Adriana Mendes
O Globo
O ministro da Defesa, Walter Braga Netto, reclamou nesta quinta-feira do corte no orçamento das Forças Armadas e alegou que “não teve politização” na troca de comando das Forças. O ministro disse também que quando o presidente Jair Bolsonaro faz declaração citando “meu Exército” ele fala como um cidadão comum. Braga Netto participou de audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado por cerca de quatro horas.
O ministro negou que houve aumento de recursos para Defesa no governo de Bolsonaro, destacando que esse é o maior problema hoje da pasta. Segundo ele, o Brasil está em 85º lugar no mundo em investimento em defesa e é o 7º na América do Sul, atrás de Colômbia, Equador e Uruguai.
RECURSO – Se os senhores me falarem: ‘ministro, me cite o problema da Defesa’. O problema da Defesa é exatamente recurso, porque capacidade, profissionalismo, tudo isso nós temos. Falta o recurso para implementar”, afirmou Braga Netto, completando que houve “diminuição” de recursos em virtude do teto de gastos.
Os três comandantes das Forças Armadas: Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, do Exército; Almir Garnier Santos, da Marinha; e Carlos de Almeida Baptista Junior, da Aeronáutica, também participaram da audiência e reclamaram do orçamento. O comandante da Aeronáutica disse vai ter rever contratos, o que resultará em ”grandes consequências”.
“Acho que todos nós deixamos muito claro a necessidade de orçamentos previsíveis nos valores adequado pra que as Forças Armadas possam cumprir sua destinação constitucional”, afirmou o tenente-brigadeiro de ar Carlos de Almeida.
INVESTIMENTOS – Ao ser questionado pelo senador Carlos Vianna (PSD-MG) sobre os investimentos na indústria de defesa, Braga Netto voltou a reforçar sobre a falta de recursos e apontou preocupação com a “perda de talentos” de profissionais da área.
O ministro afirmou também que a participação dos militares brasileiros em missões de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) fica limitada devido ao problema orçamentário.
POLITIZAÇÃO – Na sessão, a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) criticou a mistura de políticas de governo com políticas de Estado e destacou a tentativa de politização das Forças Armadas. O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) questionou declarações do presidente Jair Bolsonaro que em reiteradas vezes se referiu ao “meu Exército”.
Braga Netto substituiu Fernando Azevedo e Silva, demitido por Bolsonaro, que considerou que havia falta de alinhamento político A saída de Azevedo foi interpretada como uma tentativa de Bolsonaro de enquadrar os militares. Depois, houve a troca dos três comandantes das Forças Armadas.
TROCAS – Indagado sobre as mudanças, o ministro disse que a troca foi por “questão de antiguidade”. “Não existe politização nas Forças Armadas, isso aí é uma ideia equivocada. Houve a troca dos comandantes, por uma questão até de antiguidade, os civis normalmente não entendem muito a questão da antiguidade, mas isso para nós é muito importante”, disse o ministro.
Na audiência, Braga Netto também saiu em defesa do presidente Bolsonaro que recentemente voltou a criticar as medidas de lockdown e toque de recolher. Bolsonaro disse considerar a hipótese de as Forças Armadas irem às ruas para garantir a ordem caso a política de medidas restritivas adotadas por prefeitos e governadores contra a Covid-19. Inicialmente, o ministro disse que não comenta declarações, mas que emitiria uma opinião pessoal.
“Eu posso colocar uma posição minha. Quando nós falamos o meu exército, não é só o meu, é o meu, é o seu, é o nosso Exército (…) são de todos os brasileiros, tá? Então eu acredito que quando o Presidente fala, mas é uma suposição, ele está se referindo a ele, como qualquer brasileiro deve se referir (ao Exército)”, disse.
PROJETOS – O ministro e os comandantes também destacaram os projetos estratégicos e a atuação no combate à pandemia, com o transporte de oxigênio para os estados, na vacinação de indígenas e para doação de sangue visando aumentar o suplemento dos hospitais.
A presidente da comissão, senadora Kátia Abreu (PP-TO) , abriu sessão informando que participação de Braga Netto atende à determinação do regimento interno do Senado, segundo a qual o ministro da Defesa deve prestar contas da situação da pasta ao colegiado a cada início de ano.
A Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados aprovou ontem a convocação do ministro da Defesa para prestar esclarecimentos sobre vagas de UTI ociosas em hospitais das Forças Armadas. No Senado, o ministro negou que existam vagas ociosas nos hospitais e afirmou que o índice de contaminação de Covid-19 entre os militares é maior que na população em geral.