sexta-feira, novembro 25, 2022

Radicalização de direita começou antes de Bolsonaro e atinge 12% a 15% dos eleitores

Publicado em 25 de novembro de 2022 por Tribuna da Internet

Charge do JCaesar | VEJA

Charge do JCaesar (Veja)

Rafael Galdo
O Globo

Antropóloga da Escola de Sociologia e Política de São Paulo e uma das coordenadoras do Observatório da Extrema Direita, Isabela Kalil ressalta que a radicalização política se revela também na sociedade civil, com ataques a ativistas, movimentos sociais e à atuação política como um todo.

Debates como os relacionados às mulheres e aos direitos da população LGBTQIAP+ passaram a encontrar mais barreiras, num movimento, diz ela, que começou a ser alavancado antes mesmo da ascensão de Bolsonaro ao poder.

VIRADA CONSERVADORA — “Na década de 2010, há uma virada mais conservadora, parte dela capturada pela extrema direita. No Congresso, as bancadas da bala e da Bíblia são exemplos disso. É um processo que vai acabar na eleição de Bolsonaro, com uma forma diferente de fazer política também no campo da comunicação, com teorias da conspiração, fake news e ataques muito diretos aos opositores” — analisa Isabela Kalil.

Nesse processo, ela concorda que o PT e a esquerda até agora não foram os grandes perdedores, ao conseguirem manter uma quantidade significativa de parlamentares, por exemplo.

O centro, a centro-direita e a chamada terceira via acabaram mais esvaziados.

RECEITA REPLICADA – No entanto, independentemente da vitória de Lula, Isabela afirma que Bolsonaro inaugurou uma espécie de receita que deu certo e que continuará sendo replicada em disputas tanto do Executivo quanto do Legislativo.

— Muitos políticos, inclusive moderados, não importa a legenda, estão se valendo dessas estratégias — diz ela, corroborando que, diferentemente de outros países que recém-experimentaram ou estão sob governos de extrema direita, como os Estados Unidos da era Donald Trump ou a Hungria do primeiro-ministro Viktor Orbán, o bolsonarismo não está ligado especificamente a um partido político.

Segundo a especialista, ancorado nessas nuances, o bolsonarismo pode ter a capacidade, inclusive, de se emancipar do atual presidente. Ela não descarta, tampouco, uma disputa na extrema direita pelo espólio de Bolsonaro.

MUITOS HERDEIROS – Essa herança política, diz Isabela, pode ser reivindicada por seus filhos — o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). Mas emergem também outros atores, como Damares, Moro e o governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Já na sociedade civil, Esther Solano, professora de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), destaca que, se há um eleitor de Bolsonaro mais radicalizado, também há outro moderado, que recebe criticamente as afirmações mais violentas do chefe do Executivo.

— Há uma estimativa da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) de que esse eleitor mais radical representa de 12 a 15% — diz ela.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
 Para eleger Bolsonaro, os radicais de direita foram fortalecidos por uma grande massa de eleitores de centro e até de esquerda, que não aguentam mais a corrupção e a incompetência de sucessivos presidentes, pois desde Itamar Franco este país não sabe mais o que é ser governado por um político limpo e independente. 
(C.N.)