sábado, março 09, 2024

Está ficando claro que, ao dar o golpe, Braga Netto iria derrubar Bolsonaro

Publicado em 9 de março de 2024 por Tribuna da Internet

Braga Netto fala como pré-candidato à Prefeitura do Rio

Braga Netto pensou que passaria a perna em Bolsonaro

Roberto Nascimento

Apesar da manutenção do sigilo nas investigações, sem que realmente haja qualquer vazamento, numa blindagem nunca antes sequer imaginada, está bem claro que a tentativa de golpe teve dois líderes – o então presidente Jair Bolsonaro e seu candidato a vice, general Braga Netto.

Ambos têm a mesma postura pouco militar – não assumem nada do que fizeram. Bolsonaro disse no ano passado que nunca viu a minuta do golpe, que só teria circulado, segundo ele, nas gavetas do então ministro da Justiça, delegado federal Anderson Torres. Ele é assim mesmo, quando surge o problema, larga a responsabilidade com os subordinados.

AUTONOMIA TOTAL – Sobre seu ajudante de ordens Mauro Cid, o ex-presidente disse que o auxiliar tinha total autonomia, podia tomar as iniciativas que bem entendesse. Logo, as ilicitudes praticadas, mormente no caso da adulteração da carteira de vacinação ou na compra e venda de relógios e joias, tudo teria sido obra do tenente-coronel.

Depois, sobre a reunião golpista de julho de 2022, Bolsonaro deixou que a culpa recaísse no general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, que sugeriu virar a mesa antes das eleições, porque depois nem o VAR mudaria o resultado. Aliás, usar parábolas futebolísticas indica a pobreza intelectual do então ministro.

Foi essa postura defensiva de Bolsonaro que fez Mauro Cid acatar o advogado e aceitar a delação premiada. Ele será ouvido novamente nesta segunda-feira sobre as declarações do general Freire Gomes, ex-comandante do Exército, e não pode mentir. Se for apanhado em flagrante, perderá o benefício da delação.

CONSTRANGIMENTO – Para o general Freire Gomes, foi muito constrangedor ter sabido que Braga Netto o tratava como cagão e traidor. Na época, o general golpista ainda julgava deter o poder e botava banca. Depois, acovardou-se e se mantém num silêncio desmoralizante a partir da revelação de sua participação no planejamento do golpe de estado.

A meu ver, seria Braga Netto o comandante supremo da conspiração que viria a tirar Bolsonaro do topo do comando revolucionário para instalar nova ditadura militar no país.

Nesse plano, o general contava com o major Ailton Barros, um militar tão despreparado que foi expulso do Exército e considerado morto, para que sua mulher continuasse recebendo seu soldo e sustentando o mau elemento. Bem, com um morto-vivo em sua linha de frente, Braga Netto não poderia mesmo ir longe.