domingo, dezembro 09, 2007

Respingos na antiga cúpula da PF

Vasconcelo Quadros Brasília



O Ministério Público Federal recomendou o afastamento do delegado Zulmar Pimentel do cargo de chefe da Interpol para a América Latina. A decisão sobre o futuro do delegado - ex-diretor executivo da Polícia Federal e mentor das operações que nos últimos cinco anos tornaram a PF uma vitrine no combate à corrupção - depende da ministra do Superior Tribunal de Justiça Eliana Calmon.


Resultado de investigações iniciadas em 2005 e que redundaram em três operações de impacto, a denúncia da procuradora da República Cláudia Sampaio Marques contra um grupo encabeçado pelo presidente do Tribunal de Contas do Estado da Bahia, Antônio Honorato, apanhado na Operação Jaleco com outras 27 pessoas, atingiu em cheio um grupo de cinco delegados que integravam a cúpula da PF na gestão do ex-diretor Paulo Lacerda, hoje chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).


Saindo de cena

O ocaso de Pimentel acaba facilitando uma mudança mais profunda na estrutura da Polícia Federal, uma dança de cadeiras que começou a ser operada a partir da sucessão de Lacerda pelo delegado Luiz Fernando Corrêa. Com a antiga diretoria, saem de cena outros dois policiais denunciados no mesmo caso de vazamento de investigação sigilosa: o ex-superintendente do Ceará, João Batista Santana, aposentado, e o delegado Marco Antônio Mendes Cavaleiro, assessor especial do senador Romeu Tuma (DEM-SP). No mesmo grupo estão também outros dois delegados federais, que não foram denunciados agora, mas estão sob investigação, o ex-superintendente de Sergipe, Rubem Patury, e o secretário de Segurança do governador da Bahia, Jaques Wagner, Paulo Bezerra. Os cinco delegados fazem parte de um grupo de federais que tinha influência desde a época em que a corporação era dirigida por Tuma - um policial civil que operou e dirigiu o Deops paulista na ditadura, mas ganhou notabilidade como diretor da Polícia Federal entre 1983 e 1992. A queda desse grupo, por ironia do destino, fecha o ciclo da gestão de Lacerda e apaga os últimos vestígios da longa era Tuma no órgão.



A denúncia também demonstra que, se é capaz de cortar na própria carne, a Polícia Federal transformou-se numa instituição cada vez menos suscetível às interferências políticas. Os cinco delegados foram apanhados em meio às investigações que desembocaram na maior ofensiva contra a corrupção em órgãos públicos, a Operação Navalha, de abril deste ano, que apanhou o dono da Construtora Gautama, Zuleido Veras, vários deputados federais e defenestrou do cargo o ex-ministro das Minas e Energia Silas Rondeau, suspeito de ter recebido R$ 100 mil de propina do empreiteiro. Tudo começou em 2005 com uma investigação interna, que apurava indícios de promiscuidade entre o ex-superintendente de Sergipe Rubem Patury, e pessoas ligadas a Zuleido Veras. Descobriu-se então que o empreiteiro havia pago a festa de posse de Patury como superintendente, na época, uma bagatela de R$ 7 mil.

A investigação mirava, no entanto, também outros dois delegados, Paulo Bezerra e o atual superintendente da Polícia Federal na Bahia, Antônio Cesar Fernandes Nunes, apontados no relatório da própria polícia como suspeitos de repassar informações a empresários que estavam sendo investigados. Mesmo experientes, todos acabaram caindo no mesmo grampo telefônico que, com autorização judicial, a polícia usa como importante instrumento contra o crime organizado. Os trechos de diálogos transcritos pela procuradora apontam que o delegado Marco Antônio Cavaleiro teria sido informado por Zulmar Pimentel sobre a investigação em curso (chamada na época de Octopus) e vazado as informações sigilosas para o ex-superintendente do Ceará João Batista Santana, investigado por supostas irregularidades quando ocupou o mesmo cargo na Bahia.


O grampo revela relações promíscuas e criminosas entre delegados que integravam a cúpula da PF. Segundo a denúncia, trocavam-se informações sigilosas por passagens aéreas, hospedagem, ingressos de camarote para festas de carnaval ou despesas pessoais. Um dos alvos da Operação Navalha, o empresário Clemilton Rezende teria bancado bilhetes aéreos a parentes do delegado João Batista e, em troca, foi informado sobre investigação contra ele.

Fonte: JB Online