segunda-feira, novembro 18, 2024

Fala de Lula sobre redução de jornada é sólida como gelatina


Charge do dia

Charge do Hector (Jornal da Bahia)

Josias de Souza
do UOL

Discursando na cerimônia de encerramento do G20 Social, Lula fez uma pálida defesa da redução da jornada de trabalho. Disse que o grupo integrado pelas maiores economias do planeta “precisa discutir uma série de medidas para reduzir o custo de vida e promover jornadas de trabalho mais equilibradas.” Declarou que é preciso “ouvir a juventude, que enfrentará as consequências das tarefas que deixarmos inacabadas.”

O comentário soou desmoralizante, contrangedor e oportunista. Desmoraliza porque Lula expôs em duas frases um objetivo que não alcançou nos seus dois mandatos anteriores, de 2003 a 2010. Constrange, porque a redução da jornada voltou a existir para o governo apenas no mundo das palavras quando o terceiro mandato do orador está prestes a completar aniversário de dois anos.

ESCALA 6X1 – A manifestação é oportunista porque pega carona no debate sobre o fim da escala 6X1, que bombou nas redes sociais. Lula surfa na onda da PEC do PSOL abstendo-se de mencionar a iniciativa da deputada Erika Hilton.

De resto, transfere para a agenda futura do G20 uma discussão que o Planalto hesita em travar no Congresso. Desconsidera que vários países do bloco já implantaram jornadas “equilibradas”.

A ligeireza com que Lula tratou do tema resultou numa fala sólida como gelatina. Se serviu para alguma coisa foi para revelar que Lula pode ter compreendido uma obviedade: sob o efeito das redes sociais, a conjuntura muda tão rapidamente que aquele que inventa pretextos para que alguma coisa não seja feita acaba sendo surpreendido por alguém que está fazendo a coisa.