sábado, outubro 12, 2024

Governo Lula vai ao STF para barrar atuação nacional de bets credenciadas no Rio

 

Governo Lula vai ao STF para barrar atuação nacional de bets credenciadas no Rio

Por Paulo Saldana | Folhapress

Bets
Foto: Agência Brasil

O governo Lula (PT) ingressou nesta sexta-feira (11) com uma ação no STF (Supremo Tribunal Federal) para proibir que o estado do Rio de Janeiro credencie casas de apostas esportivas online, as bets, para atuar nacionalmente.
 

"A atuação em âmbito nacional desobedece as regras do Ministério da Fazenda e invade competência da União ao explorar serviço de loterias em todo o território nacional", diz nota da AGU (Advocacia-Geral da União), que assina a ação.
 

Como a Folha revelou em março, o governo Claudio Castro (PL), por meio da Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro), tem credenciado bets que podem receber apostas em todo país, e não só no território do Rio. Isso ocorreu depois de um drible nas regras federais e entendimento judicial, e vinha incomodando o governo federal -que trabalha na regulamentação do setor.
 

Além de pedir a imediata suspensão da atuação nacional das bets credenciadas no Rio, a ação judicial da AGU afirma que a Loterj "possui regras frouxas em relação à prevenção de lavagem de dinheiro e financiamento de ações terroristas".
 

A ida ao STF é a mais forte reação do governo Lula com relação à postura da Loterj. A loteria carioca que vinha intensificando as investidas para ampliar suas atividades, com ações judiciais e pressões a casas de apostas e clubes patrocinados por elas.
 

A Loterj foi procurada mas não respondeu.
 

A oferta de bets é liberada no Brasil desde o fim de 2018, mas desde então segue sem regras e fiscalização. No ano passado, o processo de regulamentação foi iniciado pelo governo Lula.
 

O Rio já havia lançado em abril de 2023 um edital para credenciar as empresas no estado. Mas, um dia depois da edição de uma medida provisória com o pontapé do governo federal para a regulamentação, a Loterj fez uma retificação em seu edital e passou a prever que as bets precisariam só informar que as operações são efetivadas no estado, sem travas de geolocalização --permitindo, assim, apostas de todo o país.
 

A AGU traz na ação informações produzidas pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) sobre riscos dessa atuação. Segundo o Coaf, há um "padrão temerário de funcionamento das bets que se têm mantido credenciadas pela Loterj sob a égide de um 'critério de aferição de territorialidade' baseado na mera declaração e anuência dos apostadores".
 

A ação afirma que manter o critério de aferição da territorialidade da Loterj "causa severo comprometimento para o sistema de prevenção à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo e da proliferação de armas de destruição em massa".
 

Na ação, o governo destaca que a Loterj ainda não editou as normas de prevenção à lavagem e dinheiro, informação que é respaldada, segundo o documento, pelo Coaf.
 

O governo ainda ressalta que tem havido uma "corrida à Loterj" de empresas que não preenchem os requisitos para credenciamento perante o Ministério da Fazenda. "[Isso] demonstra que já estão sendo sentidos os efeitos nocivos do comportamento leniente dos réus em relação às limitações territoriais impostas ao serviço público de loterias".
 

A ação menciona o caso da Esportes da Sorte. Fora da lista divulgada pelo Ministério da Fazenda das empresas de apostas esportivas autorizadas a atuar no Brasil até dezembro, a Esportes da Sorte comprou uma empresa que já tinha liberação da Loterj para poder se manter no mercado.
 

A Esportes da Sorte, patrocinadora do Corinthians, é alvo de investigação da Polícia Civil de Pernambuco que mira uma suposta organização criminosa voltada à prática de jogos ilegais e lavagem de dinheiro. Seu CEO, Darwin Henrique da Silva Filho, chegou a ser preso no mês passado. Ele nega irregularidades.
 

A Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda, por meio de uma nota técnica enviada à AGU, afirmou que o critério de territorialidade adotado no Estado do Rio "funciona como um incentivo perverso à competição predatória entre os entes federados, análogo a um cenário de 'guerra fiscal'".
 

Para se credenciar no Rio, as empresas pagam uma outorga de R$ 5 milhões, além de percentuais sobre as apostas. No processo federal, esse valor é de R$ 30 milhões.
 

Oito empresas estão credenciadas no Rio, com o cadastro de 13 sites: bestbet.com.br, Lototolegal.com.br, Lototolegal.com, marjosports.com.br, pixbet.compixhora.com, esportesdasorte.com, onabet.com, riojogos.com, caesarsports.com.br, ganhabet.com, betvip.com e vaidebet.com.