quinta-feira, março 13, 2008

Dinheiro público pagou prêmio de time campeão em Alagoas

MACEIÓ - A Polícia Federal de Alagoas revelou ontem que o prêmio de mais de R$ 100 mil aos jogadores de Coruripe pela conquista do Campeonato Alagoano de Futebol 2007 foi pago com dinheiro da Assembléia Legislativa. A PF chegou à conclusão depois de ouvir na noite de terça-feira o depoimento do diretor de Futebol da Associação Atlética Coruripe, Rosiwelington da Silva Tavares, conhecido como Pato.
Segundo o delegado Sandro Augusto, da assessoria de imprensa da PF, Pato disse que forneceu o número da conta para uma pessoa, mas não lembrava quem. "O diretor de Futebol revelou que os dois repasses, no valor de R$ 49,8 mil e R$ 60 mil, teriam como objetivo o pagamento dos jogadores do clube campeão, mas não sabia de quem teria partido a iniciativa de efetuar o pagamento com o dinheiro da Assembléia", afirmou Sandro Augusto.
O delegado Janderlyer Gomes, responsável pelo inquérito que apura o desvio de R$ 280 milhões da folha de pagamento do Legislativo alagoano, desconfia que a ordem para pagar o prêmio dos jogadores do Coruripe tenha partido do deputado estadual João Beltrão (PMN), que é o presidente de honra do clube. Beltrão nega ter realizado a operação, mas confirmou ter feito um empréstimo de R$ 150 mil, usando como avalista a Assembléia Legislativa.
Pelo menos 12 dos 27 deputados estaduais alagoanos já foram indiciados pela PF acusados de participação no golpe, entre eles o presidente afastado Antônio Albuquerque (DEM) e mais cinco integrantes da Mesa Diretora. Ao todo, o delegado Janderlyr Gomes já indiciou mais de 80 pessoas envolvidas na Operação Taturana, deflagrada em dezembro de 2007. Alguns deputados e ex-deputados, a exemplo de Beltrão, foram indiciados porque contraíram empréstimos irregulares.
A lista de empréstimos irregulares inclui ainda servidores do Legislativo e políticos ligados a deputados. Somados, os empréstimos feitos pelo Bradesco em 2006, tendo a Assembléia como avalista, chegam a R$ 2,7 milhões. Segundo a assessoria de imprensa da PF, o crime não é o empréstimo em si, mas a forma fraudulenta como ele era feito, utilizando-se um poder público como avalista, inclusive com cheques do talonário da própria Assembléia.
Até o ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Poder Legislativo, Aroldo Loureiro, tinha empréstimo tomado no nome dele. Provavelmente, todos os que contraíram empréstimos de maneira irregular serão indiciados. De acordo com a PF, ao contrair os empréstimos irregulares os indiciados cometeram crime contra o sistema financeiro, peculato e formação de quadrilha.
Os empréstimos fraudulentos são uma das modalidades usadas pela organização criminosa para desviar R$ 280 milhões do Legislativo. Como a Assembléia era avalista, é possível que todo o prejuízo de R$ 2,7 milhões tenha sido do erário. Os empréstimos eram tomados do Bradesco, que também responderá judicialmente pelas operações financeiras. O esquema funcionou em 2006 e foi suspenso por auditores do banco em 2007.
Entre os deputados indiciados estão Antônio Albuquerque (DEM), Cícero Ferro (PMN), Dudu Albuquerque (PSB), Cícero Amélio (PMN), Isnaldo Bulhões Júnior (PMN), João Beltrão (PMN), Marcos Ferreira (PMN), Arthur Lira (PMN), Nelito Gomes de Barros (PMN), Maurício Tavares (PTB) e Edval Gaia (PSDB). O ex-deputado Antônio Holanda Filho (PTdoB), que teve o mandato cassado no início do ano por compra de voto, também está entre os indiciados.
Fonte: Tribuna da Imprensa