quinta-feira, julho 29, 2021

Acordo de Bolsonaro com Centrão só vale até abril, quando haverá a desincompatibilização

Publicado em 29 de julho de 2021 por Tribuna da Internet

Charge do Kacio (Metrópoles)

Carlos Newton

Ao nomear o senador Ciro Nogueira (PP-PI) para a Casa Civil, o presidente Jair Bolsonaro está jogando seu último trunfo para tentar disputar com chances a reeleição em 2022. Entregar a Casa Civil a um político comprovadamente corrupto, que responde a vários processos e está na malha fina da Receita Federal por sonegação milionária de impostos, sem a menor dúvida, é uma ato desesperado do chefe do governo.

Na sua estreita visão, Bolsonaro julga que está usando Ciro Nogueira, que seria seu velho amigo do PP, mas isso non ecziste, diria o Padre Quevedo. Ocorre exatamente o contrário – o novo chefe da Casa Civil é que está usando Bolsonaro.

PRAZO DE VALIDADE – Sonhar ainda não é proibido, todos sabem, e o sonho de Bolsonaro tem prazo de validade. Acaba em abril, quando Ciro Nogueira será obrigado a largar a Casa Ciivil, se quiser ser candidato ao governo do Piauí, conforme é sua intenção. Reeleito senador em 2018, ele pode disputar o governo de seu Estado sem medo de perder, porque o mandato de senador vai até 2024.

Em busca do tempo perdido, Bolsonaro acha que haverá um milagre. Com a presença de Ciro Nogueira em seu governo, julga que será possível recuperar a popularidade, mas é missão impossível.

Até abril, o espertíssimo chefe da Casa Civil já estará de malas prontas para voltar ao Senado, depois de ter se aproveitado bastante do governo.

PRAGMATISMO – Esse pessoal do Centrão é pragmático e não se alia a perdedores. Por isso, esses partidos fisiológicos, digamos assim, continuam sendo assediados por Lula, mas no momento o petista não detém a caneta mágica e o senhor dos anéis continua sendo Bolsonaro.

Enquanto se processa essa disputa de Lula e Bolsonaro pelo Centrão, a terceira via corre por fora e está ganhando cada vez mais adeptos. As pesquisas CNT/MDA e Ipec indicam que 30,1% dos eleitores não aceitam Lula nem Bolsonaro.

Já o levantamento Exame/Ideia diz que esse total chega a 38%. Nada mal. Se houver união dos partidos, o candidato da terceira via estará no segundo turno, e daí em diante a coisa fica fácil, porque a rejeição de Lula será sempre maior do que a da terceira via, que herdará os votos de Bolsonaro.