Um sigiloso encontro ontem à noite reuniu a cúpula do PMDB baiano e dele se extraiu as linhas básicas a serem adotadas pelo partido com relação ao PT, que deve deixar formalmente o governo João Henrique ainda esta semana, provavelmente hoje ou amanhã. A decisão petista é tida como um “rompimento político oportunista e traiçoeiro”, mas servirá para o que assessores do prefeito chamam de “inaugurar uma nova fase no município, que vai implicar, inclusive, no enxugamento da máquina. O PT deixará quatro secretarias - Saúde, Governo, Reparação e Ação Social - e mais dezenas de cargos segundo e terceiro escalões. A maior parte desses cargos será extinta. Só permanecerão os indispensáveis ao serviço público. O prefeito não quer se manifestar enquanto não for comunicado oficialmente pela direção do PT sobre sua atitude. Entretanto, fontes ligadas a ele asseguram que João Henrique tem se mostrado bastante irritado com a legenda com a qual tencionava manter a aliança para disputar mais um mandato em outubro. A sensação no Thomé de Souza é a de que o PT sugou até a última gota de sangue antes de abandonar o barco. “ Havia, senão um compromisso, pelo menos todo um diálogo que sustentava a necessidade de união em torno do nome de João Henrique. Esse elo foi rompido unilateralmente e, como é óbvio, o PMDB deverá tomar outro rumo também”, analisou uma alta fonte peemedebista. Aliás, esta era uma das questões a serem discutidas no encontro de ontem à noite do qual participaram o prefeito, o ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), o presidente estadual do partido, Lúcio Vieira Lima, além de deputados e coordenadores da campanha da reeleição. O PMDB não quer bater de frente com os petistas. Pelo menos por enquanto. Mas reavivaram a possibilidade de uma composição futura com o Democratas. O raciocínio é o seguinte: já que eles (referindo-se ao PT) preferem o distanciamento, não há uma única razão para o PMDB não aceitar. Outros parceiros virão, a exemplo dos democratas em 2010 ou, mais improvável, ainda este ano. O PMDB não deseja entrar em atritos com o PT sobretudo num momento em que o governador Jaques Wagner encontra-se em viagem ao exterior. Entretanto, não deixará de peitar o companheiro, se preciso for, mostrando à sociedade que setores municipais tocados por petistas se reverteram num fracasso, principalmente a saúde em cuja pasta ocorreu o misterioso e até hoje não esclarecido assassinato do servidor Neylton Silveira. O certo é que, formalizada a saída do governo, PT e PMDB dificilmente serão os mesmos. Um assessor do prefeito já fala em “ desintoxicar a máquina”, numa alusão à debandada petista, também apelidada de “ sessão descarrego”. Numa avaliação inicial, o Thomé de Souza acredita que a divisão das forças que estavam com João Henrique tende a fortalecer o prefeiturável ACM Neto (DEM). Essa mesma avaliação dá conta de uma “derrota eleitoral da candidatura petista, especialmente se for Nelson Pelegrino”. Ainda no campo tido de esquerda, a desunião torna, senão inviável, difícil a caminhada de retorno da deputada Lídice da Mata (PSB) à prefeitura. Sozinha ela (Lídice) vê escorregar das mãos a possibilidade de eleição. A mesma situação enfrenta a vereadora Olívia Santana (PCdoB). É possível que desista de ir até o fim e que junte-se ao PT. O apresentador Raimundo Varela, por sua vez, joga solto mas precisa com certa urgência de uma aliança partidária que lhe dê os preciosos minutos na tevê e no rádio durante o período de campanha. O tucano Antonio Imbassahy, também só, busca tornar uma candidatura até aqui isolada num atrativo para eventuais e futuros coligados. (Por Janio Lopo - Editor de Política)
Partido quer construir candidatura para ir ao 2º turno
A decisão do PT em deixar a administração do prefeito João Henrique não tem apenas o objetivo de colocar o partido em condições de marchar com uma candidatura própria para disputar a prefeitura de Salvador. Segundo Jonas Paulo, presidente do diretório estadual, “nós não temos ainda uma candidatura, entre as três primeiras colocadas, que seja do campo de apoio do presidente Lula”. A preocupação de Jonas é que este campo tenha um nome competitivo para ir ao segundo turno. “O PT quer oferecer esta alternativa”, disse, mas fazendo questão de lembrar dos outros pré-candidatos dos partidos aliados. Preocupado com qualquer desentendimento entre os partidos que compõem a base de apoio do governador Jaques Wagner e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Jonas Paulo disse que “o que é central é que nós estamos construindo uma política com muita responsabilidade para não haver fratura na aliança que sustenta o presidente Lula na Bahia”, admitiu. O petista disse que vai lutar junto com os outros partidos para tentar construir uma só candidatura no campo da esquerda. “Já ouvi a todos, e vamos lutar com esta visão com os partidos da base. Quero unificar o campo”, disse otimista. Perguntado sobre a decisão do PT em deixar a administração do prefeito João Henrique para tentar construir uma candidatura alternativa para disputar a eleição de outubro próximo, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, disse: “não faço política pelos jornais. O PT até agora não comunicou nada a mim, nem ao PMDB, nem ao prefeito João Henrique”. O ministro, contudo, fez questão de lembrar. “Como temos sido parceiros leais e corretos, só me manifesto depois de ter uma posição oficial do Partido dos Trabalhadores”. E disse que, por enquanto, esta era a sua posição oficial. A decisão do PT em deixar a administração do prefeito João Henrique foi tomada à meia-noite da última sexta-feira, depois de uma longa e tensa reunião da executiva municipal. Entre as justificativas apresentadas durante as discussões para o partido buscar uma outra alternativa na sucessão municipal, além dos desencontros com a aprovação do PDDU - que deixou o partido em choque com o Palácio Thomé de Souza-, a de que o prefeito não foi capaz de segurar os partidos do campo popular, como PSB, PCdoB, PPS e PV, que já fizeram parte da sua base de apoio, mas hoje discutem projetos diferentes. Amanhã o PT volta a se reunir para discutir a melhor maneira de entregar os cargos que detém na prefeitura ao prefeito João Henrique. O partido ainda mantém sobre o seu controle a Secretaria Municipal de Saúde, a de Reparação Social, do Governo. Segundo o presidente da executiva estadual petista, Jonas Paulo, o partido quer manter um diálogo aberto com o prefeito João Henrique. “Nós queremos buscar uma alternativa e queremos ampliar a frente porque a eleição de Salvador é decidida em dois turnos”, declarou. Jonas Paulo disse ainda que “durante todo o mês de abril o PT vai discutir a sua tática eleitoral, a política de alianças e candidaturas”. Neste pique, ontem ele já estava em Ibotirama, na região oeste do estado, num encontro com o PT local. O petista disse que os encontros vão acontecer em todas as regiões da Bahia. Sobre a sua tática eleitoral, em Salvador o partido primeiro quer indicar um nome como alternativa do campo de esquerda - sendo os mais indicados os dos deputados federais Nelson Pelegrino e Walter Pinheiro, além do secretário estadual de Promoção da Igualdade Racial, Luiz Alberto -, para depois discutir com as outras legendas aliadas uma candidatura de consenso. A possível entrada do PT com uma candidatura própria muda significativamente o cenário sucessório de Salvador, principalmente por se tratar do partido do governador e do presidente da república. No mínimo, se o partido não emplacar um candidato, vai ter uma forte influência sobre o que for lançado pelo campo de esquerda, como quer Jonas Paulo, “para ter uma candidatura vinculada ao projeto que o PT tem para o País”. Como opção deste campo, Jonas Paulo citou ainda os nomes da deputada Lídice da Mata, pré-candidata do PSB, e da vereadora Olívia Santana, pré-candidata do PCdoB, além do PPS. A decisão do PT esquenta mais ainda a sucessão municipal. Por outro lado, a tentativa pode dividir o campo de esquerda, caso não haja acordo para escolha de um nome de consenso entre os partidos representados. Por isso, sem convite para este banquete, os pré-candidatos Antonio Imbassahy (PSDB), Raimundo Varela (PRB) e ACM Neto (Democratas), assistem calados o que vai resultar deste desenho eleitoral. E para não dizer que não falamos de flores, aguardemos o grau da temperatura na relação PT/PMDB. (Por Evandro Matos)
MP pede afastamento do prefeito de Riachão
O Ministério Público Estadual ingressou com uma ação cívil pública por ato de improbidade administrativa contra o prefeito de Riachão do Jacuípe, na região do Sisal, Lauro Falcão Carneiro, a secretária de Administração, Patrícia Falcão, que é prima do prefeito, e a empresa Peça Fácil Veículos. O promotor de Justiça, José Vicente, requereu o afastamento do prefeito do cargo, a indisponibilidade total dos seus bens, suspensão dos direitos políticos e a devolução dos recursos aos cofres públicos devido ao superfaturamento na aquisição de um veículo ônibus Volare W8. A juíza da comarca de Riachão do Jacuípe, Regiane Yuke Tiba, acatou a denúncia e, por precaução, pediu de imediato a indisponibilidade total dos bens do prefeito. Na semana passada, o Ministério Público também requereu a anulação de um Concurso Público realizado pelo prefeito Lauro Falcão no final de 2007. De acordo com o MP, foram comprovadas várias irregularidades no concurso, entre elas a aprovação de parentes e amigos do prefeito sem qualquer critério. No seu parecer, o promotor José Vicente pede o afastamento da coordenadora do Concurso, Patrícia Falcão, que é secretária municipal e prima do prefeito, a rescisão do contrato com o Irac (empresa organizadora do concurso), além da realização de novas provas, sem prejuízo para as pessoas prejudicadas. O caso vai parar no Tribunal de Justiça, presidido pela desembargadora Sílvia Zarif, cujo pleno tem reservado uma sexta-feira do mês para julgamentos de improbidade administrativa de prefeitos.
Fonte: Tribuna da Bahia