domingo, outubro 03, 2021

Afinal, o que ganham as pessoas no Pix, num país como o Brasil? Os riscos se repetem

Publicado em 3 de outubro de 2021 por Tribuna da Internet

Invasão através do Banco de Sergipe obteve informações de 395 mil pessoas

Pedro do Coutto

Qual a vantagem das pessoas físicas, no caso, os assalariados, integrando-se ao sistema de pagamentos imediatos do Pix? É uma pergunta que faço aos leitores deste site e aos especialistas capazes de traduzir a realidade, cujos efeitos francamente ainda não percebi. Só observei que as invasões de contas se repetem, como revelou ontem Clarissa Garcia em excelente reportagem na Folha de S. Paulo.

Há cerca de um mês haviam ocorrido vazamentos praticados por hackers. Agora, na última semana, através do Banco  do Estado de Sergipe, outras invasões aconteceram. Tanto assim, que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, anunciou novas medidas de segurança para o sistema. Se há necessidade de novas medidas de segurança é porque, evidentemente, as ações de proteção não funcionavam como seria de supor numa rede bancária.

VANTAGEM – Não atinei ainda qual a vantagem de pagamentos por parte de pessoas físicas através do novo mecanismo. O efeito imediato das transações somente pode interessar às empresas e aos aplicadores de curtíssimo prazo no mercado financeiro. Estes poderiam aplicar mais rapidamente quantias recebidas, incluindo os seus clientes no mercado. Mas essa rapidez sem o overnight não pode ser maior do que 24 horas. O pagamento feito por nós, assalariados, através dos cartões de débito do Itaú, do Bradesco ou do Santander, no que nos diz respeito é a mesma coisa do que pagar noturnamente através do Pix.

É possível que aplicadores atuem na Bovespa, no mercado de ganho e nas cotações do ouro. Mas tais investimentos não podem estar condicionados a transferências de valores muito pequenos como são os limitados pelo Banco Central. O especialista Victor Hugo Pereira Gonçalves, presidente da empresa Sigilo, especializada em proteção de dados, disse na reportagem que infelizmente, institucionalmente, o Banco Central e a Autoridade Nacional de Proteção de Dados não têm feito nada, mas a situação é grave e requer atenção. Não está claro, dentro das regras do Pix, quais são os mecanismos de segurança adotados.

Para ele, a estrutura desenvolvida para as chaves de segurança não geram confiança, pois a estrutura demanda que cada instituição desenvolva sua parte no processo. E isso gera um risco ainda maior. Desta vez, a invasão de dados foi praticada através do Banco de Sergipe na quinta-feira, operação criminosa que obteve informações de 395 mil pessoas. Presumo que através de uma conta num determinado banco, violado o sistema de chaves, talvez seja possível aos hackers saltarem para outro estabelecimento de crédito.

CONSULTAS INDEVIDAS – O banco revelou ter detectado consultas indevidas de pessoas que não eram clientes, embora as informações tenham sido obtidas através do próprio banco. O presidente do Banco Central anunciou medidas complementares de segurança e acentuou não ter havido falha no sistema do Bacen. O hacker acessou as informações utilizando a infraestrutura tecnológica do sistema do Banese. Pessoalmente não sei se o sistema do Banco Central não tem segurança capaz de impedir o voo de hackers de um ponto para outro.

Para Roberto Campos Neto, os hackers jamais tiveram acesso direto aos diversos sistemas do Banco Central. Acrescentou que medidas de segurança complementares já foram adotadas para impedir um outro vazamento de dados. O problema, entretanto, é objeto de comentários de vários especialistas e executivos de empresas de segurança. Para Rafael Stark, presidente do Stark Bank, o vazamento foi uma falha exclusiva do Banese, e admitiu que possa ter ocorrido transmissão de informações sigilosas por parte de funcionários comprometidos.

FALTA DE SEGURANÇA – Peterson dos Santos, presidente da empresa Trio, não atribui o vazamento à falta de segurança, mas ressalta que a implantação do novo meio de pagamento ocorreu muito rapidamente. Por isso, estão aprimorando diariamente a capacidade de evitar fraudes. Logo, na minha opinião, a segurança não estava completa até a última semana. Tanto que que o próprio Bacen limitou as operações entre às 20h de um dia e às 6h da manhã do dia imediato a apenas R$ 1 mil, e também passou a poder reter operações que considerar suspeitas. Portanto, a desconfiança permanece, o que naturalmente conduz a um aumento da segurança. Assim, o Banco Central admitiu tacitamente que existiam vulnerabilidades que precisam ser bloqueadas.

Houve até o caso de sequestros de pessoas obrigadas a realizar transferências para contas indevidas. Minha pergunta permanece, qual a vantagem para os assalariados na realização de pagamentos imediatos? Sobretudo porque mais de 90% dos pagamentos realizados se destinam à empresas tanto de pequeno, quanto de média e grande porte.

GASOLINA E DIESEL –  Folha de S. Paulo, edição de sábado, destaca a preocupação que está envolvendo o Palácio do Planalto em função dos aumentos de preços da gasolina e do diesel no processo eleitoral, ameaçando seriamente  a possibilidade de reeleição do presidente Jair Bolsonaro.

O problema discutido pelo chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, está encontrando uma saída muito difícil. Isso porque, fora da Petrobras, só uma alteração na participação dos estados através da incidência do ICMS. Mas isso promoverá uma revolta em série por parte dos governos estaduais que perderiam grandes parcelas  de suas receitas. Seria um novo fator de crise que o governo teria que enfrentar na tentativa de obter recursos para o Auxílio Brasil, nova forma do Bolsa Família.

CUSTO DE VIDA – Na manhã de ontem, sábado, no programa da TV Globo, coordenado por Cissa Guimarães, a jornalista Talitha Morete fez uma brilhante exposição sobre o custo de vida e o seu reflexo no consumo de alimentos da população, impulsionado fortemente pelo aumento de preços do óleo diesel, já que o transporte de gêneros alimentícios é realizado por caminhões movidos por este combustível.

Ela exibiu uma foto publicada pelo Jornal Extra, ressaltando o acesso de pessoas famintas a ossos, peles e gorduras não utilizadas na venda de carnes pelos supermercados. Destacou o absurdo que é um país como o Brasil, maior produtor do mundo em matéria de alimentos, não consiga sequer impedir a fome de grande parte de sua população. A crise chegou a um ponto intolerável, uma vergonha nacional, uma desumanidade com a população.

O custo de vida está impedindo que uma grande parcela de brasileiros e brasileiras possam escapar do flagelo da fome e de suas consequências. A exposição de Talitha Morete, na minha opinião, constitui-se num ponto alto  divulgado através do jornalismo pela televisão.

APROXIMAÇÃO COM CENTRÃO – Numa entrevista a Fábio Zanini, Folha de S. Paulo, Flávio Dino, governador do Maranhão, afirmou que quanto mais centrista Lula for, melhor eleitoralmente será para ele. O governador disse que o ex-presidente Lula da Silva, que lidera as pesquisas para as eleições de 2022, deve continuar se aproximando do Centro para unir os votos desta corrente aos votos que lhe são destinados pelas posições de centro-esquerda.

Para Flávio Dino, o isolamento contra a candidatura de Lula deve ficar restrito à faixa da extrema-direita, cuja fração de votos não é suficiente para ameaçar a sua vitória nas urnas. A polarização entre Lula e Bolsonaro está cristalizada e, portanto, impõe-se uma coalisão dos partidos para que, seguindo a maioria do eleitorado, posicionem-se contra a política atual do Planalto.