segunda-feira, fevereiro 19, 2024

Bolsonaro se refugia num comício que não vai atenuar seus embaraços legais


Ciro Nogueira aceita convite de Bolsonaro para assumir Casa Civil

Senador Ciro Nogueira comparece com  toda a sua família

Dora Kramer
Folha

Maior ou menor, qualquer que seja o tamanho da adesão ao ato convocado para o próximo dia 25 por Jair Bolsonaro, a foto estará garantida. Basta que se reduza ou se amplie o foco da lente, lá será visto um amontoado de pessoas prestando apoio ao ex-presidente.

Perfeito para efeito de postagens e reportagens. Mas e daí? É a pergunta que se impõe. Isso partindo-se do pressuposto de que a manifestação será mantida, se daqui até lá os fatos e/ou as contas de chegar sobre custos e benefícios não aconselharem a um recuo.

ALÍVIO PARA MUITOS – Um recuo seria um alívio para políticos que já confirmaram presença apenas porque não poderiam recusar de pronto o convite sem sinalizar oneroso rompimento. Caso do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), quando lhe apresentaram a saia justa para vestir e de outros que ainda hesitam em aderir.

Se confirmado o ato, voltamos à questão da fotografia e sua serventia ante a grave materialidade dos enroscos legais enfrentados por Bolsonaro.

Ele constrangerá meia dúzia de aliados de projeção, reunirá sabe-se lá quantos apoiadores (vamos que sejam milhares) na avenida Paulista, dormirá feliz naquele domingo, mas na segunda-feira acordará ainda enredado na teia de investigações.

CORAGEM DESPERDIÇADA – Valente quando no exercício da Presidência, na posse da estrutura e da imunidade temporária inerentes ao cargo, subia em carros de som para distribuir ofensas a pessoas e pregar contra as instituições. Agora acuado, pede que não se fale mal de ninguém, que não se faça nada além de lhe prestar solidariedade e reverência.

É o último refúgio. Nem diria recurso, porque não é crível que o ministro Alexandre de Moraes e a Polícia Federal se deixem emocionar ou intimidar, seja qual for a quantidade de gente disposta a protestar contra uma alegada “perseguição política”.

O único efeito concreto que o ex-presidente pode obter é piorar sua situação se não resistir à tentação de dar tiros no pé.