Por: Helio Fernandes
Ofensiva-intimação-intimidação
Voltado para a idolatria de si mesmo, o presidente Luiz Inacio Lula da Silva fica pulando de lado em lado, não faz nada, espalha e apregoa que em 4 anos "fiz mais do que todos os presidentes na História da República". Só que não percebe, nem se interessa, politicamente, o seu pior momento.
Na intimidade, Lula recita sem qualquer constrangimento: "Nada me atinge, a cada pesquisa meus índices de popularidade crescem de forma irrefutável". É impossível negar. E como Nelson Rodrigues deixou imortalizada a constatação, "o Maracanã vaia até minuto de silêncio", Lula festeja até o aumento de 1 por cento do poder aquisitivo da população. Que significa menos do que nada.Repetindo o gesto insano e insensato de Getulio Vargas em novembro de 1953, quando aceitou a INTIMAÇÃO de 69 coronéis, e a exigência de demitir seu ministro do Trabalho (João Goulart), Lula paga o preço de ter atendido a chantagem de Eduardo Cunha. E nomeou o subalterno de Cunha, ex-prefeito Conde, para a importantíssima presidência de Furnas.Desesperado, sentindo que chegara ao fim, Renan Calheiros decidiu afrontar o governo e a oposição (?), conseguindo uma receita farmacêutica que pudesse retirá-lo da situação em que estava. (É possível que a receita tivesse sido preparada pelo farmacêutico Eduardo Cunha, co-proprietário, junto com Renan, do mesmo estabelecimento identificado como PMDB, ao qual os dois pertencem. Perdão, do qual são sócios).A rebelião de anteontem-quase-ontem é a continuação ou o prolongamento da operação Furnas do lobista-chantagista. Perdido e sem saída, Renan aprendeu com alguém "que a melhor defesa é o ataque", jogou tudo nisso. (Não interessa que ele ou alguém do seu grupo jamais tenha ouvido falar em Clausewitz ou Lidell Hart. Mas voltou ao jogo.Desarvorado, desprestigiado e desmoralizado por movimentos que identificou como vindos do Planalto-Alvorada, decidiu reagir, precisamente contra o Planalto-Alvorada. Segundo seus apaniguados, começa de forma simples e amena, se não for atendido aumenta o tom e a agressão, está na presidência do Senado, se julga poderoso.Renan fez tudo deliberadamente, agiu como um verdadeiro estrategista, escolhendo o momento, dia e hora para atacar.O momento: Lula viajava. O tempo para agir: Renan sabe melhor do que ninguém que quando Lula não está o Planalto-Alvorada, completamente desarvorado e desorientado, fica também abandonado.A hora e o dia: enquanto a chamada oposição (que não se opõe a nada) quer usufruir, que palavra, dos luminosos holofotes, movimentou tudo para a intimação-intimidação ao Planalto.Cuidou dos mínimos detalhes. Não fez a reunião na "casa oficial", para não ser acusado de estar "utilizando propriedades públicas" para tratar de interesses particulares. Tudo traçado-planejado.Três fatos escolhidos "milimetricamente" pelo próprio Renan, que antes de mais nada excluiu da reunião quem tivesse cacife próprio e pudesse criar problemas.1 - O veto teria que ser a um ministério sem importância, e que representasse "economia de pessoal". Assim, foi o de Mangabeira Unger. Ninguém se importa, se importava ou se importou com ele.2 - Teria que ser ação conjugada mas sigilosa, contra o que chamam de oposição. Esses líderes, reunidos em subterrâneos de Brasília, nem sabiam que Renan e seus apaniguados decidiam mais rápido.3 - E esse foi o ponto mais elucidativo da estratégia-intimação-intimidação: o número de votos. Não foi por acaso que a tropa de choque de Renan alvejou o governo Lula com 46 votos. Esse número foi o apregoado por Renan depois do julgamento-absolvição."Ganhei com 46 votos, democracia é isso". Sobraram mais 3, que poderiam entrar no plenário e aumentar a vantagem, mas Renan fazia questão desses 46, para que os adversários percebessem.PS - Sufocado, estrangulado, desmoralizado, Renan não deixa a presidência e usa o cargo contra todos. Estes, o que obtiveram? Acabar com a SESSÃO SECRETA, quando o que o cidadão exigia era o fim do VOTO SECRETO. E Renan ainda tripudiou sobre isso.
PS 2 - Que República.
Mangabeira Unger
Estava como Inês posta em sossego, foi acertado por Renan Calheiros. Perdeu o ministério que não havia ganho e as mordomias.
O presidente da Anac, Mílton Zuanazzi, está desafiando não apenas o ministro Nelson Jobim, o que seria ótimo. Está desafiando o governo todo. Alega ter mandato, por isso não deixa o cargo. A questão do mandato exige apreciação especial. Mandato existe para garantir o desempenho de administradores das agências reguladoras em situações normais. Não em anormalidades ou ilegalidades. Se assim fosse, os administradores com mandato estariam acima da lei. Não pode ser, não tem lógica.
Zuanazzi perdeu o patrocínio que já foi importante, o desgaste foi tremendo. Ficará o último fim de semana no cargo, na terça ou quarta já será ex-presidente da Anac. Só se for patrocinado pela Coca-Cola.
Como quem não quer nada, Jobim, com seu estilo de "cavalo de tróia", derrotou e pode ter destituído uma das maiores potências do governo. (Toda vez que chamo de potência, de Brasília corrigem: "Ex-potência").
Com 6 mil sócios, a eleição do Jóquei Clube é em maio, mas já existem vários movimentos. A última, ou quem sabe penúltima: candidatura a presidente do embaixador Pires do Rio.
Sua candidatura, se for concretizada, tem alguma penetração no Hipódromo. Mas nenhuma na sede da cidade, ou na Lagoa, hoje importante.
O procurador geral da República há mais de 1 ano vem examinando o mensalão-mineiro. Antonio Fernando de Souza não é de afirmar ou acusar sem ter examinado a questão profundamente.
E pouquíssimos têm dúvidas da participação de Eduardo Azeredo. O fato de Serra "vir correndo" defender Azeredo é pura jogada eleitoral. Por que não protestou quando demitiram, s-u-m-a-r-i-a-m-e-n-t-e, o senador da presidência do PSDB?
Em todos os lugares onde apareço, querem saber um fato: "Helio, quando é que o Congresso aprovará o fim do VOTO SECRETO?".
Respondo sempre com a maior naturalidade e convicção: "N-U-N-C-A". Podem duvidar, gostaria de me enganar: mas muitos justificam, como fizeram ontem: "O VOTO SECRETO foi criado para proteger aquele que vota, assim não pode ser perseguido".
Isso é uma anomalia, hipocrisia, idiossincrasia. O VOTO SECRETO é para proteger o eleitor, o cidadão que vota e não aquele que é votado. Este tem que se mostrar ao eleitor, para ver se cumpre os compromissos assumidos na campanha.
Os jornalões não ligam para as DÍVIDAS internas e externas, para eles isso é "mixaria". Ontem, em manchete interna e chamada na Primeira, garantem que os JUROS DIMINUÍRAM. Não estão faltando com a verdade, os juros caíram mesmo, não muito, claro.
Já pagamos 180 BILHÕES anuais, o secretário do Tesouro disse semana passada, oficialmente: "Este ano de 2007 pagaremos 165 BILHÕES de juros da DÍVIDA interna". Era de 180 BILHÕES, diminuiu.
Imaginem, Nossa Senhora, esses 165 BILHÕES investidos todos em infra-estrutura, que progresso e prosperidade provocariam.
Para terminar por hoje, por hoje: não quero que deixem de pagar. Há mais de 30 anos defendo AUDITORIA para a DÍVIDA externa. Agora, minha luta aumentou, prego AUDITORIA também para a interna.
Sérgio Cabral afirmou que já tratou do trem-bala em Paris e agora em Roma. Qualquer trem no Rio será BALA, dos traficantes.
A repercussão da preterição da TV Cultura provocou enorme e justificada reação. Tida e havida como a verdadeira TV Pública no Brasil, não foi consultada para coisa alguma. Vem protesto oficial sobre o assunto.
E o governador Roberto Requião, que votou todas as vezes em Lula? Nunca mais foi a Brasília, nem é chamado pelo presidente. O que houve?
Candidata do Partido Democrata Dona Clinton será. Se vencer, dois fatos inéditos. 1 - A primeira mulher presidente. 2 - Depois de morar 8 anos na Casa Branca como primeira-dama, seria dona da casa.
O PT-PT, estraçalhado, não sabe o que fazer. Quer tratar da sucessão presidencial agora, mas sabe que não ganha nos municípios.
Pouca gente sabe: o prefeito do Rio é o presidente da Câmara Municipal, Aloisio Freitas. É que César Maia e Sérgio Cabral disputam para saber quem viaja mais. César está na Colômbia, convidado das Farcs.
Os amestrados estão vibrando. A Bovespa abriu em 60 mil e 50 pontos. Fechou em 61 mil e 57 pontos, alta de mil pontos. Mais de 2,44%.
O dólar ficou o dia todo estável. Abriu em 1.847, fechou em 1.873, menos 0,19%.
Exatamente há 3 meses fiz matéria grande sobre os possíveis candidatos a prefeito do Rio. Ouvi 12 pessoas, publiquei tudo o que me disseram. Lógico, o que pediram que não publicasse ficou comigo.
Como é natural houve modificação. Os que têm legenda garantida estão firmes, se preparam para a campanha.
Entre esses: Denise Frossard (PPS), Jandira Feghali (PC do B), Chico Alencar (PSOL), e alguns outros, poucos.
Surgiu a aliança impensável de dois inimigos que se alvejavam com palavrões. César Maia-Anthony Mateus. Não têm um nome nem uma legenda. Se "arranjarem" alguém, disputará pelo PMDB ou DEM?
Carlos Lessa, excelente figura, apregoou a candidatura, não sabe por onde. O "bispo" Crivela, pelo PR, não ganha, já perdeu antes.
Naquela época conversei com Eduardo Paes, ele me disse: "Sou candidato pelo PSDB". Comentei: "O PSDB é controlado hoje por Otavio Leite". Resposta: "Vou lutar pela legenda, acho que consigo".
Agora, em Roma, Sérgio Cabral convidou Paes para se candidatar a prefeito pelo PMDB. Quem disse que o governador controla o partido? E a derrota de 63 a 8 no diretório?
XXX
O Brasil derrotou ontem a fortíssima seleção dos EUA, na disputa da Copa do Mundo de futebol feminino. Goleada de 4 a 0, que poderia ter sido muito maior. As jogadoras, no final, se pouparam visivelmente. Poderiam ter ganho por 5, 6 ou até mais, jogaram para isso. E a seleção americana vencera o Brasil na última partida, impedindo que o Brasil chegasse à final.
Agora chegamos, enfrentaremos domingo pela manhã (horário do Brasil) a campeã mundial Alemanha, poderosa seleção.
Bastaria uma palavra para definir a atuação dessas jovens que não têm patrocínio, ficam praticamente abandonadas, têm que ir para o exterior como Marta, considerada a melhor do mundo.
E foi Marta quem fez 2 gols, sendo que o último, indescritível mas antológico, vai passar em todos os momentos na televisão do Brasil.
Um registro importante: as americanas foram goleadas com elegância, sem dar pontapé ou reclamar.
Para sorte nossa, entre elas, nenhum Coelho (ou "coelha", claro) revoltado contra o bom futebol. Esse Coelho foi suspenso por 120 dias, um "prêmio". Devia ter sido expulso do futebol, como exemplo.
Fonte: Tribuna da Imprensa