BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostrou contrariedade ontem com a derrota do governo no Senado, na quarta-feira à noite. Mas, em vez de criticar diretamente os aliados pela rejeição à Medida Provisória 377, Lula preferiu anunciar que vai recriar a Secretaria de Planejamento de Longo Prazo, de Mangabeira Unger.
"O dado concreto é que nós vamos ter o ministério, porque precisamos, eu estou querendo construir e por isso criei uma secretaria estratégica para pensar o Brasil para 2022", afirmou, ao sair do Itamaraty, depois de receber para um almoço oficial o presidente do Casaquistão, Nursultan Nazarbayev.
Lula demonstrou irritação ao dizer que "não havia nenhum motivo para que o Senado derrubasse a medida provisória" e que não precisa "barganhar" para obter apoio no Congresso. Apesar disso, garantiu que encarava com "naturalidade" a derrubada da MP.
"Então as pessoas precisam compreender apenas isso, quando um projeto chega ao Congresso, o Senado, a Câmara podem melhorar as coisas. Naquilo que eles pioram eu tenho o direito de veto. Portanto, para mim, isso é o exercício da democracia. É uma coisa que eu respeito", argumentou.
"Para mim essas coisas não são para deixar ninguém nervoso, irritado, achando que o mundo acabou. É um respiro mais forte que aconteceu e que vamos tomar as medidas cabíveis". Em seguida, porém, mostrou mais uma vez incômodo com a situação.
Disse que o PMDB não pediu nada ao governo, mas reclamou de ter que negociar a cada votação. "O PMDB não pediu nada. E eu não barganho, eu faço acordo programático, eu faço acordo de partido", afirmou. "Mas não é possível você ficar barganhando cada votação que vai para o Congresso".
Jantar
Ele até insistiu em que o Senado não havia feito nenhuma reivindicação de cargos ao governo, embora os próprios senadores já tenham admitido que esperavam nomeações e a derrubada da MP foi uma "manifestação" do PMDB, a maior bancada aliada do governo no Senado.
A rebelião foi armada em um jantar esta semana, de que participaram 12 senadores do partido. O PMDB do Senado esperava emplacar nomes na diretoria da Petrobras, mas foi deixado para trás na última semana, quando assistiu à nomeação de Maria das Graças Foster, indicação da ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, na diretoria de Gás e Energia.
Maria das Graças era presidente da BR Distribuidora, que foi para as mãos de José Eduardo Dutra, do PT. Na saída do Itamaraty, Lula disse que esse era um problema para ser resolvido por seus líderes no Senado e pelo ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, e que não havia conversado com nenhum senador.
Mas o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), esteve cedo com o presidente no Planalto. O governo quer esfriar a rebelião do aliados antes que a votação da CPMF chegue ao Senado, mas ontem Lula disse que não teme que a questão atrapalhe a aprovação da CPMF.
"Sabe por que eu não temo? Porque as pessoas têm que ter responsabilidade. Essas coisas não são do meu interesse, são de interesse do Brasil. Lamentavelmente, algumas pessoas não percebem que nós levamos um século para fazer o Brasil chegar à situação que chegou", reclamou.
"Nós temos tudo, tudo já foi feito para que o Brasil se transforme numa grande economia", disse. "Eu vou continuar assim. Vou continuar porque foi difícil chegar até onde nós chegamos e não vai ser qualquer vento mais forte, na Câmara, no Senado ou em qualquer outro lugar, que vai me fazer perder a tranqüilidade. Eu sei o quanto doeu nas minhas costas o sacrifício que foi preciso fazer para deixar o Brasil do jeito que está".
Fonte: R
Tribuna da Imprensa