Publicado em 26 de julho de 2023 por Tribuna da Internet
Carlos Newton
Oportuna reportagem de Mateus Vargas e Ranier Bragon, na Folha de S.Paulo, mostra que o grupo Globo retomou o protagonismo na publicidade do governo federal de Lula da Silva (PT) e domina as verbas de anúncios federais de 2023.
“Em pouco mais de seis meses do terceiro mandato do petista, veículos de mídia da Globo receberam ao menos R$ 54,4 milhões em propagandas da Secom (Secretaria de Comunicação Social) da Presidência da República e de ministérios, enquanto a Record foi destino de R$ 13 milhões. Outros R$ 12 milhões foram desembolsados ao SBT”, afirma a matéria da Folha.
TRADUÇÃO SIMULTÂNEA – Como se vê, o favorecimento que o governo Bolsonaro fazia, distribuindo a publicidade oficial sem obedecer a critérios de audiência, privilegiando Record e STB, agora o governo Lula repete às avessas, superfaturando a parte que a Globo deveria ter neste latifúndio midiático, como diria João Cabral de Melo Neto.
Nos quatro anos de Bolsonaro, a Record recebeu cerca de R$ 200 milhões por campanhas publicitárias realizadas pela Secom e ministérios. No mesmo período, as emissoras da Globo ganharam R$ 189 milhões, enquanto o SBT recebeu R$ 169,35 milhões. Os valores são nominais, ou seja, sem ajuste pela inflação.
Agora, a situação se inverteu, com a Globo recebendo quase cinco vezes mais do que as concorrentes, embora não exista esse diferencial na audiência, muito pelo contrário.
DIFERENÇA PEQUENA – Todos sabem que a Globo tem sido, ao longo das décadas, a emissora de TV brasileira de maior audiência. Mas a diferença para as outras emissoras é cada vez menor.
A reportagem de Mateus Vargas e Ranier Bragon mostra que na última quinta-feira (dia 20), por exemplo, a Globo marcou apenas 13,8 pontos, em média, na Grande São Paulo, de acordo com informações do site Notícias da TV, do UOL. A Record alcançou 5,7 pontos, o SBT 3,0 pontos e a Band, 2,1 pontos. Cada ponto equivale a 70.953 domicílios na Grande São Paulo.
Considerando-se a audiência residual das demais emissoras, como RedeTV!, Cultura, Gazeta e muitas outras, inclusive os canais religiosos, pode-se dizer que a Globo mal consegue metade da audiência, mas tem recebido muito mais verbas, desproporcionalmente.
APOIO POLÍTICO – É claro que esse superfaturamento da receita governamental é consequência do apoio político que o grupo Globo vem dando a Lula da Silva, antes mesmo da campanha eleitoral de 2022.
Realmente, trata-se de uma tendência que se constata diariamente no principal veículo do jornalismo da Globo, o Jornal Nacional, que trata os telespectadores como se fossem o Homer Simpson, no dizer do editor e apresentador William Bonner.
O entusiasmo com que o noticiário da emissora acompanha todos os passos do chefe do governo chega a ser comovente. Na linha editorial da Globo, o Brasil estaria hoje vivendo um momento histórico, beneficiado por uma gestão que jamais comete erros, gerida por um político que nada deve à Justiça, como fez questão de ressaltar o jornalista William Homer, digo, Bonner, ao declarar seu apreço ao ex-presidiário mais famoso do país.
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P.S. 1 – A respeito desse tipo de circunstância, o grande pensador alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) deixou a seguinte reflexão: “Todo homem tem seu preço, diz a frase. Não é verdade, mas para cada homem existe uma isca que ele não consegue deixar de morder”.
P.S. 2 – Por fim, é sempre bom lembrar que a aferição da audiência desde sempre é monopólio do Ibope. É muito estranho que ninguém jamais tenha tentado quebrar esse monopólio. Lembro de uma tarde em que a Record saiu do ar, por problemas técnicos, mas seu Ibope começou a subir, ao invés de descer. Silvio Santos se aborreceu e contestou o Ibope, que deu uma justificativa tipo Homer Simpson, alegando que era “a expectativa da volta”. Ou seja, os telespectadores continuaram ligados na Record para saber quando a emissora voltaria ao ar. (C.N.)