Publicado em 28 de outubro de 2025 por Tribuna da Internet

Donald Trump parabeniza Lula e elogia reunião
Pedro do Coutto
O encontro entre Lula da Silva e Donald Trump na Malásia marcou um raro momento de convergência em meio às turbulências comerciais que vinham desgastando as relações entre Brasil e Estados Unidos. Descrito como cordial e produtivo, o diálogo entre os dois presidentes abriu caminho para a retomada de negociações em alto nível com o objetivo de reduzir o chamado “tarifaço” imposto por Washington às exportações brasileiras.
A reunião, que ocorreu à margem de um evento internacional em Kuala Lumpur, teve grande repercussão global e foi vista por analistas como um movimento hábil de Lula para reposicionar o Brasil no tabuleiro econômico mundial.
TENSÃO DIPLOMÁTICA – Nos últimos meses, a sobretaxa de até 50% aplicada por Trump aos produtos brasileiros havia se transformado em um símbolo de tensão diplomática e de pressão econômica. As tarifas, justificadas pelos EUA como medida de “proteção industrial”, afetaram diretamente o agronegócio, o setor metalúrgico e parte da cadeia de insumos estratégicos, aumentando custos tanto para produtores brasileiros quanto para consumidores americanos.
Na prática, o tarifaço prejudicou a competitividade e elevou o custo de vida nos dois países — um paradoxo que acabou impulsionando a busca por um acordo mais racional. A partir do diálogo com Trump, Lula tenta transformar a adversidade em oportunidade. Segundo fontes do Itamaraty, a estratégia brasileira é formar uma “tropa de choque” de ministros — Fernando Haddad (Fazenda), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Geraldo Alckmin (Indústria e Comércio) — para conduzir negociações diretas em Washington.
O plano é apresentar propostas concretas de cooperação econômica e desoneração gradual, associadas a compromissos de estabilidade e estímulo a investimentos bilaterais. O tom amistoso do encontro foi reforçado por Trump, que, durante o voo de volta à Ásia, elogiou Lula publicamente e chegou a parabenizá-lo pelo aniversário de 80 anos, gesto incomum em um ambiente de disputas comerciais.
PROJEÇÃO – O momento favorece politicamente o presidente brasileiro. Ao demonstrar protagonismo e habilidade diplomática, Lula consegue projetar uma imagem de estadista capaz de abrir diálogo até mesmo com um parceiro notoriamente difícil.
Além disso, o episódio ajuda a reforçar a narrativa de um governo que busca recuperar a autonomia econômica do país, inserindo o Brasil nas grandes conversas globais e rompendo o isolamento comercial herdado de gestões anteriores. A aposta, no entanto, carrega riscos: o cronograma das tratativas ainda é incerto, e há resistência entre setores protecionistas americanos que pressionam a Casa Branca a manter parte das tarifas como moeda de troca.
Ainda assim, a disposição de Trump em negociar é um indicativo de que há terreno fértil para um entendimento. O Brasil, que já vinha participando de rodadas técnicas para reavaliar antigas taxas de 10%, agora retoma o processo em um novo patamar político, o que pode acelerar acordos. Fontes diplomáticas acreditam que, se houver reciprocidade e boa vontade, a primeira fase de redução tarifária pode ser anunciada ainda antes da COP30, em Belém.
REPOSICIONAMENTO – Mais do que uma pauta econômica, o encontro entre Lula e Trump revela o esforço do Brasil em reposicionar-se como ator global relevante, capaz de dialogar com potências e de defender seus interesses com pragmatismo.
Em um mundo marcado por tensões comerciais e disputas por influência, o gesto de Kuala Lumpur simboliza mais que diplomacia — é um reposicionamento estratégico. Se Lula conseguir transformar cordialidade em resultados, o país pode inaugurar uma nova era de cooperação transcontinental e, ao mesmo tempo, aliviar o peso que o tarifaço impôs à economia nacional.
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