BRASÍLIA - A guerra de repatriações de cidadãos brasileiros e espanhóis, até agora travada por policiais nos aeroportos, terá um capítulo diplomático, mas só após a Páscoa. O ministro das Relações Exteriores da Espanha, Miguel Angel Moratinos, telefonou ontem a seu colega Celso Amorim e propôs uma reunião entre representantes dos dois países, a ser realizada em Madri, logo depois da Semana Santa, para dar fim aos casos de repatriação que têm gerado constrangimentos para viajantes dos dois países.
Amorim disse estar satisfeito porque o contato de Moratinos foi feito dois dias depois das eleições na Espanha, vencidas pelo Partido Socialista do primeiro-ministro José Luiz Zapatero, bem mais tolerante com as migrações. Ele informou que o Brasil será representado no encontro pelo embaixador Oto Maia, subsecretário-geral das Comunidades Brasileiras no Exterior.
"Moratinos não usou a palavra trégua, mas eu interpretei assim, e isso é muito bom", disse Amorim, durante audiência pública na Comissão de Relações Exteriores do Senado. Depois, em entrevista, ele afirmou que não se lembrava direito do termo usado por Moratinos, mas era algo semelhante a "uma mitigação do problema".
De acordo com Amorim, seu colega disse que é importante resolver o problema rapidamente, enquanto a reunião não é feita. Diariamente, 800 brasileiros desembarcam em Madri. "Todos nós vamos fazer um esforço para diminuir os casos de inadmitidos. Vamos criar atitudes de contenção", disse Amorim.
Ele informou que há cerca de 20 dias havia conversado com Moratinos e se queixado do tratamento dado a brasileiros. "Foi quase como uma premonição dos problemas ocorridos na semana passada. Fiz o comunicado porque as inadmissões em Madri, que eram de um ou dois por dia, passaram para oito, dez casos", afirmou Amorim.
Fortaleza
Sem entrar em detalhes, o ministro criticou agentes da Polícia Federal (PF) de Fortaleza, que terça-feira impediram a entrada do espanhol Gerard Llobert Llorene, de 31 anos, que pretendia ir para Jericoacoara, onde passaria cerca de três meses. As imagens foram divulgadas na madrugada de ontem pelo "Jornal da Globo".
"Não deve haver esse tipo de ação de um funcionário", disse Amorim, em resposta ao senador Jefferson Péres (PDT-AM). "Achei um absurdo a atitude do funcionário da PF", disse Péres. "Os atos da Polícia Federal no Brasil são recíprocos aos atos da polícia na Espanha. Uma das exigências é ter endereço fixo para ficar no meu País por 90 dias. O senhor não tem, o senhor vai voltar pelos mesmos motivos que os brasileiros estão voltando da Espanha", explicou o agente.
O turista voltou para a Espanha no mesmo avião que o trouxe. Na mesma reportagem do "Jornal da Globo", o chefe do setor de migração da PF de Fortaleza, Thomaz Wlassak, explicou por que o turista foi mandado embora: "Pelo menos um comprovante de reserva de hotel, aluguel de carro, um passeio turístico, algum endereço fixo, ter trazido dinheiro suficiente para gastar aqui. Nesse caso, fica muito fácil de caracterizar como turista que não interessa ao nosso País".
O coordenador-geral de Imigração da PF, delegado César Augusto Toselli, que ontem participou de audiência na Câmara dos Deputados, disse que a corporação não está adotando o princípio da reciprocidade em relação aos cidadãos espanhóis. "A PF age de acordo com as leis do Brasil. Se alguém é impedido de entrar, não é por reciprocidade".
Fonte: Tribuna da Imprensa