quinta-feira, abril 21, 2011

Padre Marcelo acusa Arquidiocese de SP de pecado capital

Pedro do Coutto

Numa entrevista intensa e transbordante a Adriana Dias Lopes, Revista Veja, valorizada pelo texto e roteiro imprimidos pela repórter, o padre midiático Marcelo Rossi, que emergiu como líder da corrente carismática da Igreja Católica no Brasil, confessa que está se sentindo afastado e marginalizado pela própria hierarquia. Motivo, ele próprio afirma, dor de cotovelo pelo seu sucesso e projeção, portanto inveja de sua performance. Foi atingido e teve que reagir e superar um sentimento de depressão que lhe invadiu a alma. Afinal não é pecado alcançar êxito. Em seu caso, êxito pleno. Cantou e gravou até com Roberto Carlos, o Me Dê a Mão Nossa Senhora. Não é para qualquer um.

Esperava ser recebido pelo Papa Bento XVI em 2008. Foi porém, ressalta, boicotado por integrantes da Arquidiocese de São Paulo. Eles – acrescentou à repórter – capricharam na humilhação. No ano passado, contudo, lembra Adriana Dias Lopes, ele recebeu um prêmio das mãos do Vigário de Roma, na Itália. Mas o padre Marcelo identifica que o desdém à sua pessoa continua dentro do próprio clero. Neste ponto ele se refere à dor de cotovelo como fonte da insídia.

Reflexo intenso sobre ele. Tanto assim que sustenta sentir-se como Jesus Cristo no Monte das Oliveiras, véspera da morte, no bíblico desfecho da crucificação. Um pouco de exagero na comparação. Afinal para os católicos, Jesus é filho de Deus. E flutuou da tumba em Jerusalém voando para o céu. Isso há 1978 anos, já que morreu aos 33 da sua vida terrena.

Exagero à parte, que inclusive reforçou o impacto do texto , o padre Marcelo, sob a ótica religiosa, lançou grave ataque à hierarquia paulista. Claro. Ele se referiu à inveja do clero contida na expressão dor de cotovelo. E a inveja é um dos sete pecados capitais.

Como digo sempre, não basta ver o fato. É essencial ver no fato. O pecado capital – pesquiso na Delta Larousse – representa a transgressão voluntária e consciente da lei Divina. Quem o comete é um pecador, portanto. Pecadores assim são os integrantes da Arquidiocese que praticaram o boicote. E esses integrantes não poderiam ser padres comuns, pois nesta condição não teriam poder para excluí-lo. São sete os pecados capitais, cada um considerado como fonte, isolada ou em conjunto, com os demais. Nesta escala encontram-se o orgulho, avareza, luxúria, ira, gula, inveja e a preguiça.

A inveja, portanto, não é um pecado venial, ou atribuído à juventude, como são outros menos graves para a Igreja de Roma. Trata-se – assinala a Larousse – da violação da lei de Deus. Matéria extremamente grave que, sob ótica de julgamento do catolicismo, leva à morte da alma. Representa o não cumprimento daquilo que a fé prescreve. O pecado venial (leve) agride a graça, mas não a destrói. Acusando de pecadores os hierarcas de São Paulo, já que mergulharam no poço obscuro e recalcado da inveja, o padre Marcelo Rossi, de fato, investiu-se de um poder que só os cardeais e o Papa possuem: lançar um anátema sobre o clero ou contra pessoas que praticam a religião.

Não creio ter sido este o objetivo do padre Marcelo, mas sem dúvida a entrevista vai gerar efeitos que se tornarão objeto de reuniões e silogismos da Religião. O fato, inclusive, pela dimensão da revista Veja, número que se encontra nas bancas, vai ser conduzido ao Vaticano, sem a menor sombra de dúvida, e levado à consideração do Bento XVI. Não se pode antecipar qual será o desfecho. Mas uma coisa certa: aconteça o que acontecer intra muros da Praça de São Pedro, o resultado final não será bom para o acusador de terem contra ele cometido, atrás das batinas e dos clergyman, o pecado da inveja. Também sinônimo de insídia e, da popularmente chamada, dor de cotovelo.

Fonte: Tribuna da Imprensa