quinta-feira, março 13, 2008

Depois da mãe, a vez do pai

Por: Carlos Chagas

BRASÍLIA - Dispõe o calendário político de suas próprias datas, sempre conflitantes com o calendário gregoriano e até com o calendário comercial. Porque se a semana passada marcou o "dia da mãe", no caso, a ministra Dilma Rousseff, chamada pelo presidente Lula de a genitora do Plano de Aceleração do Crescimento, hoje será o "dia do pai".
O governo vai comemorar o aniversário do Ministério da Integração Social e seus mais do que louváveis feitos, a começar pelo bolsa-família. As atenções recairão sobre o gestor maior da política social do presidente Lula, o ministro Patrus Ananias. Para ele, todas as homenagens, como pai da diminuição das agruras dos aflitos.
Coincidência ou não, trata-se de outro possível pré-candidato do PT à sucessão de 2010. Assim como o presidente Lula levou Dilma Rousseff para o centro do palco, agora é a vez da entrada desse quase estranho no ninho dos companheiros, porque, além de excelente administrador, comprovado na Prefeitura de Belo Horizonte, trata-se de um filósofo e historiador de mão cheia, capaz de discursar sobre Aristóteles em grego e de repetir em latim as orações de Cícero. De quebra, é católico praticante, tão humilde quanto São Francisco de Assis. Coisa que não o impediu de tornar-se um dos mais profundos conhecedores do cinema moderno, com ênfase para as produções brasileiras.
Se um objetivo deu certo no governo Lula foi o da redução da miséria, expresso nas inúmeras pesquisas de opinião realizadas ao longo dos últimos anos. Tudo realizado à maneira dos mineiros, ou seja, em silêncio, pelas mãos do ministro da Integração Social.
Depois dos elogios mais do que merecidos, vem a realidade: quantos eleitores conhecerão Patrus Ananias, além dos limites da capital de Minas? Mesmo no âmbito do PT, com que grupos ele contaria para apoiá-lo, desde o antigo Campo Majoritário à Democracia Socialista e outros? A maioria dos companheiros dedica-lhe atenções devidas a um monge, daqueles aos quais só se recorre em períodos de extrema dor de consciência.
Apesar de tudo, é mais um nome que entra nessa confusa armação operada pelo presidente Lula, de testar opções sucessórias dentro dos limites de seu próprio partido. Por conta disso, aguarde-se para qualquer dia desses uma terceira homenagem, a ser prestada senão à Justiça, pelo menos ao ministro da própria, Tarso Genro. Depois, ninguém poderá alegar que o comandante em chefe não tentou, antes de ficar evidente que o PT só dispõe mesmo de um único candidato capaz de vencer as eleições...
Contrariando expectativas
Por um desses desígnios da natureza, o mês de março vai passando e até agora não esquentaram as campanhas para as eleições municipais. Sequer a disputa para a prefeitura das grandes capitais entusiasma o cidadão comum. Bem que a mídia insiste, aborda a disputa entre Geraldo Alckmin, Gilberto Kassab e Marta Suplicy, em São Paulo, assim como abre amplos espaços para a candidatura pouco ortodoxa de Fernando Gabeira, no Rio. O problema é que nada pega. Não cola, nem no eixo do desenvolvimento nacional e, muito menos, em outros estados.
Tem gente inclinada a empurrar a responsabilidade aos partidos, porque nenhum deles cuidou, sequer genericamente, de preparar planos e programas para cada uma das cidades mais importantes do País. O Rio precisa de que mudanças e modernizações? Como São Paulo poderá enfrentar o caos no trânsito e as permanentes inundações da temporada de chuvas?
Assim para as demais capitais. Haverá alguma estratégia, nem se falando por enquanto em campanhas, para o PT aumentar o número de seus prefeitos e vereadores? Estará o PMDB interessado em preservar a condição de maior partido nacional junto aos 5.560 municípios do País?
No interior, registram-se no máximo as tertúlias de sempre, entre um ex-prefeito que pretende voltar, de olho na coleta do lixo, e um velho líder que, sem ter lido Proust, pensa em recuperar o tempo perdido através da aquisição de ambulâncias. Podem até aparecer lideranças jovens, mas qual delas pensa em apresentar propostas concretas para melhorar a vida dos cidadãos? Pode ser que tudo mude, mas, afinal, as eleições estão marcadas para outubro, que não parece tão longe assim.
Quem avisa, amigo é
Deve-se prestar atenção às observações feitas pelo general Augusto Heleno, atual comandante militar da Amazônia, a respeito da defasagem de equipamento e material de que o Exército dispõe, na região. Fuzis com cinqüenta anos de uso, helicópteros que se levantarem não descem, carros de combate de tempos idos.
São imensas as fronteiras com nossos vizinhos, aliás, muito bem armados, em se tratando da Colômbia e da Venezuela. Não se imaginam entreveros, muito menos invasões, mas, se não estivermos preparados para vigiar, um dia nos surpreenderemos.
Fonte: Tribuna da Imprensa