Pedro do Coutto
Reportagem de Fernanda Trisotto e Vítor da Costa, O Globo desta segunda-feira, com base em dados do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, acentua que o programa Bolsa Família, como está sendo executado, pode retirar três milhões de pessoas da extrema pobreza e, portanto, da fome, salvando assim uma faixa de homens e mulheres, cujo rendimento médio é de apenas R$ 208 por mês.
O economista Daniel Duque, do Ibre/FGV realizou cálculos sobre a faixa de renda envolvida sendo uma fração de 12,4 milhões sufocados pela extrema pobreza e pela miséria. A matéria analisa efeitos positivos do programa do governo Lula da Silva e coloca a hipótese de seus efeitos produzirem um crescimento do Produto Interno Bruto. Mas, acredito, o crescimento do PIB depende do nível de emprego e, logo, de um avanço na produção econômica, transformando, aí sim, a participação de maior mão-de-obra em resultado econômico nacional.
CRESCIMENTO DO PIB – A reportagem, muito boa, destaca um processo de transferência de renda. Porém, o fato é que essa transferência de renda voltada para o combate à fome, parte do Estado para um percentual da população. É positiva? Sem dúvida. Mas o efeito maior e mais decisivo para o crescimento do Produto Interno Bruto é a aceleração da atividade econômica, o que encontra um freio na alta taxa de juros, como é o caso dos 13,75% ao ano da Selic.
Observa-se na comparação colocada por Daniel Duque que três milhões de pessoas são um quarto de 12,4 milhão de brasileiros e brasileiras que se encontram numa linha dramática abaixo da própria pobreza. São, portanto, pessoas que necessitam de socorro estatal. Mas os R$ 600 por mês por família e mais de R$ 150 por criança até 6 anos de idade não são suficientes para assegurar uma elevação no consumo e, portanto, capaz de sensibilizar a cadeia produtiva, retirando-a do nível em que se encontra para um patamar capaz de acrescentar à área econômica do país.
A situação social brasileira é tão grave que quando o Estado influi para salvar da fome três milhões de pessoas, considera-se esse esforço como algo bastante positivo. E é, ainda mais dentro da realidade crítica que envolve e traduz o Brasil atual. Para o professor Marcelo Ney, diretor da FGV Social, a eficiência do novo programa só poderá ser avaliada quando os resultados concretos começarem a surgir. Os dados de 2022 são tão alarmantes que a sua modificação para melhor, na minha opinião, será decisiva. Pelo menos para salvar aqueles cuja fome é um fantasma diário em suas vidas.