Publicado em 20 de junho de 2023 por Tribuna da Internet
Rodrigo Constantino
Gazeta do Povo
Fernando Henrique Cardoso fez 92 anos. Na ocasião de seu aniversário, muitos aproveitaram para enaltecer sua gestão como presidente. Um grande estadista, chegou a dizer um economista “liberal”, que trabalhou no governo Lula. Eu aproveito a ocasião para esclarecer um fenômeno importante da política brasileira.
Falo da estratégia das tesouras. Ou da “direita permitida”. Ou ainda da visão economicista de muitos “liberais” em nosso país. FHC, afinal, foi responsável por reformas importantes na área econômica sim. Basta mencionar o Plano Real.
FISCALISMO ORTODOXO – Os tucanos fizeram concessões ao livre mercado e à realidade dos fatos, aderindo ao fiscalismo ortodoxo. Tiveram de privatizar estatais. Digamos que compreenderam que 2 + 2 = 4. Chamaram economistas respeitados, e modernizaram a gestão econômica. Derrotar a inflação não foi uma conquista trivial.
Logo, se comparado ao PT, FHC merece reconhecimento. Não por acaso, era massacrado pelos petistas. A memória da turma é curta, mas muitos adjetivos usados contra Bolsonaro já eram utilizados contra FHC.
A grande diferença é que Lula e FHC, no fundo, sempre se gostaram, e PT e PSDB sempre brigaram, mas sem divergências fundamentais, além desse maior pragmatismo econômico dos tucanos.
“OBRAS” DE FHC – Quem instituiu as cotas raciais? Quem defendeu o desarmamento do povo? Quem soltou verba para o MST? Tudo isso e muito mais foi obra de FHC. Ou seja, em que pese o feito econômico, no resto todo sua gestão foi “progressista”, outra palavra mais bonitinha para socialista. FHC sempre foi um intelectual marxista incurável, com simpatia pelas teses de esquerda.
Ele entregou a faixa presencial a Lula claramente feliz, seduzido pela visão estética do metalúrgico que tinha “consciência social”. Lula, por sua vez, ligou para parabenizar Fernando pelo seu aniversário. FHC fez o L, não custa lembrar. Ele queria “salvar a democracia” também, com aquele que fundou o Foro de SP ao lado de Fidel Castro e passou a vida bajulando tiranos comunistas.
Meu ponto é o seguinte: há muita gente em nossa elite que só liga para o “mercado”, e não dá a mínima para as pautas de costumes, para valores e tudo mais. Esses “farialimers” enxergam FHC como estadista, mas o tucano estaria mais para um estatista, alguém que sempre viu o estado como locomotiva para a “justiça social”
GAMBÁS PERFUMADOS – São os mesmos que já se esforçam para ver Fernando Haddad como alguém moderado, equilibrado, quiçá um fiscalista responsável. Piada! Tucano adora ser ludibriado por socialista arrumadinho. Mas esquerdista com diploma em Sorbonne continua esquerdista. Petista com terno fino segue petista. Gambá com perfume francês ainda é gambá fedido.
Nesse conluio atual, a tal “frente ampla democrática”, tucanos e petistas se uniram para derrotar Bolsonaro. É uma união instável com o objetivo de expelir a verdadeira direita da cena política. Há só um detalhe: metade da população, grosso modo, tem esse viés conservador e despertou para a realidade, graças às redes sociais. Não há censura alexandrina capaz de mudar essa realidade.
O que fazer, então, com o povo? A volta da estratégia das tesouras não é possível na prática, não sem impor uma ditadura ao país. A “direita permitida” pode enganar uma elite alienada, a turma do “mercado”, gente como Arminio Fraga, Elena Landau, João Amoedo e companhia. Mas e as Tias do Zap? E os tiozões do churrasco? E os liberais de verdade, que rejeitam o globalismo e não pensam só em economia? E todos os conservadores
PETISTA ENGOMADINHO – Para essa multidão, FHC não é um estadista coisa alguma. Não passa de um petista mais engomadinho, que transformou a legalização da maconha em sua grande causa como ex-presidente.
Paulo Guedes nunca nutriu uma imagem positiva desses tucanos, nem mesmo no que diz respeito ao legado econômico. E Guedes foi o melhor ministro que já tivemos, não por acaso odiado pelos tucanos arrogantes. Guedes é respeitado pelo povo, porém.
Insisto em minha questão central: os tucanopetistas podem se digladiar em público e trocar juras de amor em privado, mas a velha tática de fingir pluralidade democrática e oposição real entre PT e PSDB não cola mais. O Brasil quer uma direita de verdade representando metade da população. Alguém como FHC não é capaz disso. O que essa turma do andar de cima pretende fazer com o povo nessa “democracia” fajuta?