A crise da roubalheira no Senado está nos seus estertores, com quase todos torcendo por um empate. O presidente Lula com o desembaraço de quem sabe que está por cima da carne seca, dedica-se à campanha da ministra-candidata Dilma Rousseff em tempo integral e não mede as palavras para pedir voto e discursar nos palanques.Como nem só da Dilma se cuida, o presidente distraiu-se empurrando o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles para o palanque em Anápolis e Goiânia para lançar a sua candidatura a governador de Goiás. E como o chefe que exige obediência do eleitor, advertiu que Meirelles não pode ser candidato para perder.O homenageado apelou para o bom senso e pediu tempo para analisar as suas chances como candidato, escolher um partido para se filiar e só depois decidir.Mas, a sem-cerimônia com que Lula traça o mapa para os outros não esconde a ponta de arrogância dos mais de 80% de aprovação nas pesquisas e o escasso interesse pela crise do Senado, murcha como balão com a bucha apagada.A altercação entre a candidata Dilma e a ex-secretária da Receita Federal Lina Maria Vieira despencou das manchetes de primeira página dos jornais para as páginas internas, na modéstia de poucas colunas. É evidente que não dará em nada, com o insosso empate sem gol. O seu depoimento na Comissão de Constituição e Justiça do Senado deve ser marcado para a próxima semana. No seu depoimento, Lina Vieira vai sustentar que foi convocada para uma conversa com Dilma e dela ouviu o pedido ou a ordem para agilizar a investigação da Receita sobre as empresas da família do Senador José Sarney, presidente do Senado. Entendeu o óbvio recado para encerrar o assunto. Segundo a versão de Lina, o convite para o encontro com a ministra Dilma foi transmitido pela chefe de gabinete da Receita Federal, Erenice Guerra. No disse-não-disse, a secretária Erenice desmentiu que tivesse levado qualquer recado para a Lina Maria. Um empate de pelada em campo de várzea.Só o Planalto continua preocupado com a exploração do episódio na campanha, com o desgaste da candidata do presidente Lula, que já passou a palavra de ordem: “Eu não acredito. Quem construiu esta fantasia em algum momento vai ter que dizer que foi um ledo engano.”Para lubrificar a campanha, Lula vetou o artigo da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2010 que limitava os gastos do governo com publicidade, diárias, passagens e locomoções no ano eleitoral. Na justificativa de chocante sinceridade, o governo argumenta que a limitação à execução de obras coloca em risco a realização de campanhas publicitárias de utilidade pública. Mais claro só a critica ao Tribunal de Contas da União por determinar a paralisação de obras por suspeita de irregularidades.Em mais enfática demonstração de tolerância, o presidente disse em Anápolis que “os senadores perdem tempo com brigas e priorizam coisas secundárias” e deixam de lado “as coisas que deveriam ser prioritárias” E com o dedo em riste: “O que não pode é transformar uma denúncia na única razão de ser de 81 homens que têm a responsabilidade de representar os estados da Federação”.Se o Senado não cuida da faxina da Casa, acabará como o Judas malhado no palanque da candidata Dilma e do seu criador, o presidente Lula, na campanha de 2010.
Fonte: Villas Bôas-Corrêa