quinta-feira, junho 05, 2008

Perna vendia até colchão e cobrava com sexo

Por Silvana Blesa
“Perna estuprou duas primas minhas, porque meu irmão não tinha dinheiro para pagar pela cela, como se fosse um aluguel cobrado por ele. Ele manda até nos agentes carcereiros”, revelou ontem uma mulher de preso, gritando junto a outros parentes dos internos do Presídio Estadual de Lauro de Freitas que se reuniram em frente à Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes para denunciar outras atrocidades atribuídas a ele. Perna é acusado de vender até colchões, e os presos que não tinham dinheiro eram obrigados a pagar entregando a mulher ou uma parenta para fazer sexo com o traficante. Os parentes também acusam o traficante de tortura, estupro e várias execuções de parentes de presos que não têm condições de pagar para ter um colchão nas celas. Sem dinheiro, o pagamento segundo os familiares era feito com sexo ou assassinato com alguma pessoa ligado a família do detento. Evitando mostrar os rostos as mulheres acusaram o traficante de torturas e de comandar os detentos do Presídio de Lauro de Freitas. Há dois meses, segundo os familiares dos custodiados, houve um princípio de rebelião no presídio e “Perna” teria mandado duas armas por agentes penitenciários para aos detentos do Raio B, para que eles invadissem o Raio A e atacar presos rivais.
Traficante permanece na DTE
O maior traficante de drogas considerado pela polícia na Bahia, Genilson Lino da Silva, 36 anos, conhecido como “Perna”, se encontra detido no Complexo Policial, no Vale dos Barris, depois que foi preso com R$ 280 mil em dinheiro e duas armas 9 mm dentro da cela que se encontrava na Penitencia Lemos Brito, PLB. Até que se apure todas as acusações contra ele, de homicídios, tentativa de resgate, assaltos a banco, lavagem de dinheiro e tráfico de drogas, “Perna” ficará detido na Delegacia de Tóxico e Entorpecente, DTE. A presença do traficante no local provoca pânico entre os policiaIs que trabalham no complexo. Mesmo com duas viaturas das Rondas Especiais da Polícia Militar com alguns agentes e do Comando das Operações Especiais (COE) dando segurança 24 horas, os agentes alegam correr risco de morte. Temem uma invasão. “Tememos que uma tentativa de resgate possa acontecer a qualquer momento. Estamos todos temerosos, não saímos para os trabalhos externos como investigações temendo que algo de ruim possa acontecer”, revelaram policiais do Complexo. O coordenador da DTE, Hélio Jorge ressaltou que “Perna”, está custodiado em uma cela separada dos demais presos. E ainda explicou que o traficante permanecerá no local até que seja ouvido pelos crimes que é acusado. Ontem pela manhã, o delegado titular da DTE, José Carlos Habib interrogou “Perna”, acusado da posse de um quilo e 100 gramas de maconha encontrado em janeiro deste ano dentro de sua cela e de ordenar a tentativa de resgate no dia 8 do mês passado, no Complexo dos Barris. Habib também ressaltou que na época que a droga foi encontrada, uma juíza assinou uma autorização para que “Perna” fosse prestar esclarecimento na DTE. “Uma guarnição do COE, se dirigiu até o presídio para trazê-lo até o Complexo, mas para nossa surpresa o traficante resistiu e disse que não viria. Assim fez, e nenhuma medida foi tomada por parte do Estado”, revelou o delegado. Conforme ainda Habib, durante o depoimento “Perna”, negou as acusações e disse que a droga não lhe pertencia e não sabia dizer quem teria facilitado a entrada do entorpecente na cela. Sobre o dinheiro encontrado na sua cela, o traficante disse que emprestava dinheiro a juros e por isso tinha aquele montante de dinheiro. No entanto, “Perna” negou que gerenciava o tráfico, execuções e ditava leis na cidade, e não disse quem facilitava a entrada de drogas, armas e dinheiro. Sobre as regalias que gozava dentro da custódia, inclusive TVs, bicicleta ergométrica, geladeira e entrada de garota de programa, ele nada explicou. Ontem pela manhã ele também foi ouvido pelo delegado Nilton Tomes, do Departamento de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP), que colheu depoimento do traficante a respeito do assalto ao carro-forte da Brinks, atacado por 10 homens que roubaram R$ 435 mil dos malotes do Unibanco, assim como o assalto ao Banco do Brasil de Nazaré das Farinhas que “Perna” era acusado de comandar. O depoimento do traficante não foi divulgado para a imprensa. Conforme o diretor Hélio Jorge, a delegada titular da DH, Inalda Cavalcante deverá ouvir o acusado sobre os vários homicídios e execuções imputadas a ele. O secretário da Segurança Pública, César Nunes, determinou abertura de inquérito para investigar o esquema montado pelo traficante Genílson Lino da Silva, o “Perna”, desmontado pela megaoperação batizada de Big Bang, que comandava o crime organizado do interior no Corpo 4 da Penitenciária Lemos Brito. Será apurado com rigor se existe envolvimento de policiais militares no fornecimento de armas e dinheiro para o traficante. (Por Silvana Blesa)
Regalia, sim. Mordomia, não
A juíza titular da Vara de Execuções Penais, Andremara dos Santos, difere a regalia da mordomia. A Lei de Execuções Penais em seu artigo 56, versa sobre a concessão de regalias a presos de boa conduta. Porém, não a ponto de diferenciar um preso do outro. “As regalias devem ser iguais para todos. A Lei dá direito às recompensas, mas não a mordomias. O que foi identificado na Penitenciária Lemos Brito é um arbítrio, um desvio de execução penal", afirma. Desde que a Vara de Execuções Penais possui a responsabilidade de evitar desvios, foi elaborado um plano de ação desde fevereiro, que visa a realizar inspeção cela por cela. “Sabemos que existe mais de 300 presos sem cadastro na Vara de Execuções Penais, mas temos um plano para realizar inspeção na Penitenciária Lemos Brito”, aponta, ao justificar que a corrupção é tão séria que para realizar a intervenção, é necessário cautela e aparato, a exemplo do empreendido na “Operação Big Bang”. A Comissão de Direitos Humanos e Segurança Pública da Assembléia Legislativa da Bahia desconhece as mordomias na PLB. O presidente da comissão, deputado Fernando Torres, responsabiliza a administração do presídio pela fiscalização de celas. “Nossa comissão não chega fazendo visitas para saber se os presos têm celulares, dinheiro ou armas. Nunca entrei numa cela e nem pretendo entrar. O que está acontecendo na Bahia é um problema administrativo. Em nossas visitas, verificamos se os direitos humanos dos presos estão prevalecendo”, afirma Torres, que aponta a superlotação como responsável pela condição dos presídios.
Fonte: Tribuna da Bahia