Partido pretende adiar ao máximo julgamento de processos contra peemedebista
BRASÍLIA - Favorecido pela demonstração de força de sua bancada, como ficou provado na derrubada da medida provisória que criava a Secretaria de Planejamento de Longo Prazo, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e seus aliados esperam agora recuperar o apoio petista. Não para a missão de inocentá-lo novamente no plenário, como ocorreu no último dia 12, mas para ajudá-los na tarefa de adiar ao máximo a votação das três representações a que responde no Conselho de Ética.
O trabalho vem sendo conduzido pelo presidente do conselho, Leomar Quintanilha (PMDB-TO). E é graças a ele que, passados 17 dias da absolvição de Renan, foram suspensas duas reuniões do órgão. “Ele tem o presidente do conselho como aliado, a ponto de ele tampouco ter indicado até agora dois relatores”, criticou Demóstenes Torres (DEM-GO). “Renan pode vir com suas manobras, mas nós (da oposição) estaremos atentos para tentar impedi-las”.
Na semana passada, Quintanilha cancelou a sessão, sem maiores explicações. Na última quarta, além de alegar um mal-estar intestinal, ele coincidiu o horário da reunião com a de votações no plenário. O senador marcou outra reunião para hoje. Os aliados querem estender a tramitação das representações até o recesso de dezembro. A partir daí, acreditam, o clima de fim de ano pode esfriar a crise.
O fim do episódio se daria em 2007, quando, cansados do problema, governo e oposição dariam um jeito de convencer a opinião pública de que, no fim das contas, Renan será julgado pelas urnas. A tática leva em conta a necessidade de não expor novamente o PT à cobrança das ruas, como ocorreu ao ajudar a inocentá-lo por 40 votos e seis abstenções, entre elas a do senador Aloizio Mercadante (SP).
O fato de expor o poder do PMDB e ao mesmo tempo favorecer o partido de Lula embute recado claro ao Planalto: o de que Renan não abrirá mão da sua defesa para ajudar o governo a votar projetos importantes como a prorrogação da CPMF. Interlocutores de Renan admitem que o clima é de “estresse máximo”. Pesa contra ele, além das três denúncias, o fato de estar em busca de um novo advogado, após a renúncia de Eduardo Ferrão. O defensor se desligou do caso dois dias depois de ele escapar da cassação pela suspeita de ter tido despesas pessoais pagas pelo lobista de uma empreiteira.
Outro ponto negativo foi a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de barrar a operação montada por sua tropa de choque para obrigar o Conselho de Ética a adotar o voto secreto nos pareceres contra Renan. Uma das três representações contra o senador diz que ele teria prepostos à frente da sociedade que manteve com o usineiro João Lyra na compra de um jornal e de duas rádios. As outras duas tratam de suposto favorecimento da Schincariol junto ao INSS e à Receita e, por fim, da suspeita de coleta de propina em ministérios do PMDB.
“Acho que essa posição (de tentar adiar as tramitações) é de um egoísmo imperdoável. Tem por objetivo preservar os interesses de um senador em detrimento da instituição cuja imagem já está deteriorada pela insistência de Renan em se manter presidente da Casa”, afirmou Álvaro Dias (PSDB-PR).
Para Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), todos os episódios são agravantes. “Se houve mudanças, foi para pior. Não se votou nada no plenário e houve vários tipos de constrangimento a ponto de Renan estar confundindo o PT com a oposição”. Jarbas acha difícil estender os processos até dezembro. “Esse tipo de raciocínio teria alguma lógica se estivéssemos em novembro. Agora, querer adiar até o fim do ano, só vai trazer mais complicação para o próprio Renan”.
O líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), também rejeitou a idéia. “Essa tentativa de adiar não vai vingar porque o próprio PT vai cobrar a fatura. Se Renan aposta no esquecimento da cobrança das ruas, está enganado”.
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Oposição aposta em novas evidências contra senador
BRASÍLIA - Além de tentar impedir o adiamento das sessões do Conselho de Ética, os defensores da cassação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), esperam que surjam novas evidências contra o senador. Depois de ser absolvido da acusação de que Cláudio Gontijo, lobista de uma empreiteira, bancou suas despesas pessoais (entre elas pensão e aluguel da jornalista Mônica Veloso), esses senadores avaliam que, se não surgirem novos fatos, dificilmente ele será condenado nas três representações que ainda serão analisadas.
Na opinião do senador Renato Casagrande (PSB-ES), relator junto com Marisa Serrano (PSDB-MS) e Almeida Lima (PMDB-SE) da primeira representação contra Renan, o problema não é condená-lo no Conselho de Ética. “Lá, com voto aberto, o ambiente é francamente desfavorável a ele”, diz. A questão será juntar provas suficientes para dobrar o plenário, onde o prestígio de Renan é alto. “Sem provas novas, essa tarefa será bem mais difícil”, reconhece Casagrande, que, em parecer conjunto com Marisa, pediu a cassação de Renan. O senador capixaba teme também que o ex-deputado e usineiro João Lyra acabe não depondo ao Senado no caso avaliado na terceira representação, que apura se Renan foi sócio oculto de duas emissoras de rádio e um jornal.
Em entrevistas, Lyra tem confirmado a história, mas os defensores da cassação acham que depoimento público poderia ser decisivo. Para Demóstenes Torres (DEM-GO), depois de se expor publicamente, reforçando suas acusações, não resta outra alternativa a Lyra senão a de colaborar com o conselho. “Tenho certeza de que ele não vai se desmoralizar e irá confirmar em detalhes todas as operações”.
Por conta da pressão da oposição, o presidente do Conselho de Ética, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), marcou para hoje reunião que decidirá pela adoção ou não do mecanismo de unir num só pacote as três representações. Demóstenes voltou a cobrar de Quintanilha a indicação do relator para a denúncia das rádios. O presidente do colegiado demonstra, nesse caso e no que trata da suspeita de envolvimento de Renan em coleta de propina em ministérios do PMDB (a quarta representação), total desinteresse em nomear o relator.
Caso a reunião de hoje ocorra, é esperada a aprovação do parecer de João Pedro (PT-AM) pedindo suspensão do julgamento da segunda representação até que a Câmara examine a situação de Olavo Calheiros (PMDB-AL). O irmão de Renan é suspeito de ter feito negócios com a Schincariol após o senador supostamente ter intercedido no INSS e na Receita Federal em favor da cervejaria.
Fonte: Correio da Bahia