quinta-feira, fevereiro 20, 2025

Saiba por que a maioria dos militares apoiava entusiasticamente o golpe

Publicado em 20 de fevereiro de 2025 por Tribuna da Internet

Defesa de Braga Netto nega que ele obstruiu investigação - 14/12/2024 - Poder - Folha

Bolsonaro se encagaçou e Braga Netto liderou o golpe

Carlos Newton

Os depoimentos do ex-ajudante de ordens da Presidência da República na gestão de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, foram mal conduzidos. Por isso, foi necessário repeti-los várias vezes e até agora necessitam de tradução simultânea.

É preciso situar as declarações e os fatos em função da época em que teriam ocorrido. E não houve essa preocupação na força-tarefa formada no Supremo Tribunal Federal pelo ministro Alexandre de Moraes.   

OMISSÃO AO DEPOR– Na ânsia de agradar a Moraes, que chegou a colher pessoalmente um dos depoimentos, o delegado federal Fabio Alvarez Shor e o juiz auxiliar Airton Vieira não conduziram os interrogatórios com a devida abrangência.

Shor, que já foi premiado com promoção a chefe da Divisão de Investigações e Operações de Contrainteligência da Polícia Federal, jamais indagou a Mauro Cid sobre o posicionamento das Forças Armadas como um todo. O juiz Vieira também não se interessou.

Se tivessem essa preocupação, saberiam que Lula é odiado pelos militares, que jamais aceitaram sua soltura e sua descondenação, assim como não aceitam a destruição da Lava Jato e a libertação de figuras abjetas como José Dirceu e Antonio Palocci.

FÁCIL COOPTAÇÃO – Justamente por isso, na época foi fácil cooptar os militares com o argumento de fraude eleitoral, defendido pelo engenheiro Carlos Cesar Moretzsohn Rocha, um dos criadores da urna eletrônica, que até tentou registrar a patente em seu nome.

Depois da eleição, o próprio engenheiro Carlos Rocha, contratado pelo PL, não conseguiu provar a fraude, decepcionando a maioria dos militares. E agora seu nome consta entre os 34 denunciados nesta terça-feira.

Mas alguns chefes militares, como o então comandante da Marinha, Almir Garnier, ficaram ao lado de Bolsonaro e Braga Netto, para arranjar outra maneira de dar o golpe.

BRAGA NETTO LIDERA – Fica claro, a partir daí, que o ainda presidente Bolsonaro começa a ficar amedrontado, e o general Braga Netto assume o controle da situação. Bolsonaro passa a ser um zero à esquerda.

A primeira ofensiva do golpe foi no dia 12 de dezembro, após a diplomação de Lula, quando os “kids pretos” lideraram a tentativa de invasão da sede da Polícia Federal, que à noite fica às moscas. Houve quebra-quebra, invasão de posto de gasolina e empresa, os militares infiltrados colocaram fogo em carros e ônibus, mas não houve o golpe.

O Alto Comando do Exército já dissera não ao golpe, mas eles insistiram. Assim, em 24 de dezembro, também fracassou a tentativa de explodir o caminhão-tanque no aeroporto. E a última tentativa foi o 8 de Janeiro, de novo com os “kids pretos” à frente.

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P.S. –
 É preciso lembrar que em dezembro Bolsonaro estava mais do que encagaçado, perdera inteiramente o controle da situação e viajou no dia 30 para os Estados Unidos, com medo de ser preso, conforme declarou. Portanto, o principal líder da conspiração foi Braga Netto, mas na denúncia ao STF o papel dele foi minimizado. Erradamente, a condução do golpe até hoje é atribuída a Bolsonaro, que jamais seria líder dessa fracassada nova ditadura, a ser comandada por Braga Netto ou por algum outro general de quatro estrelas. O resto é folclore, como dizia Sebastião Nery. (C.N.)