quinta-feira, fevereiro 24, 2022

Bolsonaro retoma tom golpista e avisa que ministros do STF não devem “esticar a corda”

Publicado em 23 de fevereiro de 2022 por Tribuna da Internet

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Bolsonaro atacou Lula e o perigo de “flertar com o comunismo”

Ingrid Soares

O presidente Jair Bolsonaro (PL) aproveitou a participação na CEO Conference do BTG Pactual, nesta quarta-feira (23/02), para exaltar o governo dele, atacar perante o mercado o principal opositor político, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e reforçar críticas aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Na abertura do discurso, Bolsonaro subiu o tom da voz e citou eventuais medidas que o petista pretende implementar caso seja eleito, como a revogação da autonomia do Banco Central, a revogação da reforma trabalhista, o retorno do imposto sindical e interferência nos preços dos combustíveis.

NÃO TEM PROBLEMA? -“Há algumas diferenças entre nós ou algum dos senhores vai falar que está tudo resolvido, não tem problema. O que vier a gente vai interagir e o Brasil vai para frente?””, questionou.

Ele ainda vinculou o PT à liberação de drogas e do aborto. “Se fizéssemos campanha para retirar as armas do cidadão de bem, se desmilitarizarmos as polícias militares, se extinguirmos os colégios cívico-militares, se liberarmos as drogas no Brasil, se legalizarmos o aborto, se voltarmos a nos aproximar de Cuba e de outras ditaduras pelo mundo. Apenas faço essas perguntas porque o outro lado defende tudo isso daí. Não é um debate. Se isso tudo fosse botado em prática, como estaria a economia do Brasil?”. “Isso não representa nada para a classe pensante no Brasil? Ou podemos voltar a flertar com o comunismo?”.

Sobre a criação de empregos, declarou que o país terminou 2020 no “zero a zero”, mas que “no ano seguinte o governo criou aproximadamente 3 milhões de empregos”.

“ESSES BANDIDOS” – O presidente voltou a instigar investidores sobre “como seria se o outro lado estivesse na minha cadeira”. E perguntou: “Isso já não é o suficiente para pessoas com responsabilidade tomar uma posição? E não é só com a economia não, é com a vida, com a liberdade, com o futuro do seu país. Sabemos o que vai acontecer com a nossa pátria se esses bandidos voltarem para lá”, bradou.

Em seguida, disparou críticas indiretas ao Supremo. “E o que os senhores acham, se a nossa liberdade está ameaçada ou não por parte de alguns atores aqui no Brasil? Geralmente, quem busca tolher direitos da população e partir para o regime mais fechado, geralmente, é o chefe do Executivo. Aqui, acontece exatamente o contrário, se não é o chefe do Executivo resistir, já estaríamos com toda certeza em outro regime nesse momento. Está em jogo nossa liberdade, nossa economia”, afirmou, com narrativa semelhante a de mais cedo, em evento no Planalto, onde insinuou, sem citar nomes, “resistir” a um “regime de força” que visa “que duas ou três pessoas no Brasil passem a valer mais que todos nós juntos”.

“QUATRO LINHAS” -Ao lado do ministro da Economia, Paulo Guedes e Ciro Nogueira, da Casa Civil, o presidente disse que os magistrados estão “jogando fora das quatro linhas e enviou recado aos mesmos para não “esticar mais a corda”.

“Não vai ser o chefe do Executivo que vai jogar fora das quatro linhas. Mas por favor, não vocês, dois ou três no Brasil, não estiquem essa corda. Vocês vão ter que vir para dentro das quatro linhas, afinal de contas, todos nós temos limites. O Ciro tem, o Guedes tem. Eu tenho limites. Alguns poucos, dois ou três acham que não tem limites e ficam brincando o tempo todo de nos controlar, de desrespeitar a nossa Constituição, de ferir a nossa liberdade de expressão, de prender deputado”, disse em referência à decisão do ministro Alexandre de Moraes. No ano passado, o magistrado mandou prender o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) após ataques e ameaças ao Supremo, e também à decisão do ex-ministro do TSE Felipe Salomão, que suspendeu repasses financeiros a páginas na internet que propagam fake news.

MAIS ATAQUES – “Por mais errado que ele tenha sido em suas palavras e manter cidadão brasileiro que pode ter errado em suas palavras com tornozeleira eletrônica, em desmonetizar páginas da internet, em querer botar freio na nossa liberdade de discutir eleições pelas mídias sociais. Onde vamos chegar? De termos um sistema eleitoral que você pode não comprovar que é fraudável, mas também não pode comprovar que não é fraudável”, alegou.

Na economia, o presidente falou sobre a inflação e justificou ainda que outros reajustes ao consumidor final foram amortecidos pela queda na cotação do dólar.

“O dólar, ao bater R$ 5, compensa o aumento do brent lá fora, então estamos chegando a 50 dias sem reajuste do combustível. Eu não tenho como interferir, não vou interferir, mas eu acho que vai continuar este preço, apesar de um pouco alto e de termos que discutir a composição do preço do combustível”, continuou.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG 
– Bolsonaro discursando é um espetáculo esquisito, porque ele tem um senso de humor diferente, em que a tentativa de ironia se torna um ataque direto. O discurso foi longo e surpreendente, com a volta do velho tom golpista, que novamente entra em viés de exacerbação. Aonde isso vai parar? Nem mesmo Bolsonara sabe(C.N.)