Publicado em 24 de fevereiro de 2023 por Tribuna da Internet
João Pedro Pitombo
Folha
A esposa do ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), omitiu em seu currículo que vem ocupando um cargo na Secretaria de Saúde da Bahia há pelo menos nove anos, incluindo os oito anos em que seu marido foi governador do estado.
Aline Peixoto, que é enfermeira e concorre a uma vaga de conselheira no Tribunal de Contas dos Municípios, foi nomeada no dia 5 de maio de 2014 como assessora especial da Secretaria Estadual de Saúde da Bahia.
CURRÍCULO ERRADO – Ela permaneceu no cargo mesmo após Rui Costa assumir o governo da Bahia em janeiro de 2015. No mesmo período, passou a ocupar a presidência das Voluntárias Sociais, entidade sem fins lucrativos tradicionalmente liderada pela primeira-dama do estado e que atua em parceria com o governo.
O cargo na Secretaria de Saúde tem salário de R$ 4 mil, mas as gratificações podem aumentar a remuneração até em 125%, chegando a um total de R$ 9,1 mil.
No currículo enviado à Assembleia Legislativa para registrar sua candidatura à vaga de conselheira do Tribunal de Contas, Aline informou que ocupou um cargo na Secretaria de Saúde entre 2012 e 2014 e disse que a partir de 2015 assumiu a gestão das Voluntárias Sociais.
ASSESSORA-FANTASMA – Em todo o período da gestão Rui Costa, Aline sempre respondeu pelas Voluntárias Sociais e nunca disse publicamente que ocupava um cargo de assessora da secretaria. Também nunca foi citada publicamente pelos quatro secretários de Saúde como uma assessora da pasta.
O Governo da Bahia não divulga publicamente a relação de servidores estaduais. Mas a Folha confirmou que Aline Peixoto consta no quadro de servidores do estado. Também há registros de 12 diárias de viagem recebidas pela então primeira-dama no período entre 2016 e 2018, todas pagas pela Secretaria de Saúde, que somam um total de R$ 8,3 mil.
Aline foi nomeada pela primeira vez para um cargo no Governo da Bahia em junho de 2008, quando assumiu como diretora do Hospital Regional de Ipiaú, cidade do sul do estado.
SECRETÁRIO CONFIRMA – A enfermeira permaneceu no cargo até setembro de 2012, quando assumiu uma função no Hospital Geral do Estado, em Salvador. Ficou pouco menos de dois anos, até que em maio de 2014 virou assessora especial da secretaria. Na época, Rui Costa já era pré-candidato a governador da Bahia.
Secretário de Saúde do estado entre janeiro de 2015 e agosto de 2021, na gestão Rui Costa, o médico Fábio Vilas-Boas afirmou que Aline era assessora do gabinete, mas admite que ela não trabalhava na sede da secretaria.
“Ela trabalhava nos projetos que a gente fazia. Tem vários projetos em interface com as Voluntárias Sociais na área de saúde, como os mutirões de saúde”, afirmou o ex-secretário, destacando que, assim como a ex-primeira-dama, outros servidores trabalhavam fora da sede.
WAGNER CRITICA – A disputa pela vaga no Tribunal de Contas dos Municípios abriu uma crise entre os principais caciques do PT da Bahia: o ministro Rui Costa e o senador Jaques Wagner, ambos ex-governadores.
Na semana passada, Jaques Wagner disse pela primeira vez publicamente, em entrevista ao portal Metro1, que não concorda com a indicação da ex-primeira-dama para o cargo de conselheira do Tribunal de Contas.
O governador Jerônimo Rodrigues (PT) se esquivou da polêmica: “Eu, na condição de governador, não posso tomar partido porque essa é uma vaga da Assembleia Legislativa. [Jaques] Wagner é senador e tem liberdade para se posicionar”, disse o petista na semana passada.
MINISTRO PRESSIONA – O ministro Rui Costa tem atuado nos bastidores pela indicação da sua esposa para o cargo, que é vitalício tem salário mensal de R$ 41,8 mil. A iniciativa, contudo, gerou desconforto e constrangimento entre deputados aliados, além de críticas de eleitores petistas.
A bancada do PT também é um foco de resistência, já que a ideia inicial era indicar para o cargo um deputado estadual da federação que inclui PV e PC do B. A manobra garantiria uma vaga na Assembleia para o ex-deputado petista Marcelino Galo, que não conseguiu se reeleger.
A escolha do próximo conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios pela Assembleia Legislativa, que aconteceria na semana do Carnaval, acabou sendo adiada e deve acontecer dentro de 10 dias. As sabatinas com os candidatos serão nos dias 6 e 7 de março. O dia da votação ainda não foi definido.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Esta reportagem, enviada por Armando Gama, desperta uma dúvida. É possível confiar num governo que tem um político como Rui Costa como chefe da Casa Civil? Isso traz saudades de Itamar Franco, que demitia qualquer ministro acusado de corrupção e depois readmitia, caso ele provasse a inocência. Mas isso foi no tempo em que ainda havia políticos no Brasil. (C.N.)