Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Caso a pergunta se faça a um economista, a um executivo de multinacional ligada ao petróleo ou, mesmo, a um técnico da Petrobras, e eles nos olharão de cima para baixo, com ar de comiseração, antes de dar a resposta. Terão mil explicações que o cidadão comum não entenderá para a indagação de por que, enquanto o dólar subia, elevava-se o preço da gasolina, mas, agora que o dólar despenca, como não cai o preço da gasolina?
Podem dizer o que quiserem, mas tem vigarice nessa história. No mínimo, contrariando a lógica dos pobres mortais situados aqui em baixo. Celebra-se a força do real frente ao dólar ou, até mesmo, a fraqueza das verdinhas, mas, em termos concretos, a conclusão é de que os mesmos de sempre continuam faturando em cima de todos nós. Apesar das mil equações esotéricas expostas em economês, como explicar o inexplicável?
Suportamos montes de aumentos da gasolina por conta da alta do dólar. Tudo bem, era assim que as coisas funcionavam. Só que quando chega a vez da recíproca, ela não é verdadeira. O dólar despenca e os preços do combustível mantêm-se no mesmo patamar, quando não crescem...
É por essa e outras que, humildemente, duvidamos desse fajuto mercado que não sofre limite algum do poder público. Aliás, de uns tempos para cá, o Estado transformou-se em linha auxiliar do poder econômico. Fazer o quê?
Dia Mundial da Frustração
Comemorou-se o Dia Mundial do Meio Ambiente. Melhoramos muito, nos últimos anos, porque os festejos não se limitam mais à bucólica apresentação de imagens de criancinhas correndo e sorrindo na floresta, ou de pingüins passeando no gelo. Conscientiza-se a humanidade dos perigos do aquecimento global e de seus perniciosos efeitos para o futuro, senão nosso, ao menos de nossos netos.
O problema é que as nações que mais poluem o meio ambiente, colocando o mundo em risco, não assinaram o tal Protocolo de Kioto, um início de solução para evitar a deterioração do planeta e da própria vida, como a conhecemos. Estados Unidos e China, a pretexto de preservar seu crescimento econômico e a prevalência de seus interesses, continuam a ocupar a pole-position na emissão de gases poluentes e sucedâneos.
Para sair do pelourinho virtual, que em nada os prejudica, americanos e chineses resolveram dar uma satisfação à comunidade internacional. Esta semana, antes que se iniciasse a reunião dos interessados, lá no Extremo Oriente, os governos dessas duas nações divulgaram sugestões para minorar os efeitos do aquecimento global.
De forma unilateral, recomendaram iniciativas que apenas satisfazem suas indústrias e serviços. E lavaram as mãos: se o mundo quiser livrar-se da catástrofe próxima, que siga suas lições. Eles, porém, dão de ombros para a decisão dos demais países, expressa anos atrás em Kioto.
É aquela velha história que vem da Grécia Antiga: as leis são feitas pelos poderosos como forma de continuar dominando os fracos... Com todo o respeito pelas boas intenções, precisamos criar o Dia Mundial da Frustração.
Blitz contra Meireles
Deve cuidar-se o presidente do Banco Central, nas aparências inamovível, na prática começando a ser solapado em suas bases. O PT, reunido dias atrás, pretende desencadear ampla campanha contra a imobilidade dos juros, confirmada na semana que passou. A bandeira do vice-presidente José Alencar não mudará de mãos, mas também será empalmada pelo partido do presidente da República.
Pode ser por razões eleitorais futuras, já que o PT continua órfão de candidatos presidenciais, exceção, é claro, do próprio Lula. Um movimento coordenado, no Congresso e fora dele, pela redução dos juros, ensejaria aos petistas ocupar ao menos parte do palco onde a sucessão se irá travar.
Até aí, nada demais, poderia tratar-se de um sonho de noite de verão em pleno inverno, não fosse... Não fosse o estímulo que flui de alguns gabinetes do Palácio do Planalto para o PT desencadear esse novo movimento. Dilma Rousseff? Guido Mantega? Tarso Genro? Pelo menos dois desses três ministros empenham-se em erodir as estruturas de Henrique Meireles. Ou partirá do próprio presidente Lula a opção alternativa?
Porque uma coisa é certa: a atual política de juros se constituirá no precipício com lugar marcado para engolir as pretensões do PT de permanência no poder.
Foi na dinastia anterior...
Décadas atrás, um navio-escola da Marinha japonesa ancorou no Rio, para viagem de boa vizinhança. Era comandado por um almirante, que convidou a imprensa para um almoço e uma entrevista. Havia muito pouco a perguntar em termos bélicos, e a conversa arrastava-se entre os permanentes sorrisos do oficial e a inação dos jornalistas.
Foi quando um colega, até por falta de assunto, indagou com o anfitrião como ele explicava aquele verdadeiro milagre do Japão, devastado na Segunda Guerra Mundial mas ocupando anos depois uma posição ímpar no concerto das nações. O almirante respondeu que a transformação rápida de seu país em potência econômica mundial devia-se a um imperador daqueles com nome complicado, no século XVIII.
"No século XVIII?", indagaram todos, imaginando não ter sido entendida a pergunta, tendo em vista que a derrota japonesa acontecera em 1945, por conta de duas bombas atômicas.
O almirante deixou passar a perplexidade e então explicou. Aquele imperador, lá para 1750, decidira multiplicar o número de professores no país, dando a eles títulos de nobreza, propriedades e status social. Como se os jornalistas continuassem sem entender, concluiu: "O resultado aí está, garantido muito antes das bombas atômicas..."
Fonte: Tribuna da Imprensa