu governo como uma “democracia”.

O “banho de sangue” prometido, quando as pesquisas eleitorais mostram a oposição com praticamente 60% dos votos, pode vir a ser uma desculpa para adiar as eleições do dia 28, o que escancararia o caráter simplesmente simbólico da ida às urnas, pois o resultado contrário ao governo não seria aceito.

Já o fato de não ser possível a Maduro organizar uma eleição em que ele não correria chance de perder, como fazem outras ditaduras pelo mundo, já é sinal de sua fraqueza política. Se saberá qual a fortaleza militar quando se aproximarem as eleições, e as pesquisas continuarem a prever uma vitória da oposição, longe de um empate técnico.

PRAGMATISMO – É certo que o pragmatismo na política externa é incontornável, por isso a chamada maior democracia do mundo, os Estados Unidos, se submetem a uma relação assimétrica com a Arábia Saudita, por exemplo, tendo dado imunidade ao ditador Mohammad bin Salman, acusado pelo assassinato do jornalista Jamal Khashoggi.

Mas, pelo menos, os órgãos de inteligência dos Estados Unidos desvendaram o caso e divulgaram relatórios, e nunca nenhum dirigente americano garantiu que a Arábia Saudita era uma democracia.

É compreensível que o governo brasileiro, qualquer governo que se guia pelas regras internacionais, precise manter sua liderança na América do Sul, mas para tal não é preciso assumir as vergonhosas ações das ditaduras.

domingo, julho 21, 2024

Joe Biden desiste de tentar reeleição nos EUA

 Foto: Evan Vucci/Pool via Reuters/File Photo

Joe Biden, presidente dos EUA21 de julho de 2024 | 15:01

Joe Biden desiste de tentar reeleição nos EUA

EXCLUSIVAS

A pouco mais de três meses da eleição, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, 81, anunciou neste domingo (21) que não será mais candidato à reeleição. Ele não resistiu à intensa pressão interna do Partido Democrata pela sua saída, que começou após o desastroso desempenho no debate realizado no fim de junho e não arrefeceu mesmo após várias tentativas do presidente de assegurar apoiadores e eleitores de que tinha condições de derrotar Donald Trump.

Foram várias iniciativas nesse sentido nas últimas semanas —Biden deu uma entrevista exclusiva para a ABC News dias depois do debate, participou de uma entrevista coletiva após a cúpula da Otan na qual conversou diretamente com a imprensa por uma hora, e fez uma série de discursos enérgicos em eventos de campanha, insistindo na tese de que era a pessoa melhor posicionada para evitar uma vitória de Trump em novembro.

Mas os esforços foram marcados por problemas que agravaram as preocupações de democratas sobre a idade avançada do presidente. Na entrevista coletiva, confundiu sua vice, Kamala Harris, com seu adversário, Donald Trump; nos discursos de campanha e conversas com a imprensa, cada gafe piorou sua situação com aliados e fortaleceu vozes do partido que pediam sua saída.

O anúncio de Biden vem em um momento em que as pesquisas de intenção de voto colocavam o presidente atrás de Trump em estados-chave como Pensilvânia, Wisconsin e Michigan, tornando mais remotas as chances de vitória do democrata.

Também acontece uma semana depois da tentativa de assassinato contra Trump e logo após a convenção do Partido Republicano que oficializou o ex-presidente como candidato, eventos que energizaram a base do adversário, enquanto Biden precisou interromper a campanha para fazer isolamento social em casa em Delaware após receber um diagnóstico de Covid-19.

A decisão histórica de Biden de desistir da candidatura torna imprevisível a disputa pela Casa Branca neste ano. Democratas terão que definir uma nova chapa na convenção do partido, prevista para agosto, em Chicago.

Os principais nomes que vêm sendo cotados para substituir o presidente na chapa democrata, além de Kamala, são os governadores Gavin Newsom (Califórnia), J.B. Pritzker (Illinois), Josh Shapiro (Pensilvânia) e Gretchen Whitmer (Michigan), além do secretário de Transportes, Pete Buttigieg.

A última vez que uma convenção democrata serviu de fato para nomear um candidato, e não apenas oficializar o vencedor das primárias, foi em 1968. O escolhido, Hubert Humphrey, perdeu para o republicano Richard Nixon.

O anúncio antecipa o fim de uma carreira política de mais de 50 anos. Aos 29 anos, Biden foi um dos mais jovens senadores eleitos na história dos EUA e, aos 77, o presidente mais velho a tomar posse.

O democrata assumiu o país após a conturbada presidência de Trump a quem derrotou em uma eleição até hoje questionada, sem provas, pelo adversário. Em meio à crise da Covid, ele priorizou o combate à pandemia e a recuperação dos EUA.

Seu mandato foi marcado por feitos expressivos, como os pacotes bilionários de incentivo à transição energética e de investimentos em infraestrutura. Biden desafiou a previsão predominante entre economistas de que uma recessão era inevitável e alcançou uma das taxas de desemprego mais baixas da história.

Em contrapartida, a inflação disparou durante o seu governo, acumulando alta de quase 20%. A alta do custo de vida foi o início do fim da lua do mel do presidente com o eleitorado.

À alta de preços somou-se o aumento da entrada irregular de imigrantes nos EUA, alcançando níveis recordes. Cenas de caravanas vindas do México reproduzidas na TV reforçaram a imagem de descontrole na fronteira e de fraqueza do presidente.

Biden viu ainda a eclosão de duas guerras durante seu mandato: a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 2022, e o conflito entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza, iniciado em outubro de 2023. Nos dois casos, sua decisão foi manter-se fiel às alianças americanas com Kiev e Tel Aviv, em contraposição a Moscou e a adversários americanos no Oriente Médio.

A decisão do democrata teve um custo político. O apoio à Ucrânia foi crescentemente questionado pela população e a oposição no Congresso. A aliança com Israel, por sua vez, fragmentou sua base, sobretudo a ala mais jovem e progressista da coalizão que o elegeu em 2020. Este grupo passou a criticar Biden por considerar que a Casa Branca estava chancelando a ofensiva contra palestinos, sob a qual recaíram acusações de genocídio, rejeitadas por Tel Aviv.

Questionamentos sobre a viabilidade eleitoral e a capacidade de Biden de exercer um novo mandato, em face de sua idade, ocorreram praticamente ao longo de todo o seu mandato. Cenas de tropeços, especialmente a queda durante uma cerimônia militar, correram o mundo.
Biden havia conseguido reduzir em certa medida dúvidas sobre sua candidatura após as seguidas vitórias nas primárias e o bem avaliado discurso de Estado da União, em março.

No entanto, tornaram-se mais frequentes nas últimas semanas situações em que o presidente parece desorientado ou com dificuldade de falar. Uma das razões para sua campanha decidir antecipar o debate presidencial para antes mesmo das convenções era justamente aplacar os rumores sobre sua saúde.

O desastre de sua aparição no debate de 27 de junho acabou tendo o efeito contrário e abriu uma crise no partido, que passou a não confiar em Biden para derrotar Donald Trump, 78, em novembro.

Fernanda Perrin / FolhapressPoliticaLivre

Desequilíbrio de Poderes faz o imoral tornar-se normal na realidade brasileira


Juízes auxiliares do STF ganham mais que os ministros da corte - Espaço  Vital

Charge do Alpino (Yahoo Notícias)

Merval Pereira
O Globo

A democracia, não apenas no Brasil, está passando por momentos tormentosos que prenunciam um futuro inquietante. Em consequência, os Poderes da República ganham tons políticos que não se coadunam com o equilíbrio teoricamente imaginado por seus criadores.

À medida que os Poderes se envolvem com ações políticas que sempre foram consideradas imorais, até ilegais, elas se transformam em normais, e fica-se com a sensação de que trabalham em comum acordo — um acordo político muito semelhante àquele proposto pelo hoje lobista Romero Jucá, que prenunciou um pacto “com o Supremo, com tudo” para “estancar essa sangria”, referindo-se à Operação Lava-Jato.

GOVERNO DISFUNCIONAL – Alguns fatos preocupantes mostram que estamos vivendo não mais numa República, ou quase isso, no limite de um governo disfuncional em que, dependendo do momento, um dos três Poderes se impõe e é acobertado pelos outros dois, o que pode ser indicativo de um regime autoritário à vista.

Está acontecendo a mesma coisa nos Estados Unidos, agravada pelo triste hábito de resolver as pendências políticas à bala. Lá, um juiz achou normal que o ex-presidente Trump levasse para casa documentos secretos do governo e anunciou sua decisão às vésperas da convenção que o indicará como o candidato republicano à Presidência.

Também lá a Suprema Corte deu recentemente uma interpretação mais flexível a uma lei anticorrupção, admitindo que funcionários públicos podem receber presentes ou dar assessoria a empresas.

DEFENDER O FILHO – Aqui, Bolsonaro acha normal ligar para o chefe da Receita Federal para falar sobre um filho que é investigado. O presidente da ocasião pode escolher o secretário da Receita Federal, mas não tem o poder de interferir nas investigações, especialmente para defender um filho. Isso acontece com realezas das antigas, em que a família do rei é intocável, e não é o que a República pede.

Nas realezas modernas, a intocabilidade já está bastante limitada pela ação dos paparazzi, da imprensa livre e da sociedade, cada vez mais atenta aos abusos. A vontade de normalizar qualquer deslize vai longe, na visão de direita ou esquerda.

O presidente Lula acha que pode interferir na Petrobras, que pode indicar políticos aliados para órgãos estatais. Não é o que uma verdadeira democracia pede de seus dirigentes. A tendência de achar que o presidente pode qualquer coisa é anacrônica, fora do que exige uma democracia moderna.

EXORBITÂNCIA – O mesmo acontece com o Supremo Tribunal Federal (STF), que exorbita de suas funções, achando que tem poderes para dirigir as investigações do ponto de vista da maioria eventual naquele momento — sempre uma maioria relativa, dependente da tendência do presidente que nomeia os ministros, entre progressistas, conservadores, de direita ou de esquerda.

Não é possível que os mesmos ministros votem de maneiras distintas sobre o mesmo caso. É preciso um mínimo de coerência para que o cidadão se sinta garantido pela mais alta instância da Justiça brasileira.

Um exemplo inquietante é o caso do ministro Alexandre de Moraes, que, a partir do belo serviço prestado na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em defesa da democracia, convenceu-se de que é intocável — e não apenas ele.

UMA LAMBANÇA – Uma desavença num aeroporto no exterior com uma família de brasileiros transformou-se em caso de segurança nacional. O encarregado da investigação, que considerou o caso de menor gravidade e o arquivou, foi substituído por outro, que viu na discussão em solo estrangeiro um caso sério, a ponto de o procurador-geral da República ter denunciado por calúnia e injúria os membros da família, com base em “expressões corporais”, pois o vídeo não tem áudio.

Não é aceitável, numa democracia, que se ataque fisicamente uma autoridade, mas também é impensável que uma investigação que já fora encerrada mude de direção sem que tenha surgido fato novo.

O Congresso, que teoricamente representa o povo brasileiro, tem interesses próprios para tratar com urgência, como a anistia aos partidos que desrespeitaram a legislação que eles mesmos aprovaram. Assim la nave va, desgovernada.

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