Duarte Bertolini
Um dos maiores problemas do país é a segurança pública. O assunto é debatido há décadas, sem que surjam soluções. Mas há propostas que nos levam a reflexões, como o artigo que vamos transcrever abaixo, que indica uma das raízes do problema, enfocando uma questão que jamais sequer foi levantada.
O certo é que as vezes as dificuldades se eternizam por falta de novas ideias, por haver interesses corporativos em não aceitar mudanças ou simplesmente por existirem interesses e laços tão profundos e enraizados que nos impedem até mesmo de pensar seriamente sobre o assunto.
O que sei é que concordo com um slogan de uma empresa de pedágios aqui do Sul, que diz: “Se seguirmos sempre os mesmos caminhos, chegaremos sempre nos mesmos lugares e destinos”. Por isso é fundamental procurar novos caminhos.
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O PROBLEMA DA (IN)SEGURANÇA PÚBLICA
Gastão Reis Portal iG
Câmara Cascudo, antropólogo e folclorista, afirmava que o Brasil não tem problemas, apenas soluções adiadas. Quando os problemas enfim são resolvidos, costumam levar quase uma geração para chegar a bom termo, como nos casos da inflação e da reforma trabalhista.
E ainda assim enfrentam forças políticas contrárias, como as do PT em relação à trabalhista, que impulsionou a geração do emprego. É patético!
CRIME SEM CASTIGO – O gravíssimo problema da segurança pública, em especial no Rio de Janeiro, se enquadra perfeitamente no diagnóstico do arguto antropólogo.
Em evento da Representação Regional da Federação da Indústrias (Firjan), em Petrópolis, dois anos atrás, tive a oportunidade de participar de uma reunião a que estavam presentes o governador do Estado, Cláudio Castro, e os responsáveis pela direção superior da PM e da Polícia Civil.
Na ocasião levantei a questão da ineficiência estrutural das polícias fluminenses, como já havia trazido à baila em outra reunião realizada na sede da Firjan, no Rio, no Conselho de Economia, um ano antes, com as autoridades estaduais.
DESAFIO A RESOLVER – Repetidas matérias em O Globo e outros jornais de circulação nacional mostram que a questão de (in)segurança pública é corriqueira. E jamais resolvida a contento.
Foi então que resolvi estudar melhor o assunto e concluí que a escala de trabalho de 24 por 72 horas é o problema central. Por simples questão de boa lógica: quem trabalha 24 horas e folga 72 horas perde o foco na atividade que deveria ser a sua principal. E os policiais acabam exercendo outros afazeres nessas 72 horas.
Foi então que resolvi fazer um contraponto com outras forças policiais no resto do mundo. Nos quatro anos em que estudei na Universidade da Filadélfia (1977-1980), notei que a polícia era municipal, atuava sob comando do prefeito da cidade. E cumpria carga horária de 8 horas por dia. Depois, investiguei o que acontece na Europa e mesmo na América Latina, e acabei concluindo que a escala de 24 por 72 horas era mais uma jabuticaba nossa.
CRIMES INSOLÚVEIS – Este é um problema que já varou décadas sem uma solução decente. Várias reportagens em jornais como O Globo e o Estado de São Paulo, volta e meia, retornam ao tema.
No Estado do Rio de Janeiro, a taxa média de resolução de crimes oscila em torno de 20%, que é extremamente baixa; em São Paulo, atinge cerca de 50%, melhor, mas ainda insuficiente, em termos internacionais.
A outra leitura que se pode fazer do caso inaceitável do Rio de Janeiro é que o criminoso tem chance de 80% de sair ileso. Não é por acaso que a criminalidade prospera em terras fluminenses qual erva daninha.
TOLERÂNCIA ZERO – Todos nos lembramos dos tempos em que a criminalidade em Nova York era considerada insolúvel. Foi assim até que dois acadêmicos americanos publicaram uma pesquisa onde desenvolveram a teoria das janelas quebradas.
Eles forneceram a base da proposta da tolerância zero com o crime, levada adiante pelo prefeito Rudolph Giuliani, que mudou a cara de Nova York.
Apostar na política de tolerância total (ou quase) com a criminalidade é pura insanidade. No Rio de Janeiro, dar ao bandido 80% de chance de escapar é exatamente isto. No Brasil, Lula e PT vão pelo mesmo descaminho.