domingo, agosto 28, 2022

Ao negar que há fome no país, o candidato Jair Bolsonaro agiu contra si próprio

 

Bolsonaro vive em uma realidade paralela na qual a fome não existe

Pedro do Coutto

Na tarde de sexta-feira, em evento na Associação Comercial de São Paulo, o presidente Jair Bolsonaro negou que haja fome no Brasil na dimensão que se tem anunciado, apesar do inquérito nacional sobre insegurança alimentar ter revelado que 33 milhões de brasileiros e brasileiras estão passando fome todos os dias e que 60 milhões vivem na dúvida se no dia seguinte terão ou não comida na mesa.

Na minha opinião, Jair Bolsonaro atrasou a bola sem ver que o goleiro estava adiantado e com isso fez um gol contra o seu próprio time. A existência da fome no Brasil tem se tornado um tema constante de pesquisas, inclusive por organismos internacionais, causando reflexos extremamente negativos.

PERDA DE VOTOS – Reportagem de Jennifer Gularte, Jussara Soares, Fernanda Trisotto, Camila Zarur, Julia Noia, Ketlin Barbosa e Luan Marinato, O Globo deste sábado, expõe o tema com muita clareza e que culminou com um lance que só pode ter tirado votos do presidente da República.

Não sei o destino dos votos perdidos, mas eles existiram e nesta altura da campanha eleitoral, quando o enigma é se Lula vencerá no primeiro turno, em 2 de outubro, ou se haverá um segundo turno, no dia 30, é o foco principal. Assim, um ponto de diferença pode definir o destino das urnas do primeiro domingo de outubro.

O lance, portanto, não foi positivo para Bolsonaro que dá a impressão de que  dentro de si existe uma realidade própria que colide, muitas vezes, com a realidade dos fatos concretos. O fenômeno tem se repetido por diversas vezes, como ficou claro em sua entrevista na segunda-feira, na TV Globo.

JUSTIFICATIVA – Enquanto Lula investe no combate à fome, Bolsonaro nega que a mesma exista concretamente, principalmente na dimensão que o ex-presidente coloca hoje. O presidente da República, entretanto, afirma por outro lado que o Auxílio Brasil que aumentou de R$ 400 para R$ 600 foi adotado por ele exatamente para combater a fome que certos setores destacam.

Bolsonaro diz que o critério internacional para definir o estado de extrema pobreza, incluindo a fome, foi classificado para os segmentos que recebem por dia US$ 1,90. Esse patamar, frisou o presidente, é ultrapassado pelo valor do Auxílio Brasil que é de R$ 20 por dia.

SUBIDA DOS PREÇOS – O tema da fome é difícil para o governo enfrentar, pois a consequência da política traçada pelo ministro Paulo Guedes tem a fome como uma de suas consequências esperadas: os preços dos alimentos sobem todos os dias nos supermercados e o salário mínimo só sobe uma vez por ano no mês de janeiro.

O preço dos alimentos atinge em cheio o próprio governo que coloca em prática a política da concentração de renda, como deseja Paulo Guedes, sem que o presidente da República, na minha opinião, perceba o que está se passando. É o tal caso, a realidade própria de Bolsonaro é uma, de acordo com a sua visão política e social, mas a verdade que se impõe é outra. A diferença entre as duas distâncias deverá ser confirmada nas urnas deste ano.

POPULARIDADE DIGITAL –  Excelente a matéria de Júlia Barbon, Folha de S. Paulo deste sábado, mostrando o amplo domínio da direita na ocupação de espaços políticos nas redes digitais. A vantagem cresce ainda mais quando se trata de publicidade de candidatos que concorrem à Câmara Federal.

Interessante é, aliás , compararmos a presença de mensagens nas redes sociais, com o resultado efetivo das urnas de outubro, já que para deputados e senadores não há segundo turno. Vamos ver se as mídias digitais serão mais fortes do que o horário eleitoral que começou no último dia 26 e terminará em 26 de setembro.