terça-feira, novembro 29, 2022

Argumentos de relatório golpista do PL apareceram antes, numa live do argentino


Cidadão Consumidor

“Consultor” argentino é ligado à família de Jair Bolsonaro

Renata Galf e Paula Soprana
Folha

O partido do presidente Jair Bolsonaro, o PL, usou uma diferença entre os arquivos de urnas mais antigas e as mais novas como seu principal argumento para pedir a invalidação de parte dos votos do segundo turno, em ação apresentada na última terça-feira (22) ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Antes disso, uma infinidade de outras teorias conspiratórias sobre as urnas, junto a materiais com supostas comprovações de fraude, já circulavam.

A tese de que apenas o modelo mais recente seria confiável começou a ser propagada dias após o segundo turno e teve como principal porta-voz o consultor político argentino Fernando Cerimedo.

PONTOS DE CONEXÃO – Além do questionamento baseado no modelo da urna, há diferentes pontos de conexão entre o conteúdo da peça protocolada pelo PL no TSE e as afirmações do argentino em diferentes transmissões e postagens. Mas não há comprovação de que Cerimedo e a equipe contratada pelo partido tenham tido alguma ligação ou contato.

Poucos dias antes da primeira live de Cerimedo, o relatório usado por ele já circulava sem autoria identificada em grupos de conversa. Inicialmente, a investida contra as urnas mais antigas era baseada em análises estatísticas. Nas semanas seguintes, outros elementos foram surgindo.

Em 14 de novembro, por exemplo, Cerimedo afirmou que havia diferença entre os logs das urnas antigas e as urnas novas. O vídeo dizia que “logs falsos foram encontrados nas urnas anteriores a 2020” e que, por outro lado, “nas urnas de 2020 não foram observados os logs piratas”. Falava ainda em um “código pirata”.

DIÁRIO DE BORDO – O log da urna é uma espécie de “diário de bordo” de tudo que aconteceu nela, enquanto o código é o programa que dá os comandos para ela funcionar.

Uma diferença entre os logs gerados pelas urnas mais novas – o modelo 2020 – e os demais modelos foi justamente o argumento utilizado pelo partido de Bolsonaro para pedir a invalidação dos votos de parte das urnas, mas apenas no segundo turno.

A ação foi baseada em um relatório do Instituto Voto Legal (IVL), contratado pelo PL. Mas o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, rejeitou na última quarta-feira (23) a ação do PL por litigância de má-fé (exercício de maneira abusiva do direito de recorrer à Justiça).

Apesar de a situação relatada pelo PL ter ocorrido nos logs de ambos os turnos, o PL pediu a invalidação apenas de votos do segundo turno.

ALEGAÇÃO FALSA – Além disso, como mostrou a Folha, diferentemente do apontado no relatório do PL, a limitação relatada para questionar as urnas antigas não impede a identificação e a fiscalização delas, conforme apontam especialistas em computação.

Um outro ponto disseminado por Cerimedo apareceu com alterações no relatório do PL. O argentino divulgou que teria conseguido identificar, a partir dos logs das urnas, em quem cada eleitor teria votado.

Diferentemente do que alegou o argentino, o que aparece nos logs, conforme apontou a Justiça Eleitoral, é o registro do nome de alguns eleitores, sem que haja nenhuma informação sobre o voto dado. Isso pode acontecer, por exemplo, quando a urna trava e precisa ser religada.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Já está mais do que comprovado que são totalmente infundadas as diversas alegações de fraudes na votação e apuração. No entanto, o manifestantes bolsonaristas continuam diante dos quartéis, à espera de um sonho que não se concretizará. Isso, nem Freud explica. (C.N.)