De certa forma, o bolsonarismo representa o fim da Nova República. Nos próximos anos, um novo país nascerá
Por Pedro Doria (foto)
Na próxima segunda-feira, o grupo Derrubando Muros — de que faço parte — lançará um e-book gratuito que leva o título “Uma agenda inadiável”. É uma proposta de caminhos para o Brasil. Perante um presidente da República golpista, a defesa da democracia se torna prioritária nesta eleição. Só que isso afasta das conversas durante a campanha um tema também fundamental: o país está num buraco, com inúmeras crises brotando. É preciso ter um projeto, e é a isso que o DM se propôs. O grupo é apartidário, dele faz parte gente com inclinações políticas diversas, que votará em nomes distintos para a Presidência dentre os candidatos democratas. Pelo menos três dos temas interessam diretamente ao Brasil que se preocupa com o futuro digital.
Quem assina cada capítulo é um time de especialistas, pessoas realmente entre os melhores em suas áreas. Segurança ficou a cargo de Ilona Szabó, Melina Risso e Joana Monteiro, do Igarapé. Horácio Lafer Piva se debruça sobre a indústria do futuro. Pedro Hallal, Eduardo Jorge, Robson Capasso e Miguel Lago pensam a Saúde.
Silvio Meira, criador do Porto Digital em Pernambuco, nos desafia a imaginar o mundo “figital” que se aproxima — quando o digital sai do virtual para se misturar com o real. Físico. O Estado brasileiro ainda não é digital, apesar das ilhas de excelência. Estamos ficando para trás. Para ele, os investimentos urgentes são três. Formar mais e mais gente nas áreas técnicas. Fazer com que essa estratégia de desenvolvimento de pessoas seja também uma estratégia de combate à desigualdade. E envolver o setor privado, fomentando investimento em inovação e empreendedorismo.
Pois é, empreendedorismo é chave para que o país pegue as diversas ondas de transformação por que o mundo passa. Fersen Lambranho, CEO da GP Investments, e Juliano Seabra, do Banco Interamericano de Desenvolvimento, são os responsáveis por esse capítulo. A palavra ainda soa, a alguns, como algo a combater, como se nas periferias brasileiras não estivesse já brotando uma rica cultura de criação de negócios originais.
Apenas 1% das empresas que empregam consegue crescer mais de 20% ao ano por três anos seguidos. É pouco demais, e isso está ligado ao drama do baixo crescimento brasileiro. Para essa pauta andar, uma reforma tributária que favoreça quem está começando um negócio é fundamental. Hoje, o sistema em essência pune o empresário que consegue crescer logo que começa a levantar voo. Mas não basta — será preciso, também, educação empreendedora e apoio do BNDES para empresas que demonstram alta performance.
A ambição aumenta se quisermos que o Brasil se torne realmente capaz de inovar. Nesse capítulo, inovação, Fersen se junta a Roberto Alvarez (Federação Global de Conselhos de Competitividade), Juan Carlos Castillo-Rubio (Adestech) e Robson Capasso (Stanford). Um dos passos é internacionalizar as universidades brasileiras — trazer mais estrangeiros para elas. Reduzir riscos para empreendedores, incluindo aí os trabalhistas. Reduzir riscos, também, para quem está na gestão pública. Para inovar, alguns dos investimentos darão errado, e isso é natural. Uma nova cultura terá de ser pactuada com os tribunais de contas: separar apostas legítimas dos desvios por corrupção.
De certa forma, o bolsonarismo representa o fim da Nova República. Nos próximos anos, um novo Brasil nascerá. Não custa sonhar alto.
O Globo