Eliane Cantanhêde
Estadão
Na reta final da campanha, cresce a expectativa de vitória do ex-presidente Lula, mas o mais importante é que aumentam as chances de uma decisão já no domingo. Com 52% dos votos válidos no Ipec, Lula pode ter entre 50% e 54%, no intervalo da margem de erro, ou seja, o suficiente para fechar a eleição no primeiro turno, sem necessidade de um segundo.
O recuo de Ciro Gomes, de 7% para 6%, é um indício de que o voto útil pró-Lula, deflagrado por artistas, líderes e tucanos, começou a decantar para o eleitorado e tende a ser decisivo na eleição. É por isso que Ciro, numa demonstração de fraqueza, saiu, nesta segunda-feira, 26, em defesa da própria candidatura. Ele sabe que Caetano Veloso não é o seu único eleitor a aderir ao voto útil…
VOTO ÚTIL OU ENVERGONHADO – Acabou o treino, chegamos ao “vamos ver”, quando o eleitor passa a pensar e a discutir a eleição dia e noite, preparando-se para depositar na urna eletrônica o voto melhor para ele e também para o País. Esse mergulho na reta final favorece o candidato que lidera as pesquisas, neste ano, Lula.
Alguns números impressionam na pesquisa Ipec de 26/9. Não mais pela estabilidade, marca da campanha, mas, por exemplo, pela coincidência entre os votos espontâneos (em que o eleitor cita o seu candidato) e estimulados (quando lhe apresentam os nomes). Lula tem 48% nas duas opções e Bolsonaro mantém 31% também em ambas. Leia-se: os votos estão consolidados e muito dificilmente, sem uma hecatombe, as intenções de voto deles sofrerão solavancos. E, no segundo turno, dá 54% a 35%.
Se houver surpresas a favor de Lula na última hora, serão pelo voto útil e pela atração natural do favorito. Se forem a favor de Bolsonaro, serão a confirmação do “voto envergonhado”, como setores bolsonaristas costumam anunciar, sem comprovar, e mudanças nos maiores eleitorados.
OUTRAS HIPÓTESES – Se essas surpresas forem contra Lula, serão por abstenção, já que seu eleitor é mulher, mais pobre, menos escolarizado e do Nordeste, os maiores eleitorados e os mais passíveis de não comparecimento, por causa de filhos, falta de dinheiro, longas distâncias, ou condições para enfrentar, por exemplo, uma forte chuva. No caso de Bolsonaro, não estão previstas más surpresas, além das que já tem.
Lula atingiu seu maior índice entre mulheres, católicos, quem ganha até dois salários mínimos, os que têm até o ensino médio e no Sudeste, fundamentais na eleição, enquanto Bolsonaro só teve seu pico de intenções de voto num único segmento: o dos evangélicos – 50%.
Só com evangélicos, ele não vai a lugar nenhum, até porque o Brasil continua sendo majoritariamente católico.