Forças de Moscou começam a entrar na periferia de Sievierodonetsk, na região do Donbass, dizem autoridades. Prefeito afirma que uma batalha intensa está em curso na cidade, "completamente destruída" por bombardeios.
Tropas russas começaram a entrar na periferia de Sievierodonetsk, cidade-chave na região do Donbass, no leste da Ucrânia, disseram autoridades locais nesta segunda-feira (30/05).
À agência de notícias Associated Press, o prefeito Oleksandr Striuk afirmou que a cidade está prestes a se transformar numa segunda Mariupol, em referência à cidade no sul da Ucrânia que passou quase três meses sob o cerco russo até que os últimos combatentes ucranianos se rendessem.
Striuk disse que a eletricidade e as comunicações foram cortadas em Sievierodonetsk, que foi "completamente destruída" por bombardeios russos. Uma batalha intensa está em curso nas ruas. Combatentes ucranianos tentam expulsar os invasores russos, que avançaram algumas quadras em direção ao centro da cidade, afirmou.
"O número de vítimas está aumentando a cada hora, mas não conseguimos contar os mortos e feridos em meio aos combates de rua", relatou o prefeito.
Segundo ele, de 12 mil a 13 mil dos antigos 100 mil residentes permaneceram na cidade e se abrigam em porões e bunkers para escapar dos bombardeios russos. Striuk estima que 1.500 civis morreram na localidade desde o início da guerra, em 24 de fevereiro – vítimas tanto de ataques russos quando da falta de medicamentos ou tratamento.
Forças russas entraram em Sievierodonetsk após tentarem, sem sucesso, cercar a cidade. O Exército ucraniano afirmou que tropas de Moscou estavam reforçando suas posições no nordeste e sudeste da cidade e trazendo equipamento e munição adicional para intensificar sua ofensiva. Segundo Kiev, mais de 90% dos prédios de Sievierodonetsk estão danificados.
Depois de não conseguir capturar Kiev em março, a Rússia anunciou que o foco de sua "operação militar especial", como denomina a guerra de agressão contra a Ucrânia, era agora conquistar toda a região industrial do Donbass – e Sievierodonetsk é fundamental para isso. Situada a cerca de 140 quilômetros da fronteira com a Rússia, a cidade transformou-se nos últimos dias no epicentro dos combates no Donbass.
Serhiy Haidai, governador da província de Lugansk, onde Sievierodonetsk está localizada, afirmou que forças russas também estão avançando em direção à Lysychansk. Ambas as cidades estão às margens do estrategicamente importante rio Siverskiy Donetsk e são as últimas grandes áreas sob controle ucraniano em Lugansk.
Capturar as duas cidades daria a Moscou o controle efetivo sobre a província de Lugansk, algo que o Kremlin poderia declarar como uma vitória na guerra. Mas, ao focar seus esforços na pequena cidade de Sievierodonetsk, a Rússia pode estar deixando outras áreas livres para contra-ataques da Ucrânia, segundo analistas.
Em 2014, separatistas pró-Rússia proclamaram Lugansk e a província adjacente de Donetsk, também no Donbass, como "repúblicas populares" independentes. Neste domingo, o ministro do Exterior russo, Serguei Lavrov, afirmou à emissora Frencht TF1 que "a prioridade incondicional de Moscou é a liberação das regiões de Donetsk e Lugansk", ressaltado que a Rússia as vê como "Estados independentes".
Pressão sobre a região de Kharkiv e no sul
Neste domingo, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, visitou o leste de seu país pela primeira vez desde o início da invasão russa. Ele esteve em Kharkiv, a segunda-maior cidade da Ucrânia, de cujos arredores combatentes ucranianos expulsaram forças russas há algumas semanas.
A Rússia, no entanto, continua bombardeando Kharkiv, e explosões foram ouvidas pouco depois da visita de Zelenski. O presidente afirmou que as tropas russas ainda controlam um terço da área ao redor da cidade.
A pressão russa também se mantém no sul da Ucrânia. Um porta-voz do Ministério da Defesa russo afirmou que um ataque ao estaleiro no porto de Mykolaiv destruiu blindados ucranianos ali estacionados.
Na região da ocupada Kherson, autoridades russas afirmaram que grãos da colheita do ano passado estão sendo entregues a compradores russos. A Ucrânia acusou a Rússia de saquear grãos de territórios controlados por suas forças, e os Estados Unidos têm alegado que Moscou está pondo em risco o abastecimento alimentar global ao impedir a Ucrânia de exportar sua colheita.
Em Mariupol, um assessor do prefeito ucraniano afirmou no domingo que, depois que assumiram o controle total sobre a cidade, forças russas empilharam os corpos de pessoas mortas dentro de um supermercado. Ele divulgou uma foto no Telegram que mostra a suposta cena. Segundo a agência Associated Press, não foi possível verificar a autenticidade da imagem.
Deutsche Welle