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segunda-feira, julho 08, 2024

Pauta de costumes mostra que existe um desprezo ao amor à democracia

Publicado em 8 de julho de 2024 por Tribuna da Internet

Charges sobre democracia - 07/08/2020 - Política ...

Charge do Benett (Folha)

Luiz Felipe Pondé
Folha

Por que, de repente, a chamada pauta de costumes começou a fazer tanto barulho? É fácil rechaçar o fenômeno como “fascista!” e “ultradireita!”. Mas, na verdade, esses xingamentos com ares conceituais de nada adiantam. Afinal, essas pessoas que se importam com a pauta de costumes encontram suas razões para isso. Ou basta chamá-los de idiotas reacionários e ir tomar uma cerveja progressista?

Comunidades morais são um conceito descendente da ideia de “little platoon” —pequeno pelotão— que Edmundo Burke, no século 18, usava para descrever uma espécie de célula mater da moral em sociedade.

AMÉRICA PROFUNDA – O sociólogo americano Robert Wuthnow publicou, em 2018, um livro que deveria servir de exemplo para nossos intelectuais preguiçosos que repousam na ideologia em vez de trabalhar. “The Left Behind , Decline and Rage in Small-Town America” —os abandonados, declínio e fúria na América profunda, numa tradução selvagem.

Trata-se de um estudo empírico, a base de um dossiê de entrevistas com a população da América profunda, aquela mesma que passamos o tempo todo a xingar de trumpistas, fascistas, racistas, misóginos. Não que tais adjetivos não caibam a eles, em alguma medida. Mas eles são muito mais que isso e muito mais nuançados.

Enquanto não aprendermos a entender as nuances do perfil dessa população furiosa e identificada com populismos a direita, não seremos capazes de honrar a nossa função de agentes do pensamento público.

AMÉRICA RURAL – “Comunidades morais” é o conceito que Wuthnow —ele mesmo um confesso liberal, ou seja, membro da elite acadêmica de esquerda da Yvi League, termo usado para as universidades de ricos nos Estados Unidos— usa para descrever o que seriam essas pequenas localidades rurais americanas de “ultradireita”. A América rural, como ele diz.

Uma rede de pequenas empresas de todos os tipos, pequenos fazendeiros, pequenos comerciantes, escolas provincianas, templos religiosos tocados pela própria população, que compõem aquilo que o brilhante economista americano Thorstein Veblen considerava a grande riqueza social e econômica da América. Essa rede é a América profunda, distante das costas e das modas intelectuais que nelas habitam.

A tese de Wuthnow é que essas comunidades se sentem cercadas e atacadas pelas transformações que põem em risco seus modos de viver. Muitas das suas pequenas cidades passam por perdas econômicas importantes —não todas— o que agrava o sentimento de destruição de todo um tecido social ancestral que eles valorizam e no qual se reconhecem.

NAS IGREJAS – A “pauta de costumes,” como se fala entre nós, os preocupa —temas como aborto, drogas, casamento gay e similares— e são objeto de combate, principalmente ali onde se reúnem, nas igrejas.

Mas, mesmo esse “combate” é mais nuançado do que parece quando pensamos neles como “adoradores de Hitler”, como diz a indústria de fake news da esquerda. Quem pensa que só há fake news de direita é um idiota em política contemporânea.

As opiniões são múltiplas e contraditórias, como as reais opiniões são, principalmente quando envolvem pessoas do seu círculo de afetos que fizeram um aborto ou são gays. Essas pessoas não são umas idiotas, como tentam emplacar nelas essa imagem. A “pauta de costumes” é uma das formas de responder à negação do direito de ser como sempre foram.

CERTO OU ERRADO – Moral aqui não é uma doutrina de certo e errado, mas uma rede de relações em que eles se reconhecem e praticam nas famílias, no trabalho, nas igrejas, nas instituições políticas das suas localidades. Valores impregnados como uma língua mater em que repousamos quando a falamos. Sentem que “Washington” e seus “boys” querem obrigá-los a ser o que eles não são. E aí, vão pro pau.

Que tal aproximarmos esse conceito de algumas regiões do Brasil que se sentem atacadas pela nossa inteligência acadêmica de esquerda?

Resposta: não. Basta de conhecer o mundo, há que transformá-lo. O projeto é esmagar quem não concorda comigo, de ambas as partes. O modelo do debate político hoje é o do combate a heresias. O “amor” a democracia é uma farsa.


Negligência Administrativa: O Incêndio do Ônibus Escolar em Jeremoabo e as Consequências da Falta de Manutenção

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O prefeito com psicose de dançador esqueceu de administrar o municipio, só pensa em festa, o povo que exploda...

O caso descrito revela uma situação alarmante e grave de negligência e falta de responsabilidade por parte das autoridades locais. Vamos analisar os pontos principais:

  1. Falta de Manutenção nos Ônibus Escolares: A denúncia constante sobre a falta de manutenção dos ônibus escolares, que transportam tanto alunos do ensino fundamental quanto universitários, demonstra um descaso evidente com a segurança e o bem-estar dos estudantes.

  2. Previsibilidade do Incidente: Através desse Blogdedemontalvao afirmo ter alertado repetidamente sobre os riscos iminentes, inclusive sugerindo que as autoridades competentes fossem informadas, como a Polícia Rodoviária Federal e o Ministério Público. No entanto, esses avisos foram ignorados.

  3. Incidente com o Ônibus Escolar: O ônibus escolar da linha Cirica incendiou-se, colocando em risco a vida dos alunos e professores que estavam a bordo. Felizmente, todos conseguiram escapar ilesos, mas isso foi mais uma questão de sorte do que de providência por parte das autoridades.

  4. Desgoverno e Falta de Responsabilidade: O Blog acusa o prefeito de priorizar festas e autopromoção em detrimento das necessidades básicas da população, como educação e saúde. O exemplo do ônibus que transporta doentes quebrando durante os percursos adiciona evidências à afirmação de má gestão e falta de compromisso com serviços essenciais.

  5. Consequências e Reflexões: O incidente poderia ter resultado em uma tragédia se não fosse pela rápida reação dos envolvidos. Isso levanta questões sobre a necessidade urgente de investimentos adequados em infraestrutura, manutenção e segurança nos serviços públicos, especialmente aqueles relacionados à educação e saúde.

Em suma, o relato destaca não apenas um evento específico, mas uma crítica ampla à administração local e suas prioridades. É um chamado à responsabilização das autoridades por suas ações e omissões que colocam em risco a vida e o bem-estar dos cidadãos.

domingo, julho 07, 2024

Datafolha indica que no segundo turno, Nunes tem 48% e Boulos, 38%

Publicado em 7 de julho de 2024 por Tribuna da Internet

É a primeira vez que o instituto testa um cenário de segundo turno

Pedro do Coutto

Em São Paulo, na disputa pela Prefeitura, pesquisa do Datafolha publicada ontem pela Folha de S. Paulo, aponta uma vitória de Ricardo Nunes no segundo turno, quando alcançaria 48% dos votos contra 38% de Guilherme Boulos.

A margem é muito grande e causa surpresa, pois no primeiro turno, segundo as pesquisas, haveria um equilíbrio de 25% para Nunes e 24% para Boulos. Isso demonstra que, num eventual segundo turno, parte dos eleitores da candidata Tabata do Amaral tenderiam para Nunes.

SEGUNDO TURNO – É a primeira vez que o instituto testa um cenário de segundo turno para esta disputa. Votos brancos, nulos ou quem afirmou que não votaria somam 12%; 2% dos eleitores não souberam responder. Os dois pré-candidatos aparecem empatados tecnicamente na pesquisa divulgada nesta sexta: Nunes, com 24%, e Boulos, com 23%.

Num eventual segundo turno, Nunes herdaria 52% dos votos de Datena (PSDB), enquanto 33% disseram que votariam em Boulos. Entre os eleitores que dizem votar em Pablo Marçal (PRTB), 62% migrariam para Nunes ante 12% que iriam para o deputado psolista. Entre quem declarou voto em Tabata Amaral (PSB) no primeiro turno, 56% escolheriam Boulos no segundo, contra 33% que iriam com Nunes.

MARGEM DE ERRO – Entre os eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro, 72% declararam votar em Nunes na segunda rodada, ante 14% que escolheriam o adversário. No grupo dos eleitores do presidente Lula da Silva, 57% preferem Boulos e 37%, Nunes. A pesquisa tem margem de erro de três pontos para mais ou menos.

Os detalhes da pesquisa mostram uma tendência que realmente revela-se como uma surpresa bastante grande no segundo turno. É uma prévia entre tantas outras disputas que ocorrerão em diversas capitais nas quais a polarização entre Lula e Bolsonaro se refletirá sobre as campanhas.

A disputa na capital de São Paulo é de extraordinária importância como um indicador das eleições de 2026.  O presidente Lula terá que agir em São Paulo na tentativa de reverter o quadro em que o seu candidato declarado, segundo o Datafolha, poderá ser derrotado.


EUA usam sua perseguição a Assange para ameaçar a liberdade de imprensa

Publicado em 7 de julho de 2024 por Tribuna da Internet

Assange sofreu durante 12 anos, sem haver cometido nenhum crime

Gleen Greenwald
Folha

Ver Julian Assange deixar a prisão e sair do Reino Unido como um homem livre foi uma das cenas mais gratificantes que já tive a chance de presenciar. Já que Assange é um amigo, um aliado e um colega de longa data, foi difícil fazer qualquer coisa além de comemorar sua liberdade.

Assange foi finalmente libertado porque a opinião pública australiana passou a cobrar que seu governo deixasse de ser tão subserviente aos EUA e trabalhasse mais pela liberdade do fundador do WikiLeaks (Assange é cidadão australiano). O primeiro-ministro do país, Anthony Albanese, finalmente exerceu pressão —em público e em particular— sobre o governo de Joe Biden.

CELA MÍNIMA – Assange passou os últimos cinco anos na prisão de Belmarsh, em Londres, uma penitenciária de segurança máxima tão repressiva que foi apelidada pela BBC de “Guantánamo inglesa”. Ao lado dos detentos mais perigosos do país e dos considerados terroristas, Assange foi mantido o tempo todo confinado sozinho em uma cela mínima, com exceção de uma hora de banho de sol por dia.

Antes de ser mandado para Belmarsh, Assange já estava confinado havia sete anos. Em 2012, ele foi intimado pelas autoridades suecas a se submeter a um interrogatório no âmbito de uma acusação de estupro.

Defendendo sua inocência, o fundador do WikiLeaks deixou claro que estaria disposto a pegar um avião para Estocolmo para responder às acusações, desde que o governo sueco oferecesse garantias de que ele, uma vez no país, não seria entregue ao governo americano —que, se sabia, buscava prendê-lo.

ASILO POLÍTICO – Depois de a Suécia negar essa proteção, Assange solicitou e recebeu asilo político do Equador. O então presidente Rafael Correa prometeu que o fundador do WikiLeaks poderia ficar na embaixada do país em Londres enquanto permanecessem as ameaças dos EUA.

Mas, em 2019, os EUA e o Reino Unido conseguiram pressionar o sucessor enfraquecido de Correa, Lenín Moreno, a retirar o asilo político concedido a Assange e permitir que a polícia de Londres ingressasse na embaixada para prendê-lo.

Os sete anos que Assange passou naquela embaixada pouco diferem de uma prisão. Quando o visitei em 2017, junto com meu marido David Miranda, ficamos chocados ao ver seu evidente declínio físico.

NENHUM CRIME – Seu lar na embaixada era pouco mais que um pequeno apartamento conjugado, sem nenhuma área ao ar livre. Policiais eram mantidos de plantão em frente à embaixada 24 horas por dia. A única razão pela qual existe um vídeo que documenta essa visita é porque a CIA —ilegalmente— monitorou e espionou Assange, incluindo as visitas que recebeu, durante os sete anos que ele passou lá.

Talvez o mais notável de tudo isso seja o fato de Assange nunca ter sido condenado por nenhum crime, exceto violação de liberdade condicional por não ter comparecido ao tribunal, em 2012, quando obteve asilo do Equador. Essa sentença foi de apenas 12 meses, que ele cumpriu integralmente em 2020. No entanto, os EUA e o Reino Unido conspiraram para mantê-lo preso por anos, sem condenação.

A enorme alegria — e alívio — com a libertação de Assange não pode minimizar a gravidade e o perigo representados por essa tentativa de criminalização do fundador do WikiLeaks pelos EUA. Como alertei em um artigo no Washington Post, publicado quando os EUA o indiciaram pela primeira vez, a teoria usada para criminalizar Assange pode ser igualmente empregada para criminalizar a prática de jornalismo investigativo como um todo.

AMEAÇA A TODOS – Isso porque seus supostos crimes —”conspirar com a fonte” para evitar que ela seja identificada e incentivá-la a obter informações— é a base do trabalho de qualquer jornalista investigativo.

Não por acaso, quando o Ministério Público do Brasil tentou, em 2020, me processar criminalmente pela Vaza Jato, as teorias usadas foram exatamente as mesmas usadas pelos EUA para criminalizar Assange, como alertou o Comitê para a Proteção dos Jornalistas.

UM PRECEDENTE – Como condição para sua libertação, Assange foi obrigado a se declarar culpado do crime de espionagem. Isso não teve efeito sobre Assange, que acabou libertado pelo mesmo acordo, mas significa que agora há o precedente de que o governo dos EUA e, presumivelmente de qualquer outro país, pode transformar qualquer jornalista em criminoso.

O governo americano exigiu essa confissão de culpa por um único motivo: embora o acordo de Assange não tenha força como precedente legal, ele sinaliza a todos os jornalistas investigativos do mundo democrático que suas reportagens também podem levá-los à prisão se seu trabalho constranger interesses poderosos.

Como essa é a atribuição mais nobre do jornalismo, para além da tragédia humana que foi manter Assange enjaulado por 12 anos, esse caso representa uma ameaça maior que nunca à liberdade de imprensa em todo o mundo.


Bolsonaro dá medalha de ‘imorrível, imbrochável e incomível’ a Javier Milei

Publicado em 7 de julho de 2024 por Tribuna da Internet


Populismo reacionário é efeito colateral e no fim a democracia sairá fortalecida

Publicado em 7 de julho de 2024 por Tribuna da Internet

Iotti / Agencia RBS

Charge do Iotti (Gaúcha/Zero Hora)

Christian Lynch
Insight Inteligência

Em política, como na economia, a expectativa é tudo. E, em um mundo interconectado, aquilo que acontece nos países cêntricos possui uma força particular na geração de expectativas: é o famoso “efeito demonstração”. E o mau desempenho de Biden no debate contra Trump assanhou os reacionários. Com a vitória eleitoral de Le Pen na França, o assanhamento chegou ao clímax e contagiou até conservadores mais tradicionais, seduzidos pelo canto de sereia de um paradoxal “extremismo moderado”.

Para arrematar, o Supremo americano proclamou a tese absolutista da irresponsabilidade legal do presidente, dando carta branca para que Trump, caso eleito, faça tábua rasa da combalida democracia americana.

PERPLEXIDADE – Em todo o mundo, os democratas se sentem em uma gangorra: ora o movimento do mundo parece fazer os autoritários avançarem, ora recuarem. Depois de perdida a fé na revolução na década de 1990, parece chegado o momento de perder a fé no progresso histórico.

Em um momento em que a perplexidade se junta à ansiedade, nada melhor do que recorrer a explicações mais sedimentadas da ciência política. De preferência, daquelas que examinam os fenômenos de modernização na longa duração, e se possível, com uma extensa base teórica e empírica, historicamente alicerçada. Aqui, o democrata desalentado pode, quem sabe, encontrar consolação.

Nesse sentido, um dos cientistas políticos cuja contribuição foi mais frutífera foi Ronald Inglehart. No livro “Modernização, Mudança Cultural e Democracia: A Sequência do Desenvolvimento Humano”, publicado com Christian Welzel (2005), Inglehart argumenta que o desenvolvimento socioeconômico, a mudança cultural e a democratização são fases interconectadas de uma progressão ampla, a qual denomina desenvolvimento humano.

PREMISSA CENTRAL – Reconhecendo as limitações das versões anteriores da teoria da modernização (as dimensões etnocêntricas e teleológicas, principalmente), os autores defendem que permanece válida a premissa central: o desenvolvimento socioeconômico acarreta transformações sistemáticas na cultura e na política.

Tal argumentação é sustentada por uma vasta gama de dados colhidos ao longo de quatro décadas, abrangendo mais de oitenta sociedades.

Para Inglehart, o desenvolvimento socioeconômico induz mudanças culturais previsíveis, incluindo a transição de valores de sobrevivência para valores de autoexpressão. À medida que as sociedades se modernizam, elas experimentam mudanças culturais previsíveis. Cada tipo de sociedade possui um tipo congruente de cultura política e de instituições.

MUDANÇAS CULTURAIS – A sociedade agrária possui uma cultura hierárquica tradicional, que começa a balançar com o advento da sociedade comercial. Durante o processo de industrialização, há uma transição dos valores tradicionais para os seculares-racionais descritos por Weber. Mas os valores individuais permanecem no horizonte da classe social e com um cunho “materialista”, porque orientados pela preocupação com o básico para sobrevivência no plano da saúde, da alimentação, da moradia e da educação.

Ao adentrarem economias pós-industriais, por sua vez, na década de 1970, observa-se uma evolução de valores de sobrevivência para valores de autoexpressão. Esses enfatizam a liberdade individual, a autonomia, a igualdade de gênero, a tolerância com diversidade de orientação sexual e a participação política ativa.

Considerados o principal motor da democratização, tais valores encorajam os indivíduos a desafiar as elites, apoiar movimentos sociais e demandar governança democrática. Essa evolução cultural não apenas influencia, mas também molda as instituições, predispondo as sociedades à adoção e manutenção de instituições democráticas, numa relação de retroalimentação.

NA DEMOCRACIA – A prosperidade econômica favorece a democracia, sobretudo por fomentar valores de autoexpressão, ao invés de ser um resultado direto do regime democrático.

A prosperidade econômica favorece a democracia, sobretudo por fomentar valores de autoexpressão, ao invés de ser um resultado direto do regime democrático.

Inglehart reconhece por isso o papel crucial da cultura na configuração dos resultados democráticos. Ela é considerada o elo perdido entre as instituições e o comportamento político, que dependem da motivação que só um sistema de crenças oferece. Ele também contesta a ideia de que a democracia pode ser conquistada exclusivamente através de ações coletivas lideradas por elites, alegando que seu sucesso é mais provável em sociedades onde a cultura de massa já se mostra receptiva à ela.

POPULISMO REACIONÁRIO – Se esse era o otimismo evolucionista de Inglehart no auge da globalização, como ele explicou depois a emergência do populismo reacionário? É o que ele tentou em Backlash cultural: Trump, Brexit, e o populismo autoritário, livro escrito com Pippa Norris (2019).

O livro explica a “reviravolta cultural” como um reflexo autoritário entre aqueles que se sentem ameaçados pelas rápidas transformações culturais, imigração intensificada e condições econômicas instáveis. Reflexo que privilegia a segurança coletiva, a adesão a costumes tradicionais, o combate aos estrangeiros e a fidelidade a líderes fortes, apoiado por uma retórica populista do “nós contra eles”.

A reviravolta cultural consiste assim em uma reação contra a “revolução silenciosa” dos valores culturais ocorrida a partir de 1970.

MUDANÇA DE VALORES – Alimentada pela segurança existencial sem precedentes no pós-guerra, essa revolução teria gerado uma mudança intergeracional de valores, onde as gerações mais jovens passaram a valorizar a livre escolha individual e a autoexpressão (pós-materialistas) em detrimento dos valores materialistas focados na segurança econômica e física (materialistas).

Tal mudança manifesta-se numa ênfase ampliada na proteção ambiental, movimentos pela paz, liberalização sexual, direitos humanos, igualdade de gênero, cosmopolitismo e respeito aos direitos das minorias.

Daí porque o cultural backlash seria particularmente vigoroso nas duas gerações mais antigas: a nascida no período entreguerras (1918-1945) e os Baby Boomers (1946-1964), grupos numericamente cada vez menores. Em princípio resignados, os conservadores passaram a reagir ressentidos à erosão dos seus valores, questionando do ponto de vista moral normas sociais modernas, como a aceitação de estilos de vida multiculturais, diversidade étnica, fronteiras cosmopolitas e identidades de gênero fluidas.

PONTO CRÍTICO – O conceito de ponto de inflexão (tipping point) é aqui essencial para compreender quando a “revolução silenciosa” provoca uma reação cultural (backlash). À medida em que as sociedades experimentam mudanças culturais, o equilíbrio entre valores liberais e conservadores atinge um ponto crítico.

Grupos conservadores, antes majoritários, veem-se como uma minoria crescente, sentindo seus valores tradicionais marginalizados e desrespeitados. Esse sentimento de perda de status alimenta o ressentimento tanto contra elites culturais, responsáveis por impulsionar tais mudanças, quanto contra grupos minoritários percebidos como beneficiários delas.

A percepção de que as elites culturais são indiferentes às preocupações da “maioria silenciosa” cria terreno fértil para o apelo populista de líderes que prometem defender a “verdadeira” cultura.

REFLEXO AUTORITÁRIO – A reação a este ponto de inflexão desencadeia o “reflexo autoritário” na forma de uma nostalgia pelos valores tradicionais, desejosa de ordem social e conformidade, e pelo anseio por líderes fortes restaurarem a segurança coletiva, mesmo ao custo de liberdades individuais. A imigração torna-se um foco específico de tensão, alimentando ansiedades sobre a erosão das identidades culturais, especialmente em tempos de instabilidade econômica.

A percepção de que as elites culturais são indiferentes às preocupações da “maioria silenciosa” cria um terreno fértil para o apelo populista de líderes que prometem defender a “verdadeira” cultura e os valores nacionais.

O cultural backlash tem fortes consequências políticas. A divisão geracional tende a intensificar a clivagem cultural, independentemente de melhorias econômicas ou da desaceleração da globalização.

TENSÕES E DIVISÕES – A força da política cultural gera tensões e divisões dentro dos partidos tradicionais, criando oportunidades para líderes populistas. Seria possível argumentar também – agora sou eu – que, coesos em torno de ideologias conservadoras, embora sejam uma minoria, os autoritários conformam a maior e mais disciplinada de todas as minorias.

Não se dividem em grupúsculos, como os progressistas fracionados entre a nova e a velha esquerda, cuja coesão é prejudicada ademais pela tendência inconformista.

Tudo somado, a conclusão possível é a de que o backlash é um fenômeno destinado a desaparecer geracionalmente. Mas este é um consolo que não deve desmobilizar os democratas para ação de resistência e reorganização.

DEMOCRACIA RESISTIRÁ – Basta ver à direita a tentação dos conservadores ditos “democratas” em aderir a autoritários que usem talheres. E, à esquerda, e o estado de fragmentação dos social-democratas, divididos entre uma ala obsoleta (“industrial”) e outra, moderna (“pós-industrial”), mas retalhada em grupúsculos identitários.

Sem ação coletiva organizada, não há como fazer frente à minoria autoritária. Enquanto isso, a grande minoria reacionária está disposta à ditadura para suprimir as instituições voltadas para a produção da cultura democrática, começando pela justiça e pela educação. Tudo para atrasar o desaparecimento de sua própria “identidade”.

Moral da história: no longo prazo, a vitória da democracia é certa. O problema é que, como alguém já disse, no longo prazo, estaremos todos mortos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Artigo enviado por Duarte Bertolini. Concordo com o autor, cientista político Christian  Lynch. No final, a democracia sairá fortalecida. (C.N.)

Estrutura do poder nos EUA não está preparada para alguém como Trump

Publicado em 7 de julho de 2024 por Tribuna da Internet

Trump condenado: sentença com pena a ex-presidente dos EUA só deve sair em  11 de julho - Rádio Itatiaia

Suprema Corte decide fortalecer os poderes presidenciais

Bruno Boghossian
Folha

A política americana oferece ao presidente uma proteção generosa. Pelas regras, o chefe do governo tem garantidos o poder para liderar o país em tempos de crise e segurança para tomar decisões difíceis. Essa arquitetura sobreviveu a muitos testes, mas não estava preparada para um sujeito como Donald Trump.

A Suprema Corte dos EUA decidiu na segunda-feira (dia 1º) que os presidentes do país gozam de alguma imunidade. Ao julgar um pedido de Trump, o tribunal repisou uma interpretação de quatro décadas e estabeleceu que esses políticos não podem ser processados por “atos oficiais”. Eles estão vulneráveis apenas no caso de “atos não oficiais”. Essas situações seriam avaliadas individualmente.

AUTONOMIA TOTAL – A maioria conservadora da corte reforçou a autonomia dos presidentes para governar, tomando decisões que julgam corretas sem o receio de responder criminalmente. Só assim um governante pode, por exemplo, iniciar ações militares de alto risco, gerenciar políticas públicas e, principalmente, evitar perseguições.

Nessa lógica, a soberania popular é a principal ferramenta de controle desses políticos. Se um presidente ultrapassa alguma linha, um Congresso eleito pode derrubá-lo com um processo de impeachment, ou o eleitor pode mandá-lo para casa na votação seguinte.

ACIMA DA LEI – O perigo da doutrina de amplos poderes e mínima interferência está nos abusos cometidos por uma classe especial de políticos ambiciosos. Trump, em particular, excedeu a liberdade de seus “atos oficiais” quando usou a presidência para tentar reverter o resultado de uma eleição, pressionar autoridades e estimular a invasão do Capitólio.

No voto dissidente, a juíza Sonia Sotomayor afirmou que a decisão da Suprema Corte transforma qualquer presidente num “rei acima da lei”, livre para explorar o cargo para obter ganhos pessoais e, em teoria, imune até para ordenar um golpe de Estado. De olho num eventual novo governo, Donald Trump deve estar ansioso para experimentar os limites desse poder.


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