Pedro do Coutto
Julia Chaib e Renato Machado, Folha de São Paulo, e Natália Portinari e João Paulo Saconi, O Globo, em reportagens publicadas nesta quinta-feira, colocam em destaque a decisão da CPI da Covi-19 sobre a convocação de governadores para depor a respeito das ações de enfrentamento à pandemia, fato que invés de reduzir as críticas ao governo Jair Bolsonaro, irão, na realidade, ampliá-las.
Impressionante como a articulação política do Planalto não percebeu este aspecto da questão que considerava os depoimentos de governadores essenciais para deslocar a atenção da opinião pública para situações estaduais e, com isso, descomprimir o governo federal. Nada disso aconteceu. A própria CPI acolheu essa proposta por sentir, é claro, que o panorama da crise causada pela pandemia vai se tornar mais denso em relação à Brasília.
REPASSES – A maioria da CPI tinha vacilado a respeito da proposta do Planalto, porém percebeu que a presença dos governadores depondo iria acentuar a dimensão das investigações, estendendo-as aos repasses feitos pelo ministro Paulo Guedes para os estados. O governo não contava com esse aspecto e, por isso, tentava diluir as responsabilidades, deslocando-as do foco presidencial para os focos estaduais e até municipais. O comando da CPI sentiu que , de fato, a convocação de governadores abrirá mais espaço na imprensa na cobertura das versões daqueles que são chamados a depor.
Quanto aos prefeitos, parece que não haverá a mesma disposição. Afinal, o país tem 5600 municípios e seria uma perda de tempo convocar a maioria deles, impossibilitando os trabalhos de investigações. Já os governadores são 27, dos quais 14 já foram listados. Nessa etapa, vão surgir também as reclamações que governadores estão prontos a fazer contra a orientação do Ministério da Saúde, envolvendo inclusive a remessa de doses da cloroquina. O governo formou uma situação desfavorável e a essa altura deve estar com vontade de não ter feito a proposta.
O caminho agora é favorável aos que investigam as ações do Planalto. Portanto, verifica-se que houve um erro de avaliação no gabinete político da Presidência da República, e que isso aumentará pressões mais abrangentes. Governadores da oposição devem proporcionar bons momentos à CPI, sobretudo ao que refere às perguntas a serem respondidas.
SALLES E O MEIO AMBIENTE – No outro lado da defesa do meio ambiente, os problemas do Planalto são muitos, pois a cada dia surgem novas revelações contrárias ao ministro Ricardo Salles, que foi considerado um ministro de atuação excepcional por Bolsonaro.
Sob esse ângulo, o presidente da República se isolou da opinião predominante no país e até no exterior sobre o atual ministro que deveria ser do Meio Ambiente. As questões envolvendo Ricardo Salles a cada dia contribuem para reduzir a popularidade e aprovação de Bolsonaro, gerando ainda mais obstáculos para a sua pretendida reeleição no próximo ano.