terça-feira, outubro 31, 2023

Guerra em Gaza será mantida pelas brutais leis da região, e sem interferência externa

Publicado em 31 de outubro de 2023 por Tribuna da Internet

Biden, Netanyahu meet amid US-Israeli tensions - ABC News

Joe Biden vai ajudar Israel a manter o controle da região

William Waack
Estadão

Diante do que promete ser a maior operação militar da recente história de Israel – a invasão por terra de Gaza, para exterminar a principal base do terrorismo do Hamas – é bem reduzida a possibilidade de interferência por parte de potências ou instituições “de fora”.

A inefetividade da ONU, por exemplo, é proverbial, mas ela apenas espelha um longo processo de dissolução da ordem internacional que guerras como as da Ucrânia e de Gaza (mas não só) “de repente” expõem e aceleram. E foi desaparecendo o relativo “balanço” de poder entre as principais potências, ancorado nos últimos vinte anos na predominância dos Estados Unidos.

PROPOSTA DOS EUA – O presidente Joe Biden sugeriu uma volta ao “excepcionalismo” da política externa americana (“farol do mundo”) em seu recente pronunciamento à Nação. Mas quão realista é essa arriscada postura no atual Oriente Médio?

Faz cinquenta anos que um Secretário de Estado americano (foi Henry Kissinger) negociou, em viagens frenéticas à região, o final da guerra do Yom Kippur, quando Israel estava prestes a destruir a força militar do principal inimigo, o Egito. O “arranjo” acabou sendo visto como um clássico da visão realista das relações internacionais, baseado no equilíbrio dos interesses das principais potências.

O atual secretário de Estado,Tony Blinken. repetiu as mesmas viagens numa paisagem que reflete sobretudo o abandono estratégico da região pelos Estados Unidos, uma Europa voltada para si mesma e o desafio brutal dos “revisionistas”, China e Rússia. Blinken visitou potências regionais “amigas” com alianças e jogo próprio com os “revisionistas” e também em relação ao principal inimigo dos EUA, o Irã.

VELHO ALIADO – E Israel é um “aliado fundamental”, que ao longo de décadas trouxe a política externa americana para seus interesses e não o contrário. Israel entende que sua sobrevivência é função exclusiva da superioridade militar e da mão de ferro nos territórios que ocupa desde 1967. Assumindo que fatos consumados, como impossibilitar a solução de dois Estados e até eventualmente anexar a Cisjordânia, seriam de um jeito ou de outro engolidos por populações e governos árabes, e endossados pelos americanos.

Até aqui é a “dinâmica” ou “lógica inerente” do conflito regional que arrasta as potências de fora, e não o contrário. Não parece existir no contexto atual ninguém capaz de articular o que seria o famoso “balance of power”, que implicaria prosseguir com alguma visão política para o conflito no Oriente Médio sem a qual a história demonstra que não perduram as soluções militares “definitivas”.

Bem-vindos à selva.