terça-feira, junho 06, 2023

Informação para convencer exige conteúdo concreto, e a fake news é efêmera


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Pedro do Coutto

Desenrola-se neste momento no país , uma luta entre a esquerda e a direita nas redes sociais da internet com a direita avançando em número, como é natural e esperado, inclusive em função do maior número de computadores nas mãos dos que participam do conservadorismo extremado e, com isso, recorrem às fake news, ao incitamento à violência, ao discurso de ódio e fomentaram a invasão e as depredações de Brasília, etapa de um projeto de golpe contra a democracia que felizmente não se consumou.

A articulação da direita nas plataformas da internet é focalizada por Marlen Couto, em reportagem na edição desta segunda-feira de O Globo. A matéria acentua que as discussões políticas ganharam mais visibilidade e reforçaram a polarização que, a meu ver, têm levado à radicalização do discurso. A politização, entretanto, não significa a qualificação do debate. Há a desinformação.

RADICALISMO – Em matéria de comunicação jornalística, afirmo que ela não depende apenas da publicação ou divulgação de opiniões e análises sobre fatos, incluindo ou não distorções que ocorrem, fomentadas pelo radicalismo. A informação exige conteúdo concreto. Daí porque os governos ao longo dos primeiros meses de mandato perdem espaço na opinião pública. Por que isso ocorre?

Porque estão ainda quentes os compromissos assumidos ao longo das campanhas eleitorais que fizeram os eleitores e eleitoras acreditarem na solução rápida de problemas que se eternizaram. Como isso não acontece e as promessas fazem parte de um critério de publicidade que se baseia em axiomas e não em teoremas, fica a frustração no ar respirado por multidões atingidas pelos mais diversos problemas que parecem simples – e até são – mas que não encontram solução por parte, no caso federal, do Poder executivo.

Agora mesmo, verificamos, por exemplo, que a fila dos que lutam para ingressar no Bolsa Família do governo Lula aumentou consideravelmente, como assinalam Thiago Resende e Idiana Tomazelli, em reportagem na Folha de S. Paulo de ontem. São 438 mil famílias à espera de inclusão, significando aproximadamente dois milhões de pessoas diretamente.

INÉRCIA – Não é porque o governo não deseje. Mas é uma força da inércia, da falta de empenho com a realização do trabalho. Gera, portanto, frustrações que se acumulam no cenário nacional. Sem vontade interior de se enfrentar e resolver um problema, nada poderá ser alcançado efetivamente, projetando os resultados em um espaço cada vez maior. É preciso que haja entusiasmo, como o que foi caracterizado no governo Juscelino Kubitschek no final da década de 1960.

A começar pelo exemplo dos jornais, uma informação por mais dourada que seja, não quer dizer por si que a vontade dos que necessitam acreditar nela se realize. É indispensável que se refira a um conteúdo concreto. Palavras, promessas, como todos sabem, o vento leva.

É por isso que sustento que, embora mais presente nas redes sociais, as posições da extrema-direita bolsonarista não significam na superfície um avanço da oposição. As investidas do contra que visam demolir o poder – prática sempre usada por Carlos Lacerda – emocionam os comprometidos com tal vontade, mas não indicam avanços concretos no panorama político do país. Incomodam muito, é verdade.

CONTRAMÃO –   Mas não se pode esquecer que chovem no molhado, e às vezes terminam atingindo um resultado contrário ao que o oposicionista esperava que fosse alcançado. Na verdade, os discursos de ódio representam o mal pelo próprio mal, e se esgotam nesse plano humano eterno que forneceu a Shakespeare páginas intensas da tragédia universal.

Há pouco citei Carlos Lacerda. Foi um golpista contra as posses de Juscelino Kubitschek e João Goulart. Foi o principal agente demolidor de Goulart em 1964. Em 1968, terminou preso e cassado pelo próprio movimento que liderou. São contradições aparentes do processo político universal.  

REGISTROS – Reportagem de Júlia Affonso e Vinícius Valfré, o Estado de S. Paulo de ontem, revela que o empresário Fernando Fialho, sogro do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, tem o hábito de despachar assuntos da pasta no gabinete do próprio ministro em Brasília, conforme atestam os registros de entradas e saídas de pessoas no ministério.

No dia 17 de março, ocorreu um encontro de Fernando Fialho no próprio gabinete, embora ele não desempenhe nenhum cargo público. Fialho disse o seguinte: “Não sou e nem poderia ser nomeado para nenhum cargo no Ministério das Comunicações”.