Vários países, de fato, fizeram suas novas submissões. Houve discursos de mais de 40 chefes de estado, mas “a verdade” é que talvez a gente ainda continue caminhando no escuro. E a COP30, em Belém, vai precisar responder a isso de algum modo.
A maior expectativa dos anúncios vinha da China. O país já há alguns anos é o maior emissor de gases de efeito estufa – responde por cerca de ⅓ das emissões globais e, em sua primeira NDC, tinha apenas prometido atingir o pico de emissões de dióxido de carbono por volta de 2030, se possível, antes.
Pequim havia sinalizado que agora traria de fato uma meta de redução das emissões de CO2 de modo amplo para toda a economia do país. Isso de fato ocorreu, mas ficou muito aquém do necessário.
Em um anúncio feito por videoconferência durante a cúpula, o presidente Xi Jinping se comprometeu em reduzir as emissões entre 7% a 10% até 2035 em relação ao pico, que ainda não se sabe se já foi alcançado. A promessa frustrou as expectativas de especialistas, que esperavam que ele trouxesse uma meta de redução de pelo menos 30% – número que seria mais condizente com o objetivo do Acordo de Paris.
O números de países com novas NDCs chegou a 53 ontem, mas é preciso que a maior parte dos 198 países que assinaram o Acordo de Paris faça isso. Grandes emissores faltaram à Cúpula do Clima, como Índia, Indonésia e Canadá, que cancelou a participação de última hora. E a União Europeia fez apenas uma “declaração de intenções” de que vai submeter formalmente sua NDC antes da COP30.
Já os Estados Unidos, segundo maior emissor da atualidade e o maior histórico, até tinham apresentado a nova meta no fimzinho da gestão de Joe Biden. Mas com Donald Trump tirando o país do Acordo de Paris, mentindo sobre a crise climática (que ele chamou de “maior farsa” em seu discurso na ONU) e fazendo de tudo para aumentar a produção de combustíveis fósseis, já sabemos que nenhuma contribuição para conter o aquecimento global de fato virá de lá.
Ou seja, as perspectivas não são boas.
“A diplomacia climática baseada em compromissos políticos como as NDCs não está funcionando no mundo de hoje. De um lado, a economia real avança mais rápido, como no caso da China. De outro, governos prometem mais e fazem menos. E ainda há os recalcitrantes, que lutam contra a transição. Estamos em um momento crítico e difícil. Belém vai ter que dar uma resposta coletiva, que neste momento ninguém sabe qual será”, me disse a especialista em política climática Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa.
Alguns analistas lembraram, porém, que a China costuma ser bastante conservadora nas suas metas, mas tende a fazer mais do que prometeu. Isso tem sido observado nos últimos anos, com um aumento bem maior do que o esperado na entrada de energia eólica e solar na matriz energética chinesa.
“A China tem esse hábito de prometer menos e entregar mais. Eles geralmente, quando assumem um compromisso, é porque a situação no mundo real na China, o ritmo de transformação é mais elevado que a promessa que eles fizeram. Então é super positivo a China ter uma meta absoluta, apesar de ser um absoluto bizarro, porque é em relação a um pico de emissões que a gente não sabe se eles atingiram ou não”, comentou Claudio Angelo, coordenador de política internacional do Observatório do Clima.
De todo modo, pondera ele, com o que está prometido neste momento, as NDCs certamente ainda colocam o planeta no rumo de aquecer muito mais do que 1,5°C. Lembrando que, ao menos temporariamente, já ultrapassamos esse limite no ano passado.
Um pouco antes de começar a COP de Belém, cientistas vão divulgar um relatório fazendo justamente essa conta sobre o que as novas NDCs, se totalmente cumpridas, poderão resultar sobre a temperatura do planeta. Como o resultado deve ser ruim, a COP terá de apresentar algo a respeito. Lula sabe disso e ontem mesmo admitiu que a bola estará com Belém.
Quer saber o que podemos esperar disso? Escute a temporada especial do podcast Tempo Quente, que faz um esquenta para a COP30. A gente fala de NDCs, de financiamento, de combustíveis fósseis e muito mais.