SALVADOR - Cerca de 6 mil pessoas, entre religiosos, fiéis, representantes de movimentos sociais, de tribos indígenas e quilombolas, participaram ontem, em Sobradinho, a 554 quilômetros a Noroeste de Salvador, de um ato ecumênico em apoio ao bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio.
O bispo jejua há 13 dias contra as obras de transposição do Rio São Francisco. A manifestação de apoio começou às 8 horas, enquanto as últimas caravanas chegavam para a celebração, recebidas por músicas religiosas. Segundo a Articulação São Francisco Vivo, grupos de apoio ao bispo chegaram de todo o interior da Bahia e dos estados de Alagoas, Distrito Federal, Mato Grosso, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo, Sergipe e Tocantins.
O ato começou com discursos inflamados contra a transposição, mas ganhou destaque uma fala menos apaixonada, feita pelo presidente estadual do PT na Bahia, Marcelino Galo. Mesmo se posicionando a favor do bispo e de sua luta, Galo foi bastante vaiado pelos presentes. "Estou aqui para me oferecer como porta-voz para um diálogo entre o bispo e o governo", argumentou, sem sucesso na tentativa de dissipar os apupos.
Cappio ouviu atentamente os discursos e, mesmo fragilizado após 13 dias de greve de fome, discursou também. "É a hora de o povo lutar por seus direitos, por suas necessidades", pregou, arrancando aplausos e lágrimas da platéia. "A presença de vocês aqui me faz sentir muito forte". O bispo também recebeu, um por um, todos os que formaram fila para falar com ele.
Integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), Emiliana Borges, moradora no município vizinho de Sento Sé, chorava sem parar após falar com dom Cappio. "Conversei com um santo", suspirava. "Ele tem uma força maior, um dom divino. Ninguém vai conseguir fazer mal a ele, porque ele luta pela gente, pelo bem."
Durante a tarde, uma parte dos manifestantes, carregando potes e latas d'água, foi à Barragem de Sobradinho - que abastece as Hidrelétricas de Paulo Afonso, Itaparica e Xingó - para oferecer um "gole d'água" ao São Francisco, em alusão à iminente "morte do rio". Cappio foi junto. Lá, benzeu a água da barragem.
Segundo dados da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), a represa chegou, na quinta-feira, ao menor nível em sete anos: apenas 13% da capacidade. Por causa da estiagem, espera-se que, na próxima quinta-feira, o nível esteja em 12,6%. Na volta, Cappio voltou a dizer que espera um fim positivo para sua manifestação. "O protesto não tem relação apenas com a minha vida, mas com a dos milhares de nordestinos que têm o rio como meio de vida", afirma. "Estou esperando uma manifestação do governo."
Fonte: Tribuna da Imprensa