Oposição pretende centrar forças na Comissão do Senado e Planalto ordena convocação de "fiéis"
BRASÍLIA - Depois de esvaziarem a CPI Mista dos Cartões Corporativos, os oposicionistas pretendem investir suas forças na comissão de inquérito exclusiva de senadores, que deverá ser instalada na semana que vem. Mas, para evitar surpresas, o governo decidiu "blindar" a nova CPI e a ordem aos aliados é indicar apenas senadores fiéis ao Palácio do Planalto. "A CPI Mista está acabando mesmo. Então vou para essa nova", disse ontem o líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO).
Ele indicou ainda os senadores Gilvan Borges (RR) e o líder Romero Jucá (RR) para a CPI. Raupp já havia apresentado um requerimento à mesa com as indicações, mas o retirou a pedido da líder do PT, Ideli Salvatti (SC), que propôs fazer em bloco as indicações envolvendo todos os partidos aliados.
Mesmo cientes de que serão minoria na nova CPI, o DEM e o PSDB decidiram indicar seus representantes para a comissão. "Nossa prioridade é a CPI do Senado", disse o líder do DEM, José Agripino Maia. "Eu não acredito nessa CPI só do Senado. Vai ser a mesma coisa da outra CPI: o governo vai continuar 'tratorando' a oposição", observou o senador Jefferson Péres (PDT-AM).
Integrada por 11 senadores, a nova CPI terá a participação majoritária da base aliada. O DEM e o PSDB juntos terão apenas três vagas. "Não vejo muito diferença se eu entrar na CPI. Tanto faz perder de 8 a três ou sete a quatro", constatou Péres.
O DEM já indicou dois representantes para a CPI exclusiva: Efraim Morais (PB) e Demóstenes Torres (GO). O PSDB ainda não escolheu seu representante, que poderá ser Marconi Perillo (GO) ou Álvaro Dias (PR). Para acomodar esses senadores, PSDB e DEM terão de fazer um remanejamento nas quatro CPIs do Senado, uma vez que o regimento não permite que um mesmo senador integre duas comissões de inquérito como titular.
Esforços
Esvaziada pela oposição, a CPI Mista vai centrar seus esforços em investigar integrantes do governo de Fernando Henrique Cardoso. Na semana que vem, pretende votar requerimento solicitando a convocação do deputado Raul Jungmann (PPS-PE). Ex-ministro da Reforma Agrária, Jungmann gastou R$ 15.691,61, em um período de 51 meses, em alimentação, na maioria das vezes em restaurantes e supermercados de Brasília.
Segundo a Controladoria Geral da União (CGU), a legislação proíbe o uso de recursos de suprimento de fundos para despesas com comida em Brasília. Na tentativa de acuar a oposição, a base aliada vai passar um pente fino, por ordem cronológica, nos documentos que estão chegando à comissão de inquérito com os gastos com cartões corporativos e contas tipo B (despesa justificada por nota fiscal depois de o servidor receber uma verba).
Pretende "auditar" todos os documentos e convocar os envolvidos. "Nós não vamos sair desta CPI. A orientação é continuar aqui de pé", disse o deputado Paulo Teixeira (PT-SP). "A CPI só do Senado é desnecessária porque tem o mesmo objeto de investigação da mista".
Fonte: Tribuna da Imprensa