Por: Tribuna da Imprensa Ex-presidente diz que não terá um salvador nas eleições e critica apoio de Lula a Morales SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem, em São Paulo, que o Brasil não terá um salvador, qualquer que seja o presidente eleito nas eleições de outubro. Ao mencionar a corrupção no Congresso com o escândalo do mensalão, Fernando Henrique defendeu um "choque moral" na sociedade para que o País seja reconstruído. "A sociedade está precisando de um choque moral. Não gosto de dizer isso, parece um tanto udenista, mas precisa". "A complacência e a indulgência chegaram a tal ponto que estamos no limite entre a indiferença e a indignação. Mas está vencendo a indiferença. E tem de vencer a indignação para reconstruir o País", afirmou, durante palestra promovida pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista. "Não é só `fulano vai salvar'; não vai salvar. Tem de mudar muita coisa nas estruturas", insistiu Fernando Henrique. "Qualquer que seja o presidente eleito, sem indignação não vai ter força para mudar". Usando como exemplo a experiência que teve como presidente da República ao longo de oito anos, Fernando Henrique observou: "A sociedade tem de estar com ele (presidente). Eu sei muito bem. Mudei uma porção de coisa e depois não consegui mais. Quando a sociedade se vira contra você, por `n' razões, mesmo que você esteja certo, não muda". Durante toda a palestra, cujo tema foi "O Brasil de Hoje e de Amanhã", Fernando Henrique poupou críticas a Lula e ao governo do PT, chegando até a defendê-lo, quando o assunto foram as altas taxas de juros no País. Ao longo de 1h30, em que falou sobre os desafios e avanços brasileiros, apenas fez reparos à atitude do presidente Lula em relação à crise Brasil-Bolívia. O tucano defendeu uma atitude "mais afirmativa" do governo. "A negociação, com o Chávez (Hugo Chávez, presidente da Venezuela) no meio, não tem nada a ver. É uma tonalidade que não é aceitável", disse o ex-presidente. Fernando Henrique também ressaltou que Lula deveria ter se valido da proximidade com o presidente da Bolívia, Evo Morales. "O presidente Lula apoiou o Morales (nas eleições) abertamente. Deveria ter dito: `Companheiro Morales, cuide-se. Vai devagar que o mundo não é assim'", comentou, arrancando risos da platéia, formada por cerca de 600 pessoas. Ao comentar o baixo desempenho de Alckmin em relação a Lula nas pesquisas eleitorais, Fernando Henrique recorreu às eleições passadas para afirmar que é possível o PSDB voltar ao Planalto. "Estou habituado a ter diferenças pessoais com o presidente Lula muito grandes. Ele sempre esteve muito à minha frente. E eu sempre ganhei", afirmou. Campanha Ao final do evento, em rápida entrevista coletiva, Fernando Henrique falou que, apesar do tom ameno e de poucas críticas a Lula na palestra, estará engajado na campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) ao Planalto. "Certamente vou me engajar, mas aqui (a universidade) não se deve confundir análise objetiva e crítica com crítica a um governo". Em seguida, disse que não participou ontem, em Brasília, da formalização da aliança PSDB-PFL porque "não sabia do evento". "Mas estou apoiando profundamente. Estarei onde necessário. Sou um ex-presidente da República, não um militante do dia-a-dia. Temos de conciliar as funções".
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