segunda-feira, fevereiro 17, 2025

Assim como Lula interditou a esquerda, Bolsonaro quer interditar a direita


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Bolsonaro e Lula, as duas faces da mesma moeda sem valor

Carlos Pereira
Estadão

O slogan “Lula Livre”, que ganhou força quando o ex-presidente estava preso por condenações de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, serviu essencialmente aos interesses de Lula e do PT. A narrativa, ao invés de fortalecer a esquerda como um todo, aprisionou o campo progressista à candidatura do próprio Lula em 2018. Agora, a história se repete na direita.

A pauta da anistia para os condenados pelos atos de 8 de janeiro e a tentativa de reduzir o prazo de inelegibilidade da Lei da Ficha Limpa de oito para dois anos interessam apenas a Bolsonaro, não à direita de forma geral.

PROTAGONISMO – São medidas que reforçam seu protagonismo e minam o surgimento de novas lideranças conservadoras e comprometidas com a democracia no País.

Em 2018, mesmo preso, Lula conseguiu se manter politicamente relevante e praticamente inviabilizou a construção de candidaturas alternativas e competitivas na esquerda. A percepção de que apenas ele teria força eleitoral para derrotar Bolsonaro consolidou sua hegemonia e interditou o caminho para candidatos alternativos.

Agora, a defesa da anistia aos envolvidos nos ataques às instituições democráticas e a proposta de flexibilização da inelegibilidade têm o mesmo efeito para Bolsonaro.

SEM RENOVAÇÃO – Essas pautas impedem a direita de se renovar, mantendo-o no centro da discussão política e garantindo sua influência na eleição de 2026, seja como candidato, seja como fiador de uma candidatura de sua estrita confiança.

O maior beneficiado por essa movimentação é o próprio ex-presidente. Se anistiado, ele pode disputar as eleições novamente. Mas, mesmo sem concorrer, seguirá como líder incontestável da direita, dificultando o surgimento de novos nomes competitivos.

Construir uma candidatura viável à Presidência da República em um sistema presidencialista multipartidário já é um grande desafio. Além de exigir um nome carismático e com projeção nacional, a empreitada demanda altos investimentos e um grande esforço político dos partidos.

MENOS RISCOS – Muitas legendas preferem focar em candidaturas legislativas ou estaduais, que oferecem menor risco e retorno eleitoral mais previsível. Nesse cenário, figuras carismáticas de perfil populista como Bolsonaro bloqueiam o surgimento de alternativas.

O novo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), parece ter caído nessa armadilha. Ao minimizar os eventos de 8 de janeiro e considerar legítima a proposta de flexibilizar a Lei da Ficha Limpa, ele reforça a ideia de que apenas Bolsonaro teria condições de derrotar Lula.

No fim das contas, a anistia e a flexibilização da inelegibilidade não servem à direita, mas a Bolsonaro. O que está em jogo não é o futuro do campo conservador, mas a manutenção de um projeto político personalista, que impede a renovação e mantém o ex-presidente como peça central do jogo eleitoral.